Europa adia acordo Mercosul-UE e empurra decisão para 2026
Impasse político e resistência no campo adiam a conclusão de um dos maiores tratados comerciais negociados há décadas
Manifestantes queimam pneus durante um protesto de agricultores europeus em frente ao local da Cúpula da UE em Bruxelas. (Foto - Marius Burgelman/AP)
19deDezembrode2025ás10:05
Não foi dessa vez. Um dos acordos comerciais mais aguardados das últimas décadas, a assinatura do Acordo de Livre Comércio entre o Mercosul e a União Europeia (UE), que o governo brasileiro previa para sábado (20), em Foz do Iguaçu (PR), foi adiada para janeiro de 2026.
A decisão foi anunciada nesta quinta-feira (18) pela presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, diante da escalada de pressões e protestos de agricultores em países do bloco europeu, que exigiram a retirada do acordo, preocupados com possíveis impactos econômicos.
Aos jornalistas, Ursula afirmou estar “confiante” de que conseguirá o apoio necessário para a assinatura do acordo comercial entre a União Europeia e o Mercosul em janeiro.
Na mesma linha, a primeira-ministra da Itália, Giorgia Meloni, pediu mais tempo — de uma semana a um mês — para dialogar com agricultores italianos e viabilizar o acordo no início de 2026.
Já o presidente da França, Emmanuel Macron, adotou um tom mais cauteloso e disse esperar que o adiamento do acordo seja suficiente para atender às condições defendidas pelo governo francês.
O tratado, que estava em negociação há mais de 25 anos e havia sido politicamente concluído no fim de 2024, tem potencial para criar uma das maiores zonas de livre comércio do mundo, envolvendo mais de 700 milhões de pessoas e reduzindo tarifas em produtos estratégicos entre os países do bloco do Mercosul (Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai) e a União Europeia.
Protecionismo
Fontes europeias confirmaram que a assinatura foi adiada porque alguns Estados-membros da União Europeia, em especial França e Itália, solicitaram mais tempo para tratar de preocupações internas, principalmente relativas ao eventual impacto que produtos agrícolas sul-americanos podem ter sobre a produção europeia.
A primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, afirmou que apoiaria o acordo assim que fossem dadas respostas satisfatórias aos agricultores do país, condicionando o aval final à adoção de garantias adicionais.
A própria Ursula von der Leyen levou a proposta de adiamento aos líderes europeus na cúpula desta quinta-feira, argumentando que mais diálogo seria necessário antes da assinatura.
A data exata em janeiro ainda não foi oficialmente definida. A expectativa é que, caso as preocupações internas sejam tratadas, o processo avance ao longo do início de 2026, incluindo as etapas de aprovação nas instâncias europeias.
Uma das reclamações mais recorrentes de produtores do bloco europeu é que as exigências sobre o processo produtivo em países como o Brasil são consideradas menos rígidas do que as da Europa, o que, segundo esses setores, tornaria a disputa desigual.
Balde de água fria
O adiamento representa um revés diplomático para o bloco sul-americano e para o governo brasileiro, que vinha pressionando pela assinatura antes do fim de 2025. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegou a afirmar que o acordo seria assinado em 20 de dezembro e, posteriormente, declarou que não pretendia estender as negociações além desse prazo.

Ainda assim, após conversas com a líder italiana, Lula recuou de seu ultimato e aceitou a decisão de postergar a cerimônia.
A notícia também provocou reação de setores europeus favoráveis ao acordo, como indústrias da Alemanha e da Espanha, que consideram o tratado essencial para diversificar mercados e fortalecer laços comerciais em um cenário global de protecionismo crescente.
Representantes desses setores lamentaram o adiamento, afirmando que a decisão enfraquece a credibilidade da União Europeia como parceira comercial estável e pode atrasar oportunidades de crescimento econômico e geração de empregos ligados ao comércio.
Porta de entrada
Para o agronegócio brasileiro, que vinha tratando o acordo como uma porta de entrada para o mercado europeu, o adiamento reforça um cenário de incerteza.
O pacto permitiria a redução de tarifas para uma série de produtos brasileiros, como carne, açúcar, etanol, soja e derivados, com potencial de ampliação das exportações e maior integração às cadeias globais de valor.
Por outro lado, as exigências de salvaguardas e cláusulas adicionais, vistas como mecanismos de proteção aos produtores europeus, já vinham sendo criticadas por setores do agro brasileiro por reduzir as vantagens comerciais do acordo.
Ainda assim, a expectativa de parte do setor é que, com negociações adicionais e possíveis ajustes em pontos sensíveis à agricultura, o texto possa avançar nos próximos meses, permitindo que Mercosul e União Europeia iniciem o processo de ratificação ao longo de 2026.
O próximo trâmite pode envolver a ratificação em diferentes instâncias europeias, inclusive Parlamentos nacionais, a depender do formato jurídico final do acordo.
Também há expectativa de que governos e representantes comerciais negociem acordos paralelos sobre salvaguardas e fundos de apoio a setores sensíveis, o que pode facilitar a aprovação final do pacto.








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