Vai ter greve dos caminhoneiros? Entidades se dividem sobre paralisação
Anúncio de mobilização expõe falta de consenso entre lideranças e levanta preocupação no agro por possíveis impactos
O desembargador aposentado Sebastião Coelho e o líder da União Brasileira dos Caminhoneiros (UBC), conhecido como Chicão Caminhoneiro, anunciaram que devem entrar com uma ação judicial pedindo a legalização de uma greve geral da categoria, marcada para esta quinta-feira (04).
O anúncio foi feito em um vídeo da dupla em Brasília, publicado nas redes sociais.
A categoria cobra melhorias como estabilidade contratual, cumprimento de leis trabalhistas, revisão do marco regulatório do transporte de cargas e aposentadoria especial após 25 anos de atividade comprovada.
“Queremos suporte jurídico para o ato, para que transcorra na mais absoluta legalidade”, disse Chicão no vídeo. Os líderes negam viés político do ato.
Anistia?
No entanto, um outro vídeo do desembargador, postado dias atrás em seu perfil do Instagram, segue em direção oposta.
“Paralisação. Foi esse o caminho que nos restou. Já fizemos tudo o que estava ao nosso alcance sem resultado. Qual o motivo desse ato? A anistia, ampla, geral e irrestrita, para todos os do 8 de janeiro e para o presidente Bolsonaro, que representa a todos. O destinatário desta paralisação é o Congresso Nacional, que está de costas para o povo brasileiro. Os únicos setores que não podem parar são os bombeiros, hospitais e ambulâncias, o resto tudo pode parar”, afirmou Coelho.
“Todas as ditaduras contam com o respaldo do Judiciário para dar verniz de legalidade, até quando vamos ficar de braços cruzados esperando nosso país afundar enquanto Bolsonaro está preso?”
Reação e divisão
Apesar do anúncio, há forte divisão entre entidades representativas. A Confederação Nacional dos Transportadores Autônomos (CNTA) e outras lideranças históricas do transporte rodoviário afirmaram não ter sido consultadas oficialmente e negaram que a greve esteja “no radar da categoria como mobilização nacional”.
Em algumas regiões, como a Baixada Santista, cooperativas locais rejeitaram publicamente a paralisação, alegando falta de consenso, ausência de assembleias e risco à imagem do setor.
Riscos para o agro
Se a paralisação alcançar adesão significativa, a ruptura nas estradas pode gerar impacto direto no escoamento de grãos, insumos agrícolas, fertilizantes, defensivos e demais produtos industriais e agrícolas.
Esse cenário coloca o agro em alerta: com o transporte de cargas comprometido, contratos de exportação e entregas internas podem atrasar, elevando custos logísticos e pressionando preços.

Além disso, a escassez de caminhoneiros — tema debatido nos últimos anos — intensifica a vulnerabilidade da cadeia logística. O setor sofre com a queda no número de motoristas autônomos, envelhecimento da frota e aumento dos custos operacionais, fatores que já vinham pressionando a oferta e a remuneração do transporte rodoviário no campo.
De olho
Com a proximidade da data anunciada para a greve, as próximas horas devem ser decisivas: será importante acompanhar se outras lideranças e sindicatos aderem oficialmente à paralisação ou se haverá um recuo diante da falta de consenso.
A mobilização parece depender da adesão espontânea de motoristas autônomos e regionais, o que pode limitar seu alcance nacional.
Caminhoneiros de todo o país pararam o Brasil em 2018, durante 10 dias. À época, o protesto foi promovido contra os reajustes frequentes nos preços dos combustíveis, especialmente do óleo diesel. A greve causou grandes impactos, incluindo desabastecimento de combustíveis e alimentos.
A paralisação só teve fim após Michel Temer (MDB), presidente à época, aceitar acolher algumas das exigências da classe.








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