Preços dos ovos recuam qual o cenário para o produtor?

Ovos mais baratos no mercado, mas a conta na granja preocupa

Preços dos ovos recuam qual o cenário para o produtor?
Ilustrativa

Para quem vai ao supermercado, a notícia parece boa. Pela segunda semana seguida, os preços dos ovos estão em queda, um alívio para o bolso do consumidor que busca uma das fontes de proteína mais completas e acessíveis. No entanto, para o produtor rural, essa desvalorização acende um sinal de alerta.

O cenário descrito pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) revela uma realidade complexa, onde a dificuldade de escoar a produção pressiona as margens e exige um jogo de cintura cada vez maior. A queda nos valores, que chega a 8% em algumas regiões, não é um fato isolado, mas sim o resultado de uma combinação de estoques em alta e um ritmo de vendas mais lento, que desafia a sustentabilidade da atividade avícola.

Entendendo a queda nos preços dos ovos

A dinâmica do mercado é regida pela lei da oferta e da procura, e no setor de avicultura de postura não é diferente. Quando a quantidade de ovos disponível para venda é maior do que a demanda dos consumidores, os preços tendem a cair.

Nas últimas semanas, o ritmo de vendas diminuiu, fazendo com que os estoques nas granjas começassem a se acumular. Com mais produto parado, o avicultor se vê em uma posição delicada. Para não perder a produção, já que os ovos são um produto perecível, ele precisa negociar e, muitas vezes, ceder nos preços para garantir que a mercadoria chegue à mesa do consumidor. Essa pressão é sentida em toda a cadeia, desde o pequeno produtor até as grandes cooperativas. A consequência direta é a redução da receita, que acontece em um momento em que os custos de produção continuam sendo um grande desafio.

O custo de produção que não dá trégua

Enquanto o preço da dúzia de ovos cai na ponta final, os custos para produzi-la dentro da granja seguem pressionados. O principal componente do custo na avicultura de postura é a alimentação das aves, que corresponde a uma fatia significativa do investimento. Ingredientes como milho e farelo de soja são a base da ração e seus preços são voláteis, influenciados pelo mercado global, clima e safra. Qualquer variação para cima nesses insumos impacta diretamente a rentabilidade do produtor. Além da alimentação, outros fatores pesam na planilha de custos e precisam ser constantemente monitorados pelo avicultor.

  • Alimentação das aves, principalmente milho e farelo de soja;
  • Sanidade do plantel, incluindo vacinas e medicamentos;
  • Mão de obra especializada para o manejo diário;
  • Custos com energia elétrica para climatização e equipamentos;
  • Manutenção de instalações e reposição de matrizes.

Essa lista mostra que a atividade é complexa e exige uma gestão financeira rigorosa. Quando o preço de venda dos ovos não acompanha esses custos, o produtor pode acabar operando com margens muito apertadas ou até mesmo no prejuízo, comprometendo a saúde do negócio a longo prazo.

Ovos como termômetro do poder de compra

A demanda por ovos também serve como um indicador da saúde econômica da população. Sendo uma fonte de proteína de alta qualidade e custo relativamente baixo em comparação com outras carnes, os ovos são um alimento fundamental na mesa dos brasileiros. Segundo dados da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), o consumo per capita no Brasil tem crescido consistentemente, mostrando a importância do produto. No entanto, um ritmo de vendas mais lento pode sinalizar que o poder de compra do consumidor está mais restrito. Em momentos de orçamento apertado, as famílias reavaliam seus gastos, e isso pode refletir em uma procura menor no varejo, gerando o efeito cascata que chega até as granjas. Portanto, acompanhar o mercado de ovos é também uma forma de entender o comportamento do consumidor e a economia de forma mais ampla.

Estratégias para navegar em um mercado volátil

Diante de um cenário de preços em baixa, o produtor precisa focar na eficiência e na gestão estratégica para manter a competitividade. Não é possível controlar o preço de venda, mas é possível atuar dentro da porteira para otimizar processos e reduzir custos. Melhorar a conversão alimentar, ou seja, a eficiência com que as aves transformam ração em ovos, é um caminho fundamental.

Além disso, a gestão de estoques se torna ainda mais crucial; é preciso planejar o alojamento de novas aves de acordo com as previsões de demanda para evitar uma superprodução. Explorar canais de venda alternativos, como a venda direta para consumidores ou o fornecimento para pequenos comércios locais, também pode ser uma forma de agregar valor e garantir um melhor escoamento. Acima de tudo, manter-se informado com análises de mercado confiáveis, como as do Cepea, é essencial para tomar decisões mais assertivas.

De acordo com pesquisadores do Cepea, o menor ritmo de vendas vem aumentando gradualmente os estoques nas granjas. Assim, produtores têm tido dificuldades em manter os valores da proteína e acabam cedendo nas negociações.

A atual conjuntura do mercado de ovos ilustra perfeitamente os desafios enfrentados pelo agronegócio brasileiro. A queda nos preços, embora possa parecer positiva para o consumidor final, revela a pressão constante sobre os produtores, que precisam equilibrar os altos custos de produção com as flutuações da demanda. A resiliência e a capacidade de adaptação do avicultor são, mais uma vez, postas à prova.