Carne suína: por que a oferta no mercado brasileiro caiu?

A disponibilidade da carne suína cai para o 2º menor volume do ano

Carne suína: por que a oferta no mercado brasileiro caiu?
Ilustrativa

Você já reparou que o lombo suíno ou a bisteca estão um pouco mais caros no açougue? Ou talvez tenha notado uma gôndola menos cheia no supermercado? Não é impressão sua. Um estudo recente do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP, trouxe um dado que explica essa sensação.

Em outubro de 2025, a quantidade de carne suína disponível para nós, brasileiros, atingiu o segundo patamar mais baixo do ano. Esse cenário, que mexe tanto com a mesa do consumidor quanto com o planejamento do produtor, é resultado de uma combinação de fatores, principalmente o excelente desempenho das nossas exportações e uma leve freada no ritmo dos abates em todo o país. Vamos desvendar juntos o que está por trás desses números.

O que os números do Cepea realmente indicam

Segundo os cálculos do Cepea, em outubro, o mercado interno recebeu cerca de 191,5 mil toneladas de carne suína. Para se ter uma ideia, esse volume só foi maior que o registrado em junho, quando a oferta foi de 185 mil toneladas, a mínima do ano. A diferença é notável quando comparamos com o pico de 2025, em julho, mês em que quase 240 mil toneladas abasteceram o comércio nacional. Essa variação mostra como o mercado é dinâmico e sensível a diferentes movimentos.

Uma redução de algumas mil toneladas, como a vista de setembro (194 mil toneladas) para outubro, já é suficiente para acender um alerta e impactar a cadeia produtiva, do suinocultor ao consumidor final. A análise do centro de pesquisas é clara quanto às causas desse movimento.

De acordo com o Centro de Pesquisas, esse cenário está atrelado ao avanço nas exportações brasileiras da proteína e à desaceleração no número de abate.

Essa combinação de fatores cria um cenário onde menos produto fica disponível para o consumo dentro do Brasil, influenciando diretamente a dinâmica de preços e o acesso à proteína.

O sucesso da carne suína brasileira lá fora

Um dos principais motivos para a menor oferta interna é, paradoxalmente, uma ótima notícia para o agronegócio nacional: o sucesso das nossas exportações. A carne suína brasileira é reconhecida mundialmente pela sua qualidade, sanidade e práticas sustentáveis, o que abre portas nos mercados mais exigentes. Em outubro, a média diária de embarques alcançou 15,1 mil toneladas, o maior volume para o período já registrado pela série histórica da Secretaria de Comércio Exterior (Secex). Essa performance indica um escoamento total no mês que pode chegar a 136,1 mil toneladas de carne suína in natura. Em outras palavras, uma parcela significativa e crescente da nossa produção está sendo destinada para alimentar o mundo.

Países da Ásia, como a China, continuam sendo grandes compradores, mas a diversificação de mercados tem sido uma estratégia fundamental do setor, garantindo a demanda aquecida pelo produto brasileiro e gerando divisas importantes para o país. Você pode acompanhar esses dados clicando aqui.

O ritmo no campo e a estratégia do produtor

O outro lado da moeda é a desaceleração no ritmo dos abates, que o Cepea estima ter tido uma possível redução de 9% em outubro, com base em dados do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa). Mas por que isso acontece? Não se trata de uma crise de produção, mas sim de decisões estratégicas do suinocultor. O produtor rural está sempre de olho na balança de custos e receitas.

Com os preços dos insumos, como milho e farelo de soja, ainda em patamares elevados, segurar um pouco os animais no campo pode ser uma tática para esperar melhores condições de venda ou para que atinjam um peso ideal que compense os custos de produção. O dia a dia na granja envolve uma série de decisões complexas que vão muito além de simplesmente criar os animais.

  • Avaliar diariamente o custo da alimentação, que representa a maior fatia dos gastos na produção.
  • Acompanhar as cotações do suíno vivo e do mercado futuro para decidir o melhor momento de vender o lote.
  • Manter um rigoroso controle de biosseguridade para prevenir doenças e garantir a saúde do plantel.
  • Negociar com frigoríficos e cooperativas as condições de abate e pagamento.

Essas variáveis mostram que a decisão de quando abater um lote de suínos é calculada e influencia diretamente o fluxo de carne que chega ao mercado.

Disponibilidade cai para o segundo menor volume do ano: e agora?

Quando a disponibilidade cai para o segundo menor volume do ano, o efeito mais direto é sentido no preço final. É a lei básica da oferta e da procura em ação. Com menos produto circulando no mercado doméstico e a demanda se mantendo estável ou até aquecida, a tendência natural é que os preços subam. Isso afeta o planejamento das famílias, o cardápio dos restaurantes e o custo de produção de alimentos processados que utilizam a carne suína como matéria-prima. É um equilíbrio delicado: o mesmo cenário que beneficia o país com as exportações, gera um desafio para o consumidor brasileiro.

Essa queda na oferta interna, portanto, não é um fato isolado, mas uma consequência direta de um mercado globalizado e competitivo. A constatação de que a disponibilidade cai para o segundo menor volume do ano nos lembra de como a economia do campo está conectada à nossa vida na cidade.

O que esperar para o final do ano?

Com a aproximação das festas de final de ano, a demanda por carnes, incluindo a suína, tradicionalmente aumenta. Produtos como lombo, pernil e leitoa são estrelas nas ceias de Natal e Ano Novo. Essa sazonalidade pode pressionar ainda mais os preços se a oferta interna não se recuperar a tempo. Por outro lado, o setor produtivo é ágil e pode ajustar o ritmo de abates para atender a esse pico de consumo. Fatores como a cotação do dólar, que influencia a competitividade das exportações, e o resultado da safra de grãos, que impacta o custo da ração, serão cruciais para definir o cenário nos próximos meses. A expectativa é que o mercado encontre um novo ponto de equilíbrio, mas o consumidor deve se preparar para um final de ano com preços da carne suína ainda firmes, refletindo a conjuntura atual.

Em resumo, a notícia de que a disponibilidade cai para o segundo menor volume do ano reflete um momento complexo e multifacetado para a suinocultura brasileira. De um lado, celebramos a força do nosso agronegócio no cenário internacional, com exportações recordes que movem a economia. Do outro, lidamos com os reflexos internos dessa dinâmica, como a redução da oferta e o aumento dos preços para o consumidor. Entender essa conexão entre o campo, o mercado global e o nosso dia a dia é fundamental para compreendermos a importância e os desafios de um dos setores mais pujantes do Brasil.

AGRONEWS