Trigo: safra argentina recorde e o impacto no Brasil

A safra argentina de trigo bate recorde e mexe com o mercado brasileiro, veja mais informações

Trigo: safra argentina recorde e o impacto no Brasil
Ilustrativa

Os olhos dos agentes do agronegócio brasileiro estão voltados para o país vizinho, e o motivo é o trigo. A colheita na Argentina avança a passos largos e os números impressionam, sinalizando um cenário de oferta abundante que já reflete diretamente nos preços por aqui. Segundo dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), a atenção ao andamento da colheita argentina é total, afinal, eles são nossos principais fornecedores do cereal.

A Bolsa de Cereales de Buenos Aires revisou a projeção de produção para cima, estimando um recorde de 25,5 milhões de toneladas. Esse volume não apenas supera as expectativas, como também estabelece uma nova marca histórica. Para o produtor brasileiro, esse cenário, somado à desvalorização do dólar, acende um alerta e exige planejamento estratégico.

Por que o trigo argentino é tão crucial para o Brasil?

Para entender o impacto da safra argentina, primeiro precisamos conversar sobre a nossa relação comercial. O Brasil é um dos maiores consumidores de trigo do mundo, mas nossa produção interna ainda não é suficiente para atender toda a demanda da indústria de panificação, massas e biscoitos. Por isso, somos grandes importadores do cereal.

A Argentina surge como nossa parceira comercial número um por uma combinação de fatores estratégicos. A proximidade geográfica reduz significativamente os custos com frete em comparação com outros fornecedores globais, como Rússia ou Estados Unidos. Além disso, por sermos parceiros no Mercosul, o trigo argentino entra no Brasil sem a Tarifa Externa Comum (TEC), o que o torna ainda mais competitivo.

Essa dependência faz com que qualquer variação significativa na produção dos nossos vizinhos cause ondas no mercado nacional. Uma quebra de safra por lá pode elevar os preços no Brasil, enquanto uma colheita farta, como a atual, tende a pressioná-los para baixo. É uma balança delicada, onde o produtor brasileiro precisa estar sempre atento às notícias que vêm do outro lado da fronteira para tomar as melhores decisões sobre o momento de vender sua produção e planejar os próximos cultivos.

O que a safra argentina recorde significa na prática?

Um volume recorde de 25,5 milhões de toneladas de trigo significa mais produto disponível no mercado. A lei da oferta e da procura é clara: quando a oferta aumenta muito e a demanda se mantém estável, os preços tendem a cair. Essa pressão já é sentida nos principais estados produtores do Brasil. Os preços no Rio Grande do Sul e no Paraná registraram quedas importantes em novembro, atingindo os menores patamares em meses. Essa realidade afeta diferentes elos da cadeia produtiva de maneiras distintas.

  • Para o produtor brasileiro: O principal desafio é a competitividade. Com o cereal importado chegando mais barato, fica mais difícil conseguir preços remuneradores pela sua produção. Isso exige uma gestão de custos impecável e a busca por estratégias para agregar valor.
  • Para a indústria moageira: É um cenário favorável. Os moinhos conseguem adquirir a matéria-prima por um custo menor, o que pode aumentar suas margens de lucro ou, eventualmente, ser repassado para o preço da farinha.
  • Para o consumidor final: A queda no preço do trigo pode levar a uma redução nos preços de produtos como pães, massas e biscoitos. No entanto, essa relação não é imediata, pois o custo do trigo é apenas um dos componentes do preço final na gôndola, que também inclui logística, mão de obra, energia e impostos.

O câmbio e a pressão adicional sobre os preços

Além da oferta gigante vinda da Argentina, outro fator crucial que joga os preços para baixo é a taxa de câmbio. O boletim do Cepea destaca que a desvalorização do dólar frente ao Real em novembro intensificou o movimento de queda. Funciona de forma simples: como as negociações de commodities no mercado internacional são feitas em dólar, quando a moeda americana perde valor em relação à nossa, o custo de importação cai.

Na prática, o trigo argentino, que já está com um preço competitivo pela grande oferta, fica ainda mais barato para os compradores brasileiros. É como um desconto duplo que pressiona ainda mais as cotações do trigo nacional. Esse fator cambial reforça a importância de o produtor acompanhar não apenas o clima e a lavoura, mas também os indicadores econômicos.

A resposta da produção nacional à safra argentina

Enquanto a Argentina celebra sua colheita histórica, o produtor brasileiro lida com seus próprios desafios e busca caminhos para se fortalecer. A safra nacional também tem crescido nos últimos anos, impulsionada por investimentos em tecnologia e pela expansão do cultivo para novas fronteiras, como o Cerrado. Instituições como a Embrapa têm desenvolvido cultivares adaptadas a diferentes climas e solos, buscando aumentar a produtividade e a autossuficiência do país. No entanto, a concorrência com a maciça safra argentina exige mais do que apenas produzir em volume; exige diferenciação.

De acordo com pesquisadores do Cepea, além do cenário de safra volumosa na Argentina, a desvalorização do dólar frente ao Real reforçou o movimento de queda nos preços do trigo no mercado brasileiro.

Esse cenário impõe aos produtores do Rio Grande do Sul e do Paraná, nossos principais polos tritícolas, a necessidade de um planejamento cuidadoso. A decisão de quando vender, a utilização de ferramentas de hedge para proteção de preço e o investimento em qualidade do grão tornam-se decisões ainda mais críticas para garantir a rentabilidade da atividade.

Estratégias para o produtor brasileiro se diferenciar

Diante da forte concorrência da safra argentina, o produtor brasileiro não precisa ficar de braços cruzados. Existem estratégias para se destacar e garantir um bom negócio. Uma das principais é focar na qualidade. A indústria de panificação, por exemplo, busca trigos com características específicas de força de glúten, que nem sempre são encontradas no cereal importado. Investir em cultivares que atendam a esses nichos de mercado pode garantir preços melhores e contratos mais vantajosos. Outro ponto fundamental é a gestão da propriedade.

A agricultura de precisão, o uso racional de insumos e o monitoramento constante da lavoura ajudam a reduzir o custo de produção, tornando o trigo nacional mais competitivo. Além disso, boas práticas de armazenamento permitem que o agricultor guarde sua produção e espere por momentos mais favoráveis de mercado para vender, fugindo da pressão de venda logo após a colheita.

O cenário desenhado pela abundante safra argentina é, sem dúvida, desafiador para o triticultor brasileiro. A combinação de oferta elevada do país vizinho com um câmbio favorável às importações cria uma pressão baixista sobre os preços internos. Contudo, esse panorama também evidencia a interconexão do agronegócio e reforça a necessidade de o produtor nacional ser cada vez mais eficiente, estratégico e atento às dinâmicas de mercado. Clique aqui e acompanhe o agro.

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