Novas tecnologias podem até negativar a pegada de carbono do etanol brasileiro

Parceria entre Embrapa e Unicamp revela estudo promissor sobre emissão de CO₂ do etanol, mas depende de investimentos e novas regulações

Novas tecnologias podem até negativar a pegada de carbono do etanol brasileiro
Ilustrativa

Uma parceria entre a Embrapa Meio Ambiente e a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp)  produziu um estudo promissor sobre novas tecnologias que deverão reduzir próximo a zero, ou até negativar, a pegada de carbono do etanol brasileiro.

A pesquisa vai ao encontro do programa RenovaBio, política de biocombustíveis lançada em 2017 pelo governo federal para ampliar os ganhos ambientais do setor, e da Carta de Belém, apresentada na COP30. A novidade, contudo, demanda novos investimentos e regulações para avançar.

O processo, ainda caro e complexo, exige prospecção geológica e infraestrutura adequada. No Brasil, a Usina FS é pioneira na aplicação da tecnologia conhecida como BECCS, que captura o carbono biogênico, de origem vegetal, emitido na produção de etanol e energia em usinas de cana-de-açúcar.

Quando combinada com o uso do biocarvão (biochar) no solo, o sequestro de CO₂ pode ser expressivo, evitando assim a liberação desses gases na atmosfera.

Os especialistas explicam que é necessário mapear formações geológicas adequadas para o armazenamento permanente do CO₂ e garantir a segurança contra vazamentos.

A mobilização intensifica ainda mais o papel dos biocombustíveis na redução das emissões e na transição para uma economia de baixo carbono.

O que dizem os pesquisadores

Para Nilza Patrícia Ramos, pesquisadora da Embrapa Meio Ambiente, o estudo teve duas frentes de aplicação: durante a fermentação alcoólica e na geração de eletricidade a partir de bagaço e palha.

“A fermentação se mostra a opção mais promissora, já que o CO₂ emitido nesse processo é relativamente puro e tecnicamente mais fácil de capturar. A captura na combustão, embora capaz de gerar emissões negativas em larga escala, esbarra em custos muito mais altos e em desafios de infraestrutura, como transporte e armazenamento geológico do carbono”, disse Ramos.

Com a adoção de BECCS somado ao biochar, a queima de etanol por veículos a combustão pode apresentar desempenho ambiental comparável ou até superior ao de veículos elétricos carregados com eletricidade em eletropontos.

O impacto seria fundamental para o cumprimento das metas climáticas brasileiras, que preveem reduzir as emissões até 2030.

Carta de Belém

O setor nacional de biocombustíveis lançou na COP30 a Carta de Belém, documento que propõe um esforço internacional para quadruplicar a produção e o uso de combustíveis sustentáveis até 2035, alinhado às recomendações da Agência Internacional de Energia (IEA).

O documento é contundente: o mundo está atrasado na descarbonização da mobilidade e não cumprirá o Global Stocktake (avaliação periódica do progresso global em relação às metas do Acordo de Paris) sem combinar eletrificação, combustíveis sustentáveis e novos investimentos em tecnologia.