EUA e China entram em rota de colisão mais uma vez e o agro brasileiro observa as oportunidades
Escalada tarifária reacende a guerra comercial e pode abrir espaço para o Brasil ampliar exportações de soja e carne à China
A tensão comercial entre Estados Unidos e China voltou a ganhar força e colocou o agronegócio brasileiro em posição estratégica.
Após uma trégua, a escalada tarifária reacendeu com o anúncio do presidente norte-americano, Donald Trump, de uma tarifa adicional de 100% sobre produtos chineses — resposta, segundo ele, a uma “postura comercial extraordinariamente agressiva” de Pequim.
A China não baixou a guarda e reagiu, acusando Washington de aplicar “dois pesos e duas medidas” e afirmando que a decisão “prejudica gravemente os interesses da China” e “mina o clima das discussões económicas e comerciais entre as duas partes”.
As novas taxas devem vigorar a partir de 1º de novembro, ou antes, e elevam a barreira tarifária total a 130% após várias rodadas de disputas.
Terras raras no centro do tabuleiro
O impasse ganhou corpo com as restrições chinesas à exportação de tecnologias ligadas à extração e produção de terras raras, minerais críticos para cadeias de alta tecnologia. Pequim é o maior produtor mundial e já foi acusada pelos EUA de “abusar da posição dominante”.
O movimento colocou em dúvida a reunião entre Trump e Xi Jinping na cúpula da APEC no fim de outubro — Trump disse não ver mais motivo para o encontro.
Brasil em evidência: soja puxa, carne acompanha
Segundo análise publicada pelo Portal SNA (Sociedade Nacional de Agricultura), diversos segmentos do agronegócio brasileiro conseguiram se adaptar ao impacto tarifário e realocar embarques que antes eram destinados aos Estados Unidos.
Agora, a nova escalada entre americanos e chineses pode beneficiar ainda mais a cadeia produtiva nacional, especialmente pela sólida e longa parceria com o mercado asiático.
A soja — da qual o Brasil é o maior produtor e exportador mundial — virou peça-chave. Com a escalada tarifária, a China ampliou as compras do grão brasileiro, reduzindo a dependência do produto norte-americano.
A Federação de Fazendeiros dos EUA informou que, entre junho e agosto, os EUA praticamente não venderam grãos aos chineses, enquanto o Brasil bateu recordes no período.
Segundo o USDA, a China importou mais de 10 milhões de toneladas de soja brasileira por mês, atingindo marcas inéditas.
De acordo com o Ministério da Agricultura, a China já é o destino de mais de 70% dos embarques brasileiros de soja.
Na proteína, a carne bovina também ganhou espaço: a China assumiu o primeiro lugar nas compras do produto brasileiro, mostrando resiliência após o choque inicial do tarifaço e realocação de vendas.
Oportunidades e cautela
O Brasil pode se beneficiar também pelo lado das importações, já que maiores barreiras aos EUA tendem a levar os chineses a buscar novos destinos para escoar a produção.
Ainda assim, guerras comerciais trazem instabilidade, oscilações de preços e pressões inflacionárias.
Nesse contexto, a conversa entre Donald Trump e Lula, noticiada na semana passada, foi recebida com otimismo e alívio.
O diálogo foi visto como um ponto de inflexão após meses de atritos — que incluíram sanções a autoridades brasileiras — e pode abrir espaço para previsibilidade e novas tratativas.
Um olho na crise, outro na janela de oportunidade
A disputa EUA x China recoloca o debate sobre diversificação de parceiros e consolida o Brasil como fornecedor estratégico de alimentos e matérias-primas.
O momento pede equilíbrio diplomático e visão de longo prazo: em meio às incertezas, o campo brasileiro enxerga riscos, mas também brechas reais para ampliar presença no mercado asiático.









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