Javali é problema de saúde pública e exige política de Estado, diz Tirso Meirelles

Em entrevista exclusiva, presidente da Faesp afirma que o avanço do javali ameaça lavouras, pessoas e o status sanitário do Brasil e cobra ação nacional mais rápida

Javali é problema de saúde pública e exige política de Estado, diz Tirso Meirelles
Ilustrativa

Tirso reconheceu que os estados já têm autonomia para agir, mas avaliou que a burocracia impede respostas efetivas

 

“O javali destrói totalmente a lavoura, destrói totalmente o meio ambiente e mata”, disse Tirso Meirelles, presidente do Sistema FAESP/Senar-SP, ao tratar do avanço da espécie exótica no Brasil. Segundo ele, o problema deixou de ser apenas produtivo e passou a representar uma ameaça direta à saúde pública.

Tirso afirmou que o javali não tem predador natural, anda em bandos e se reproduz de forma acelerada.

“Uma fêmea produz 60, 70 filhotes por ano”, disse. Ele relatou que o comportamento do animal amplia os riscos à população rural. “Ele anda em bando. Se você pega uma pessoa indefesa, ele mata mesmo, você não consegue fugir”, afirmou. “Ele vira carro.”

De acordo com o dirigente, os impactos atingem simultaneamente a produção agrícola, o meio ambiente e a segurança das pessoas. “É uma coisa crucial”, disse, ao relatar destruição total de lavouras causada pelo animal.

Além dos danos físicos, Tirso destacou o risco sanitário associado ao javali, especialmente após a retirada da vacinação contra a febre aftosa no Brasil.

“O javali é um porco. E se você não vacina, ele pode ser um transmissor da febre aftosa”, afirmou.

Segundo ele, a presença do animal representa uma ameaça a todo o esforço sanitário construído ao longo das últimas décadas.

“Podemos perder todo esse investimento que nós fizemos em 50 anos para tirar esse vírus da febre aftosa no Brasil”, disse.

Burocracia dificulta o controle

Tirso reconheceu que os estados já têm autonomia para agir, mas avaliou que a burocracia impede respostas efetivas.

“Existe uma burocracia muito grande. Você tem que pedir permissão, mapear o local, voltar. Quando você termina, ele já está em outro”, afirmou. Para ele, o processo precisa ser mais rápido.

Sobre São Paulo, disse que o estado está um pouco à frente. “Estamos conseguindo fazer os procedimentos acontecerem”, afirmou, ao comparar com outras regiões do país.

Cobrança por política nacional e críticas ao Ibama

O presidente da FAESP defendeu uma política de Estado para enfrentar o problema. “Tinha que ser uma política pública do Brasil”, disse. Segundo ele, o país deveria estabelecer metas claras. “Vamos exterminar 80%. Faz um levantamento e vamos acabar com 80%.”

Tirso também criticou a atuação do Ministério do Meio Ambiente e do Ibama.

“Eles estão aí para atrapalhar todo o processo produtivo”, afirmou. Na avaliação dele, o controle deveria estar sob responsabilidade do Ministério da Agricultura. “É uma questão de saúde pública.”

Ao encerrar o tema, reforçou que o avanço do javali não pode ser tratado como um problema pontual. Para ele, sem uma política nacional coordenada, a situação tende a se agravar.