Farelo de soja em alta movimenta o agronegócio no Brasil
O aumento na procura global por farelo de soja está mudando o jogo para produtores e indústrias no Brasil, veja mais informações a seguir
Enquanto o produtor rural olha para o céu, na esperança de chuvas que garantam o sucesso do plantio da nova safra de soja, os mercados internacionais de derivados fervem. Nos últimos dias, um movimento significativo na Bolsa de Chicago (CME Group) acendeu um alerta positivo para a indústria processadora: a demanda global pelo farelo de soja disparou, impulsionando os preços futuros.
Essa valorização externa não demorou a ecoar no Brasil, criando um cenário de duas velocidades. De um lado, um mercado aquecido e com compradores ansiosos por garantir o suprimento do farelo. Do outro, um produtor cauteloso, com o foco totalmente voltado para as operações no campo e os desafios impostos pelo clima, o que deixa o mercado do grão com baixa liquidez, conforme aponta o recente levantamento do Cepea.
O que está por trás da alta no preço do farelo de soja?
Para entender o cenário atual, é preciso primeiro compreender a importância do farelo de soja. Ele é o principal subproduto do processamento do grão de soja, resultado da extração de seu óleo. Com altíssimo teor de proteína, ele se tornou um componente essencial e insubstituível na nutrição animal, servindo de base para rações de aves, suínos e bovinos em todo o mundo. Qualquer variação na sua oferta ou demanda mexe com toda a cadeia de produção de carnes e ovos.
O recente aquecimento dos preços está diretamente ligado a uma combinação de fatores globais. O crescimento da produção de proteína animal em países asiáticos, que continuam a expandir seus rebanhos, é um dos principais motores dessa demanda. A busca por fontes de proteína de alta qualidade para alimentar planteis cada vez maiores pressiona os estoques globais e faz com que os preços na Bolsa de Chicago, principal referência mundial, subam. Essa valorização internacional torna o produto brasileiro ainda mais competitivo e atrativo para o mercado externo, o que explica o forte interesse de compradores.
O reflexo no mercado interno e os contratos “frame”
Quando os preços sobem lá fora, o mercado interno brasileiro sente o impacto imediatamente. Segundo informações do Cepea, a alta externa influenciou diretamente as negociações do farelo de soja no Brasil. A indústria esmagadora, que transforma o grão em farelo e óleo, vê suas margens melhorarem e o interesse dos compradores aumentar. Um detalhe interessante apontado pelos pesquisadores é o aumento da procura por contratos do tipo “frame”. Essa modalidade de negócio permite que o comprador trave um volume de produto para recebimento a médio e longo prazo, mas sem fixar o preço no ato da assinatura. O preço será definido futuramente, com base nas cotações de mercado.
Para o comprador, como indústrias de ração e grandes produtores de animais, essa é uma forma de garantir o abastecimento, mesmo que o preço final ainda seja uma incógnita. O fato de que até mesmo empresas com estoques considerados confortáveis estão buscando esses contratos demonstra uma forte expectativa de que os preços do farelo de soja continuarão em alta, e a estratégia é se proteger de uma valorização ainda maior no futuro.
Soja em grão em compasso de espera
Se o mercado de farelo está agitado, o mesmo não se pode dizer sobre o mercado da matéria-prima, a soja em grão. A liquidez, ou seja, o volume de negócios fechados, esteve baixa na última semana. A explicação para essa calmaria é simples e está no campo. O produtor brasileiro, neste momento, tem uma prioridade absoluta: plantar a safra 2025/26. Todas as atenções, esforços e recursos estão voltados para colocar as sementes no solo dentro da janela ideal.
Vender o grão estocado da safra passada se torna uma atividade secundária. Além do foco operacional, a incerteza climática também leva o agricultor a segurar seu produto, aguardando um cenário mais claro tanto no clima quanto nos preços, que podem se valorizar ainda mais caso a nova safra enfrente problemas. Essa postura de cautela do produtor cria um descompasso interessante, com a indústria ávida por matéria-prima e o agricultor esperando o melhor momento para negociar.

O clima como protagonista e o desafio do déficit hídrico
Toda essa dinâmica de mercado tem como pano de fundo o fator que mais tira o sono do produtor: o clima. A falta de chuvas regulares, conhecida como déficit hídrico, tem sido uma preocupação constante, especialmente em importantes regiões produtoras do Centro-Oeste e do Sudeste. Embora as últimas semanas tenham trazido algumas chuvas que permitiram o avanço do plantio, a situação ainda exige atenção. A umidade no solo não está plenamente restabelecida, o que gera riscos para a germinação e o desenvolvimento inicial das plantas. Esse cenário coloca o produtor diante de decisões difíceis e aumenta a tensão em toda a cadeia produtiva.
Segundo pesquisadores do Cepea, “apesar das chuvas registradas nas duas últimas semanas em boa parte do território nacional, que permitiram o avanço dos trabalhos, agentes relatam necessidade de maior umidade no solo”.
A falta de umidade adequada no início do ciclo pode trazer uma série de consequências negativas para o agricultor, como a necessidade de replantio e a compactação da janela de cultivo, afetando o potencial produtivo da lavoura. A Embrapa Soja constantemente monitora e divulga informações sobre as melhores práticas de manejo em condições de estresse hídrico. Entre os principais desafios enfrentados pelo produtor neste momento, destacam-se:
- Atraso no cronograma de plantio, que pode empurrar a colheita para um período mais chuvoso.
- Risco de stand de plantas desuniforme, comprometendo a produtividade final.
- Aumento dos custos com a possibilidade de replantio em áreas afetadas.
- Encurtamento da janela ideal para o plantio do milho safrinha, que é semeado logo após a colheita da soja.
O cenário atual do agronegócio brasileiro é um exemplo claro de como os mercados globais e as condições locais estão interligados. A alta demanda internacional pelo farelo de soja abre excelentes oportunidades para a indústria nacional. Contudo, a concretização desse potencial depende inteiramente do sucesso da safra que está sendo plantada agora. O produtor rural, com os olhos no céu e as máquinas no campo, segue como a peça fundamental dessa engrenagem, e suas decisões, guiadas pelo clima, ditarão o ritmo da oferta de soja e seus derivados nos próximos meses.







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