Produção leiteira tem potencial para ampliar resultados na redução de metano

Na COP30, Danone e Nestlé mostram ao mundo como o leite brasileiro está reduzindo o metano.

Produção leiteira tem potencial para ampliar resultados na redução de metano
Ilustrativa

A COP30, realizada neste mês em Belém (PA), foi escolhida por Danone e Nestlé no Brasil como palco para apresentar ao mundo os resultados alcançados com seus programas de redução de metano (CH4) em fazendas fornecedoras de leite.

Nos últimos cinco anos, o Jornada Flora, programa da Danone Brasil que incentiva práticas regenerativas nas propriedades leiteiras, registrou uma redução de 42% no fator de emissão de metano entérico por litro de leite produzido. O gás, gerado no rúmen de animais ruminantes durante a fermentação microbiana dos carboidratos, possui potencial de aquecimento global cerca de 30 vezes superior ao do dióxido de carbono (CO²).

Entre 2020 e 2024, o programa também reduziu em 47% o fator de emissão de carbono na produção da matéria-prima da empresa. Mudanças na nutrição, com dietas mais equilibradas e de alta qualidade, e melhorias nos centros de ordenha e demais instalações, proporcionando maior conforto e bem-estar ao rebanho, refletiram não apenas em ganhos ambientais, mas também econômicos. Nesse período, as fazendas participantes registraram aumento de 22% na renda real, crescimento de 59% na margem líquida, alta de 15% na produtividade por vaca e crescimento médio de 26% na produção diária.

Para o pesquisador em nutrição animal da Embrapa Gado de Leite, Thierry Ribeiro Tomich, a eficiência técnica e alimentar alcançada com a redução da pegada de carbono é também lucrativa para o produtor brasileiro, que enfrenta um mercado desafiador. “No Brasil, gasta-se muita terra, gasta-se muito alimento, gasta-se muita vaca para produzir pouco leite.”

De acordo com Tomich, nos projetos de redução de gases de efeito estufa (GEE) acompanhados pela Embrapa, sistemas mais avançados já alcançam lucro líquido de R$ 0,80 por litro de leite, enquanto aqueles em estágio inicial do uso das práticas sustentáveis registram cerca de R$ 0,20. “A eficiência técnica é muito bem acompanhada pela eficiência econômica”, diz Tomich. Com pesquisas na área há mais de duas décadas, a Embrapa dá suporte aos programas de descarbonização de várias empresas, entre elas Danone, Nestlé, Lactalis e Sooro Renner.

Participante do Jornada Flora desde 2020, a Fazenda Cachoeira das Antas, em Santa Rita de Caldas (MG), é um exemplo dos resultados obtidos. Nos últimos 12 meses, recebeu média de R$ 3,09 por litro de leite, valor entre 13% e 14% superior à média regional, segundo o proprietário Áureo Cássio de Carvalho.

“Quando ingressamos no Jornada Flora, tínhamos uma produção diária de 220 litros e hoje de 2.200 litros por dia”, relata o proprietário Áureo Cássio de Carvalho, que também adota práticas como o plantio direto e o uso de esterco animal para adubação das lavouras.

Segundo Mário Resende, vice-presidente de Operações e Sustentabilidade da Danone Brasil, o programa teve início com apenas uma fazenda e hoje já envolve 150 propriedades. “A grande sacada que a gente vai apresentar lá [na COP30] é como uma indústria láctea consegue escalar isso em seu universo de produtores”, explica o executivo, destacando que o processo começa com um trabalho de convencimento e engajamento dos pecuaristas. Atualmente, 20% do leite fresco utilizado pela Danone na fabricação de seus produtos já é classificado como de baixo carbono. 

Na Nestlé, o leite fresco responde pela metade dos 70% das emissões totais de GEE oriundas da produção rural de suas matérias-primas. Para reverter esse quadro, a empresa criou o programa Nature por Ninho, que vem se fortalecendo nos últimos anos com a adoção de práticas regenerativas, manejo adequado dos dejetos e ações de descarbonização da atividade leiteira.

Os produtores participantes do Nature por Ninho recebem bonificações progressivas conforme o nível de práticas sustentáveis adotadas, classificados em bronze, prata, ouro ou diamante. “Quando comparadas às fazendas que não seguem práticas regenerativas, as de nível ouro, por exemplo, atingem 47% mais produtividade por vaca e produzem alimento com custo de produção 8% menor”, afirma a chefe de agricultura regenerativa da Nestlé Brasil, Barbara Sollero.

Na categoria ouro, mais de 240 fazendas foram responsáveis, na safra 2024/2025, por uma redução de 39% na pegada de carbono. “Outro grande resultado é que mais de 39 mil vacas vivem em estábulos ventilados e climatizados e, ao menos 8 mil, utilizam colares de monitoramento com inteligência artificial”, diz Sollero.

A Nestlé planeja investir cerca de R$ 150 milhões até 2027 em projetos de sustentabilidade voltados à cadeia leiteira no Brasil. Apesar das ações, a empresa anunciou sua saída da Dairy Methane Action Alliance, aliança global criada em 2023 para redução do metano, sem detalhar os motivos.

Tanto Nestlé quanto Danone mantêm parcerias com o Banco do Brasil para oferecer crédito facilitado aos produtores de leite. Nos últimos três anos, foram concedidos R$ 175 milhões a 158 fazendas das 230 fornecedoras da Danone. Para a safra 2026/2027, está prevista a renovação de R$ 100 milhões em crédito rural sustentável.

 

As informações são do Valor Econômico.