Parceria bilionária entre Amaggi e Inpasa é desfeita antes de sair do papel

Promessa era construir império do etanol de milho em Mato Grosso, mas diferenças de governança minaram a relação

Parceria bilionária entre Amaggi e Inpasa é desfeita antes de sair do papel
Ilustrativa

Após meses de negociações e uma série de anúncios de que a Amaggi e a Inpasa estavam prestes a firmar uma joint venture para erguer usinas de etanol de milho em Mato Grosso, as duas empresas comunicaram, nesta terça-feira (14), que decidiram encerrar as tratativas.

A justificativa oficial: divergências técnicas sobre estrutura e governança do projeto.

Ficou no “quase”

Na reta final de agosto de 2025, as companhias haviam confirmado a intenção de construir pelo menos três plantas de etanol de milho em Mato Grosso, com capacidade de processar, por unidade, 2 milhões de toneladas de milho por ano.

O  investimento total previsto girava entre R$ 6,9 bilhões e R$ 7,5 bilhões.

O plano seria instalar a primeira usina em Rondonópolis, com outras previstas para Campo Novo do Parecis e Querência, conforme os estudos.

Essa ampliação poderia gerar uma demanda adicional de 6 milhões de toneladas de milho, segundo projeções de mercado.

Além de etanol, os empreendimentos planejados contemplavam subprodutos como DDGS (farelo) e cogeração de energia elétrica.

A usina de Rondonópolis, por exemplo, já era anunciada como o maior investimento privado no município em 2025, com expectativa de gerar 2 mil empregos diretos durante a construção e 300 em operação. 

O que deu errado?

No comunicado formal, Inpasa e Amaggi disseram que identificaram visões distintas sobre estrutura societária e governança do futuro empreendimento. Por isso, decidiram seguir caminhos independentes — mantêm respeito mútuo e afirmaram que poderão cooperar em outras frentes futuramente.

Segundo analistas do setor, o custo regulatório e a necessidade de aprovação de órgãos concorrenciais (como o Cade) — especialmente por conta do porte do negócio — poderiam ter se tornado obstáculos complicados para a execução do projeto como foi idealizado.

Outro problema era a necessidade de compatibilizar o papel da Amaggi na originação, logística e suprimento de milho com a atuação operacional e de engenharia da Inpasa — cada uma dessas funções exigiria forte alinhamento estratégico e controle conjunto, o que gera tensões naturais em grandes parcerias.

E agora? impactos e consequências

Com a decisão de encerrar as tratativas, o mercado de etanol de milho pode sofrer uma frustração de expectativas de expansão para Mato Grosso. O projeto conjunto estava entre os mais ambiciosos para agregar valor à agricultura no estado.

Mas o fim da parceria não encerra todas as possibilidades: ambas as empresas afirmam que permanecem abertas a projetos em comum no futuro.

O anúncio oficial da Inpasa também especificou que a desistência foi feita de forma “transparente, colaborativa e com alinhamento aos princípios de boa governança corporativa”.

A descontinuação da joint venture deixa uma lacuna no cenário de biocombustíveis, mas abre espaço para novas composições, adaptação de estratégia individual ou mesmo entrada de outros players interessados em capitalizar sobre a demanda reprimida de investimentos em etanol de milho.