Paraná terá a 1ª central de saneamento rural do Brasil com investimento alemão
Usina de biogás vai transformar dejetos da suinocultura em energia, biocombustível e fertilizantes
A cidade de Toledo, no Paraná, será sede da primeira central de saneamento rural do Brasil, com a construção de uma usina de biogás. O projeto, liderado pela empresa alemã Mele, contará com um investimento inicial de R$ 77,5 milhões.
A iniciativa visa coletar dejetos da suinocultura por meio de uma rede de dutos interligada a uma central de processamento, onde os resíduos serão transformados em energia, biocombustível e fertilizantes.
A cerimônia de lançamento da pedra fundamental ocorreu ontem (dia 19), em Curitiba, com a presença do vice-governador do Paraná, Darci Piana, e da presidente do Conselho Federal Alemão, Manuela Schwesig.
Durante o evento, Piana destacou a importância do projeto. “Além de resolvermos um problema ambiental sério que temos para a destinação destes dejetos, esse projeto significa mais recursos financeiros aos nossos produtores”.
A primeira fase do projeto será financiada por investidores, com apoio do Banco Mundial. A Organização das Nações Unidas (ONU) acompanha o desenvolvimento do projeto devido às suas características inovadoras e sustentáveis. A planta de Toledo, que servirá de modelo para outras futuras na região, ocupará uma área de 43 mil metros quadrados.
Impacto ambiental e redução de CO2
Segundo estimativas da Mele, o tratamento adequado dos dejetos nas usinas tem o potencial de evitar a emissão de 2 milhões de toneladas de CO2 por ano, o que representa 2,7% das emissões do Paraná e 0,5% de todas as emissões do Brasil.
A usina de Toledo, por si só, evitará a emissão de 52 mil toneladas de CO2 anualmente. Este projeto faz parte de um plano maior para implantar 45 usinas na região Oeste do Paraná até 2031.
O projeto já obteve todas as licenças ambientais e firmou parceria com a Verra, organização responsável pela maior carteira de créditos de carbono do mundo. Mesmo antes da construção, a usina já atraiu o interesse de grandes empresas nacionais, como a Petrobras, além de investidores estrangeiros interessados na compra de créditos de carbono para compensar suas emissões.
Tecnologia alemã e inovação em saneamento rural
A estrutura será baseada em tecnologia alemã, desenvolvida no estado de Mecklemburgo-Pomerânia Ocidental, onde Schwesig também atua como governadora. A iniciativa pretende resolver um dos principais passivos ambientais dos produtores da região: a emissão de dióxido de carbono (CO2).
Além disso, garantirá a preservação dos recursos hídricos, evitando a contaminação do solo e lençóis freáticos pelos dejetos da suinocultura.
“Com este projeto conseguimos demonstrar que a agricultura também pode contribuir com a eficiência energética ao trabalhar com um material que ninguém quer, transformando-o em um ativo econômico”, afirmou Schwesig.
Oeste Sustentável: A força da inovação alemã no Paraná
O projeto de Toledo faz parte do Programa Oeste Sustentável (Green Fuels Paraná), uma iniciativa alemã focada em promover práticas mais sustentáveis entre pequenos produtores. A meta é tratar e transformar cerca de 60% do passivo ambiental da cadeia de produção de suínos do Paraná, o que representa 10% da produção nacional no setor.
O projeto conta com o apoio do BMWK (Ministério Federal para Assuntos Econômicos e Proteção Climática) e da GIZ, através do programa H2UPPP, que promove o uso de combustíveis verdes.
A Alemanha é pioneira na utilização de biodigestores em propriedades rurais, permitindo que pequenos e médios produtores de suínos e bovinos transformem os dejetos em biogás e biometano, que podem ser injetados na rede de gás natural ou usados para geração de energia.
Expansão e impacto econômico no Paraná
A planta de Toledo utilizará uma rede de gasodutos para transportar a parte líquida dos dejetos até a central de saneamento, enquanto a parte sólida será coletada por caminhões. Inicialmente, o material será utilizado para a produção de biometano e CO2, mas a empresa já planeja expandir o projeto para incluir a produção de metanol, essencial para a fabricação de biodiesel.
Atualmente, o Brasil importa 100% do metanol que consome. Com a ampliação do projeto, o Paraná pode reduzir a dependência do mercado externo e os custos de biocombustíveis.
A expectativa é que, após a conclusão do cronograma, a região Oeste do Paraná produza o equivalente a 6.000 barris de petróleo por dia em biocombustíveis.
Suinocultura paranaense em expansão
O Paraná, impulsionado pela região Oeste, é o segundo maior produtor de carne suína do Brasil. Entre janeiro e junho de 2024, o estado registrou o abate de 6,2 milhões de suínos, um aumento de 37% em relação ao mesmo período de 2019.
O volume representa 22% da produção nacional, consolidando o Paraná como um dos líderes no setor.
redação com Informações da Secretária de Agricultura do Paraná | Agrofy News