Empresas e produtores se unem por uma pecuária leiteira mais eficiente e sustentável

Empresas unem forças com produtores para transformar a pecuária leiteira, reduzindo impacto ambiental e ampliando resultados no campo.

Empresas e produtores se unem por uma pecuária leiteira mais eficiente e sustentável
Ilustrativa

Empresas de todo o mundo estão firmando parcerias com produtores de leite brasileiros, com o objetivo de apoiá-los a fazer mudanças e ajustes necessários para reduzir suas emissões de GEE (gases do efeito estufa) e melhorar a qualidade de sua produção.

A prática quer atender a uma demanda do mercado externo - países da Europa, por exemplo, têm imposto critérios mais rigorosos para a importação de produtos de origem animal, buscando empresas que minimizem o impacto ambiental na cadeia produtiva e garantam o bem-estar animal - e pelo fato de a sustentabilidade ter se tornado um diferencial no mercado, já que produtos sustentáveis podem ser vendidos com maior valor agregado.

Rejane Maria, uma das proprietárias da Fazenda Santa Rosa, localizada em Ilicínea (MG), é uma das produtoras de leite que ajustou suas práticas. "Já tínhamos algumas iniciativas sustentáveis na propriedade, mas, com a parceria com a Danone, por meio do programa Jornada Flora, passamos a entender melhor como o bem-estar animal pode aumentar a produtividade."

A Jornada Flora é um conjunto de ações da Danone Brasil em parceria com produtores brasileiros, que busca promover práticas regenerativas eficientes. O objetivo é reduzir a pegada de carbono da empresa e ajudar produtores brasileiros a aumentar sua produção de leite e rentabilidade com práticas sustentáveis. A empresa tem como meta atingir a neutralidade de suas emissões de carbono até 2050.

"As iniciativas vão desde treinamentos, facilitação de linhas de crédito, plantio de árvores e até uma central de compras de insumos para negociações coletivas", destaca Mário Rezende, vice-presidente de Operações e Sustentabilidade da Danone.

Outra empresa que firmou parcerias com produtores de leite é a Nestlé, que também busca se tornar Net Zero até 2050. "Atualmente, 70% da pegada de carbono da Nestlé vem do campo, sendo a produção de leite responsável por metade desse total", afirma Bárbara Sollero, head de Agricultura Regenerativa da Nestlé Brasil.

Por meio do programa Nature por Ninho, lançado há cerca de 15 anos, a Nestlé incentiva mais de mil fazendas a adotarem práticas regenerativas. As propriedades parceiras recebem bonificação proporcional ao nível atingido no programa — Bronze, Prata, Ouro ou Diamante — com base na implementação de ações voltadas ao bem-estar animal, manejo sustentável do solo e gestão hídrica.

 

De ventilador para vaca a colar de monitoramento

Em sua fazenda, Rejane investe no conforto térmico das vacas, com ventiladores e sistemas de aspersão, além de adotar práticas de bem-estar animal, como o fornecimento de colostro aos bezerros — o primeiro leite materno, rico em imunoglobulinas e outros nutrientes, que ajuda a fortalecer o sistema imunológico.

Também são implementadas na fazenda práticas de agricultura regenerativa e de reaproveitamento da água. Os líquidos das atividades diárias, como a água utilizada na ordenha, na higienização dos mamilos das vacas e na lavagem dos tanques de leite, são direcionados para uma caixa de contenção e, depois, utilizados no plantio.

"Também investimos em energia renovável e instalamos uma usina solar, que atende 95% do consumo da fazenda e contribuiu para a redução da conta de energia: de R$ 20 mil passou para R$ 1 mil", conta Naisser Pinheiro, também proprietário da Fazenda Santa Rosa.

Segundo Mário Rezende, vice-presidente de Operações e Sustentabilidade da Danone, desde o início da Jornada Flora, há cinco anos, as iniciativas do programa possibilitaram um aumento de 15% na produtividade por vaca, 26% de crescimento médio na produção diária de leite e um aumento médio de 22% na renda dos agricultores.

A medição da pegada de carbono nas fazendas é realizada anualmente, em uma avaliação conduzida por uma consultoria especializada em parceria com o Sebrae.

"Essa análise considera as emissões por quilo de leite corrigido" diz Mário Rezende, da Danone.

O quilo de leite corrigido é uma forma de padronização que leva em conta a quantidade de gordura e proteína no leite. "Em dois copos, imagine um com leite mais 'gordo', com bastante creme (gordura), e outro sem gordura. Comparando somente a quantidade em litros, vão parecer iguais. Mas o copo com mais gordura tem mais energia e nutrientes, então, se uma vaca produz pouco leite, mas com muita gordura e proteína, ela pode estar sendo mais eficiente do que uma que produz muito leite com pouca qualidade", compara Rezende. "Os produtores que emitem menos de um quilo de CO2 equivalente por quilo de leite são classificados como de baixo carbono", explica.

A Nestlé, por sua vez, tem aplicado em 203 fazendas parceiras práticas avançadas de agricultura regenerativa, uso de dejetos no plano de fertilização e manejo integrado de pragas e doenças com uso de bioinsumos. O programa promove melhoramento genético, uso eficiente da água, produção de forragens mais nutritivas e adoção de energias renováveis, contribuindo para maior produtividade, rentabilidade e qualidade do leite.

Segundo a empresa, em termos de bem-estar animal, atualmente 39 mil vacas de suas propriedades parceiras vivem em ambientes climatizados, que proporcionam mais conforto e saúde. Em algumas fazendas, inclusive, os animais utilizam colares de monitoramento do comportamento, permitindo a detecção precoce de estresse, prenhez ou doenças.

"Desde a implementação do programa Nature por Ninho, mais de um bilhão de copos de leite já vieram de fazendas com práticas avançadas de agricultura regenerativa. As Fazendas Ouro, por exemplo, apresentam 35% mais produtividade por vaca, 15% mais rentabilidade, 18% menos pegada de carbono na silagem e 8% maior produtividade da silagem em comparação com fazendas convencionais", destaca Bárbara Sollero, da Nestlé Brasil.

 

Como funciona a seleção

Para selecionar produtores parceiros, as empresas realizam o mapeamento das fazendas fornecedoras. Em seguida, os produtores selecionados recebem capacitação técnica voltada para três áreas:

gestão das fazendas,

manejo animal,

bem-estar animal.

O treinamento é personalizado e conduzido por especialistas e parceiros como Sebrae, Embrapa e consultorias técnicas.

"O foco é garantir que os produtores tenham conhecimento e ferramentas para tomar melhores decisões, aumentar a produtividade e promover o cuidado com os animais — tudo isso dentro de um modelo que une rentabilidade e responsabilidade socioambiental", afirma Mário Rezende, da Danone.

Com isso, enquanto os produtores fornecem matéria-prima (leite) e recebem orientação especializada; empresas reduzem suas emissões de carbono e se mantém em mercados externos cada vez mais competitivos, onde práticas sustentáveis são um diferencial.

"Para apoiar a evolução contínua, as fazendas participantes do programa Nature por Ninho recebem visitas de especialistas e suporte técnico personalizado, com acompanhamento periódico, garantindo que a bonificação funcione não apenas como incentivo financeiro, mas também como ferramenta de engajamento e motivação para a adoção de práticas cada vez mais sustentáveis", ressalta Bárbara Sollero, da Nestlé Brasil.

 

Principais benefícios

Parcerias entre empresas e produtores são fundamentais para o bem-estar dos animais. De acordo com Paola Rueda, médica-veterinária e zootecnista, integrante da Comissão Técnica de Uma Só Saúde do CRMV-SP (Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado de São Paulo), vacas que vivem em condições adequadas são mais produtivas, mais saudáveis e produzem leite de melhor qualidade.

"Práticas de bem-estar animal também previnem doenças. Por exemplo, camas secas e limpas e manejo de ordenha correto reduzem a incidência de mastite e problemas locomotores, que são custosos da pecuária leiteira, pois impactam financeiramente, no bem-estar do animal e, consequentemente, na produtividade e qualidade do leite", diz Rueda.

No Brasil, a avaliação de bem-estar animal é feita por meio de indicadores. Entre eles estão:

a baixa incidência de doenças, como lesões de pele e, principalmente, mastite;

o comportamento dos animais, como o tempo que a vaca passa deitada, que indica baixo nível de estresse;

e a produtividade reprodutiva, já que vacas estressadas ou doentes têm sua função reprodutiva comprometida.

Esses indicadores mostram que o bem-estar animal não é apenas uma questão técnica, mas também uma escolha consciente de produtores comprometidos com a sustentabilidade.

"Posso ser uma gota no oceano, mas continuarei fazendo um trabalho bem-feito para incentivar outros produtores", afirma Rejane Maria, da Fazenda Santa Rosa.

As informações são do UOL.