Decisão da Argentina de zerar impostos de exportação pressiona agro brasileiro
Produtores brasileiros monitoram efeitos da iniciativa argentina, sobretudo na relação comercial com a China
A Argentina anunciou nesta semana duas medidas que podem impactar a competitividade do agronegócio brasileiro.
Na segunda-feira (22), o governo zerou os impostos de exportação sobre grãos e derivados até 31 de outubro de 2024 ou até que as vendas externas atinjam US$ 7 bilhões.
No dia seguinte, suspendeu também as tarifas sobre carne bovina e de aves, com validade até 31 de outubro de 2025.
“O governo nacional decidiu que também haverá zero impostos retidos na fonte sobre a exportação de aves e carne bovina até 31 de outubro. Este é o único governo que, diante da adversidade, responde reduzindo os impostos”, afirmou o porta-voz presidencial Manuel Adorni.
Soja: avanço argentino e compras chinesas
A suspensão das retenciones teve efeito imediato. Importadores chineses reservaram cerca de 20 cargas de soja argentina — aproximadamente 1,3 milhão de toneladas — desde segunda-feira, segundo a Reuters.
Cada embarque, de cerca de 65 mil toneladas, foi negociado para novembro, a um prêmio de US$ 2,15 a US$ 2,30 por bushel em relação ao contrato da Bolsa de Chicago (CBOT). Parte das compras envolve grãos da safra 2025, prevista para colheita a partir de abril.
A medida reduziu ainda mais a participação dos Estados Unidos no mercado chinês, já prejudicada pela guerra comercial entre os dois países.
Para o Brasil, maior exportador global da oleaginosa, a competição argentina pressiona preços e margens em contratos futuros, sobretudo na Ásia e no Oriente Médio.
Pecuária: efeitos limitados sobre o Brasil
Na pecuária, analistas avaliam que os impactos são menores. Embora a suspensão de impostos torne a carne argentina temporariamente mais competitiva, a escala e a qualidade da produção brasileira asseguram liderança no mercado global.

Segundo Roberto Perosa, presidente da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (ABIEC), a medida “pode gerar efeitos pontuais em alguns mercados, mas a escala e a qualidade da carne brasileira mantêm o país como fornecedor preferencial global”.

Na mesma linha, Fernando Iglesias, analista da Safras & Mercado, destacou ao Agro Estadão.
“O Brasil, hoje, já é muito mais competitivo que a Argentina no mercado global. Fora que nós temos uma escala de produção muito maior. A Argentina pode ficar um pouquinho mais competitiva, mas não a ponto ainda de alcançar o produto brasileiro.”
Competitividade e segurança de mercado
Especialistas ressaltam que as medidas argentinas são temporárias e estratégicas, voltadas a reforçar as reservas cambiais. Ainda assim, podem afetar negociações em andamento, sobretudo na América Latina e no Oriente Médio, onde o preço tem peso decisivo.
Fontes do setor lembram que o Brasil mantém vantagens estruturais em logística, escala produtiva e padrões sanitários, fatores que sustentam a posição do país como principal fornecedor mundial de soja, carne bovina e de aves.







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