Colheita de trigo no PR avança e pressiona cotações

Colheita ganha ritmo no PR e cotações recuam, um cenário que exige atenção do produtor

Colheita de trigo no PR avança e pressiona cotações
Ilustrativa

E aí, amigo produtor, a poeira das colheitadeiras mal começou a assentar no Paraná e o mercado já está reagindo. A notícia que chega do campo é boa, com as máquinas trabalhando a todo vapor, mas o reflexo nos preços acende um sinal de alerta. Nos últimos dias, vimos as cotações do trigo darem uma recuada, e entender o porquê é fundamental para planejar os próximos passos.

Basicamente, estamos diante de uma combinação de dois fatores poderosos: o aumento da oferta interna com o avanço da colheita paranaense e a queda do dólar, que deixa o trigo importado mais barato e competitivo. É o famoso jogo da oferta e da demanda acontecendo em tempo real, impactando diretamente o seu bolso.

O motor paranaense e a pressão da nova safra

Não é segredo para ninguém que o Paraná é um gigante na produção de trigo no Brasil. Por isso, quando a colheita engrena por lá, todo o mercado nacional sente o efeito. Com mais grão chegando aos armazéns e cooperativas, a oferta aumenta significativamente no mercado spot, aquele da negociação rápida, do dia a dia. Vendedores, como você, ficam mais dispostos a negociar para garantir liquidez e liberar espaço de armazenagem. Esse movimento natural de escoamento da produção cria uma pressão para baixo nos preços. Afinal, com mais produto disponível, os compradores ganham poder de barganha.

Essa dinâmica mostra como a movimentação no campo se reflete diretamente nos números. É um momento delicado, onde a euforia de uma boa produtividade no talhão pode ser ofuscada pela preocupação com a rentabilidade final. O produtor, que investiu em tecnologia e insumos durante meses, agora se vê na encruzilhada de vender a um preço menor para garantir o fluxo de caixa ou segurar o grão, apostando numa recuperação futura do mercado. A decisão não é simples e envolve análise de custos, capacidade de armazenamento e, claro, uma boa dose de percepção sobre as tendências do mercado.

A dança do dólar e seu peso na balança do trigo

Além do que acontece dentro da porteira, o mercado de trigo é extremamente sensível ao que acontece no cenário macroeconômico, especialmente com a taxa de câmbio. O Brasil, apesar de ser um grande produtor, ainda precisa importar uma parte do trigo que consome, principalmente para atender a indústria de panificação que exige tipos específicos do cereal. E é aí que o dólar entra em cena. Quando a moeda americana se desvaloriza frente ao Real, como observado recentemente, o custo de importação do trigo cai.

Imagine a situação do moinho: ele precisa comprar matéria-prima e tem duas opções, o trigo nacional e o importado. Com a queda do dólar, o cereal vindo de países como a Argentina se torna mais atraente. Para competir, o produtor brasileiro precisa ajustar seu preço para baixo. É uma disputa direta. Por isso, mesmo que seus custos de produção, como fertilizantes e defensivos, tenham sido cotados com um dólar mais alto, na hora da venda, o câmbio atual é quem dita as regras do jogo. Essa pressão externa se soma ao aumento da oferta interna, intensificando a queda nas cotações.

Por que os compradores estão com o pé no freio?

O levantamento do Cepea aponta outro fator crucial: os compradores estão retraídos. Mas o que isso significa na prática? Significa que as grandes indústrias e moinhos, que são os principais clientes do trigo nacional, não estão com pressa para comprar. Segundo a análise, eles já se abasteceram com cereal importado nos meses anteriores, provavelmente aproveitando janelas de oportunidade nos preços internacionais ou no câmbio, antecipando-se ao movimento da safra brasileira.

Essa estratégia dos compradores coloca o produtor em uma posição de negociação mais frágil. Com os silos cheios, a indústria pode esperar o avanço da colheita para exercer ainda mais pressão sobre os preços. Para o agricultor, essa tática se traduz em desafios concretos no dia a dia. Algumas das situações que você pode estar enfrentando incluem:

  • Dificuldade para fechar negócios com liquidez imediata.
  • Ofertas de compra com valores abaixo da sua expectativa de custo.
  • Necessidade de arcar com custos de armazenagem por mais tempo.
  • Aumento da incerteza sobre quando e por quanto conseguirá vender sua produção.

Essa retração é um movimento estratégico do mercado comprador, que joga com o tempo e a oferta para otimizar suas margens de lucro. Para o produtor, o antídoto é informação e planejamento.

Colheita ganha ritmo no PR e cotações recuam, mas e a safra menor?

Aqui temos um aparente paradoxo. Ao mesmo tempo em que os preços caem no curto prazo, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) ajustou para baixo sua estimativa para a safra brasileira de 2025. A projeção caiu para 7,536 milhões de toneladas, o menor volume desde 2020. A principal causa é uma forte redução na área plantada, que encolheu quase 20% em relação a 2024. Então, se vamos produzir menos trigo no total, por que os preços estão caindo agora?

A resposta está no tempo do mercado. A queda atual é uma reação imediata ao ‘choque de oferta’ causado pela colheita concentrada no Paraná. É o grão que está disponível agora que dita o preço do mercado spot. No entanto, a perspectiva de uma oferta total menor ao longo do ano-safra pode, sim, dar sustentação ou até mesmo elevar os preços nos próximos meses, quando o ímpeto da colheita diminuir e os estoques precisarem ser repostos. É um cabo de guerra entre o presente e o futuro.

Segundo pesquisadores do Cepea, o ligeiro aumento de 0,3% na produtividade (3,077 t/ha) não compensa a retração da área.

Essa informação da Conab, analisada pelo Cepea, é um dado estratégico. Ela sugere que, passada a pressão inicial, o mercado pode sentir a falta de produto nacional, abrindo espaço para uma valorização. Ficar atento a esses relatórios é essencial para não tomar decisões precipitadas baseadas apenas na cotação do dia.

Portanto, o cenário atual, onde a colheita ganha ritmo no PR e cotações recuam, é uma fotografia do momento, influenciada pela entrada da safra e pelo câmbio favorável aos importadores. Contudo, o filme completo, que inclui a projeção de uma produção nacional menor, ainda está se desenrolando. Para o produtor, este é um período que exige cautela, boa gestão de custos e, acima de tudo, acesso à informação de qualidade para navegar entre a pressão de venda imediata e a aposta em melhores condições de mercado no futuro. Analisar o próprio fluxo de caixa, a capacidade de armazenagem e acompanhar as tendências são as melhores ferramentas para transformar o suor da colheita em um resultado positivo.

AGRONEWS