Cotações do arroz em baixa: desafios da safra gaúcha

As cotações seguem em baixa no mercado de arroz. Entenda o cenário

Cotações do arroz em baixa: desafios da safra gaúcha
Ilustrativa

A vida no campo é feita de ciclos, e para o produtor de arroz, o momento atual é de atenção redobrada. De um lado, a concentração total na semeadura da safra 2025/26; do outro, a preocupação com os preços no mercado.

As últimas informações do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) indicam que as cotações seguem em baixa, um cenário que parece contraditório, considerando a menor oferta de arroz em casca no momento. Essa queda é influenciada por uma combinação de fatores complexos, que vão desde o clima instável no Rio Grande do Sul, com chuvas que atrasam o plantio, até a dificuldade da indústria em repassar custos e vender o arroz beneficiado para o consumidor final. Vamos mergulhar nesse cenário para entender o que está acontecendo e quais são as perspectivas para os próximos meses.

O cenário atual no Rio Grande do Sul

O Rio Grande do Sul é o coração da produção de arroz no Brasil, responsável por mais de 70% de toda a safra nacional, segundo dados do IBGE. Por isso, tudo o que acontece nos campos gaúchos reverbera por todo o país. Neste momento, a atenção dos orizicultores está voltada para o plantio da safra 2025/26. Tratores no campo, sementes no solo e a esperança de uma boa colheita ditam o ritmo. Essa concentração nas atividades de semeadura explica, em parte, a oferta limitada de arroz em casca. O produtor está mais focado em plantar do que em negociar a safra antiga que ainda tem em estoque. Em condições normais, uma oferta menor poderia sustentar ou até elevar os preços, mas o mercado tem outras variáveis em jogo.

Chuvas intensas acendem o alerta para o plantio

O clima é, e sempre será, o principal parceiro e, por vezes, o maior desafio do agricultor. As chuvas intensas que atingiram o estado gaúcho nas últimas semanas trouxeram um grande ponto de interrogação para a safra 2025/26. Pesquisadores do Cepea destacam que essa instabilidade climática já causa atrasos no cronograma de plantio em diversas regiões produtoras. Para o produtor, esse atraso não é apenas uma questão de calendário, mas de impacto direto na produtividade e nos custos.

As consequências de um plantio fora da janela ideal são conhecidas no dia a dia da lavoura:

  • Atraso na semeadura que pode empurrar o desenvolvimento da planta para períodos de clima menos favorável, como o excesso de calor ou a falta de luminosidade.
  • Dificuldade no manejo do solo, que fica encharcado e impróprio para o tráfego de máquinas.
  • Risco aumentado de perdas de sementes e fertilizantes, que podem ser lavados pela água.
  • Criação de um ambiente propício para o desenvolvimento de doenças fúngicas, exigindo maior investimento em defensivos.

Essa incerteza sobre o tamanho e a qualidade da futura safra gera preocupação entre os agentes do setor, mas, paradoxalmente, ainda não foi suficiente para reverter a tendência de queda nos preços atuais.

Por que as cotações seguem em baixa com pouca oferta?

Aqui entramos no ponto central que aflige o produtor. Se a oferta de matéria-prima está baixa e há incertezas sobre a próxima safra, por que as cotações seguem em baixa? A resposta está na outra ponta da cadeia: o consumo. De acordo com o levantamento do Cepea, a indústria de beneficiamento, que compra o arroz em casca do produtor e o transforma no arroz branco que chega à nossa mesa, está com dificuldades nas vendas. Os compradores relatam um mercado de arroz beneficiado lento, com dificuldade para repassar qualquer aumento de custo para os supermercados e, consequentemente, para o consumidor.

Essa pressão no final da cadeia produtiva cria um efeito dominó. Sem conseguir vender bem o produto final, a indústria se torna mais cautelosa na hora de comprar a matéria-prima. Ela evita formar grandes estoques e pressiona os preços para baixo, buscando garantir uma margem mínima de lucro. É por essa razão que, mesmo com os produtores gaúchos segurando a venda e focados no plantio, o cenário observado é um em que as cotações seguem em baixa, refletindo a fragilidade da demanda e não a disponibilidade imediata do grão.

A visão do mercado e as expectativas futuras

A cautela é a palavra de ordem no mercado neste momento. A informação de que os lotes negociados representam menos da metade do volume habitual é um termômetro claro dessa realidade. Ninguém quer arriscar. A indústria compra apenas o necessário para manter suas operações, enquanto o produtor, capitalizado ou não, segura o que pode, aguardando um cenário de preços mais favorável. Esse cabo de guerra define o ritmo lento dos negócios.

Colaboradores consultados pelo Cepea comentam que os lotes pontualmente negociados não representaram nem metade do volume habitual adquirido.

Para entender a fundo as melhores práticas de cultivo e como o clima pode impactar a produtividade, informações de instituições de pesquisa são fundamentais. A Embrapa, por exemplo, oferece um vasto material técnico que pode auxiliar o produtor a tomar decisões mais assertivas. Olhando para frente, as expectativas estão atreladas ao avanço do plantio no Sul e ao comportamento do consumo. Se o atraso no campo se agravar, poderemos ver uma reversão de preços, mas se a demanda continuar fraca, a pressão baixista pode continuar.

O que o produtor pode fazer neste cenário?

Navegar por este cenário exige do produtor de arroz uma combinação de paciência, planejamento e informação de qualidade. O momento atual demonstra a complexa teia que conecta o campo à cidade. As chuvas no Rio Grande do Sul não afetam apenas o cronograma de plantio, mas também semeiam incertezas sobre o futuro da oferta. É essencial manter um controle rigoroso do fluxo de caixa e buscar eficiência máxima na operação, otimizando o uso de insumos e monitorando de perto as condições da lavoura para agir rapidamente diante de qualquer adversidade.

A verdade é que as próximas semanas serão decisivas. A balança entre a oferta futura, potencialmente impactada pelo clima, e a demanda atual, que mantém as cotações em baixa, definirá os rumos do mercado de arroz para a safra 2025/26. É um jogo de estratégia onde cada informação conta para garantir a sustentabilidade do negócio ao longo do ciclo produtivo.