Preço da mandioca dispara com oferta restrita no campo
O preço da mandioca no campo está subindo e não é pouco, veja mais informações a seguir
Pela oitava semana consecutiva, produtores e indústrias acompanham uma valorização expressiva da raiz, um movimento que reflete um desequilíbrio claro entre o que está sendo colhido e o que a indústria precisa. O principal culpado? O tempo. A baixa umidade e as chuvas isoladas na maioria das regiões produtoras estão limitando não apenas o volume, mas também a qualidade da mandioca disponível.
Com raízes mais novas apresentando baixa produtividade e menor teor de amido, os agricultores seguram a comercialização, esperando melhores condições. Do outro lado, as fecularias operam com a demanda aquecida e estoques cada vez mais baixos, criando um cenário de disputa pela matéria-prima que joga os preços para o alto, como aponta o mais recente levantamento CEPEA.
O clima como fator decisivo na oferta
Quem vive do agro sabe que o céu dita o ritmo da lavoura, e com a mandioca não é diferente. As chuvas recentes, descritas pelo Cepea como “isoladas e pouco volumosas”, não foram suficientes para reverter um quadro de estresse hídrico que afeta as principais bacias de produção. A falta de umidade contínua no solo impacta diretamente o desenvolvimento das raízes, que é o produto final da cultura. Plantas estressadas tendem a produzir menos por hectare e, crucialmente, acumulam uma menor porcentagem de amido, o componente mais valioso para a indústria de transformação.
Essa condição climática coloca o produtor em uma encruzilhada. Colher agora significa entregar um produto com menor rendimento industrial, o que pode resultar em uma remuneração insatisfatória, mesmo com a tonelada em alta. Muitos optam por esperar, na esperança de que chuvas mais consistentes possam recuperar parte do potencial produtivo das lavouras, especialmente das mais novas. Essa decisão estratégica de adiar a colheita acaba por reduzir ainda mais a oferta de matéria-prima no mercado, intensificando a pressão sobre os preços. A análise MANDIOCA/CEPEA deixa claro que a oferta segue abaixo da demanda industrial em muitas praças importantes.
A conta que o produtor faz na hora de vender
A decisão de comercializar a produção de mandioca vai muito além de simplesmente olhar o preço da tonelada. O produtor rural precisa fazer uma análise detalhada que envolve produtividade, custos e expectativas futuras. Com o cenário atual, a valorização nominal pode ser enganosa se o rendimento por área estiver baixo. Vender menos toneladas por hectare, mesmo a um preço maior, pode não cobrir os custos de produção e gerar o lucro esperado. Por isso, o interesse pela venda, especialmente das raízes plantadas mais recentemente, continua limitado.
Na prática, o raciocínio do agricultor envolve diversos pontos de verificação antes de fechar negócio com uma fecularia. A gestão da propriedade passa por decisões como:
- Avaliar o teor de amido das raízes, que define o rendimento e o preço final.
- Calcular a produtividade atual em toneladas por hectare para estimar a receita bruta.
- Comparar o valor ofertado com os custos de produção, que incluem insumos, mão de obra e arrendamento.
- Apostar na melhora do clima para colher mais tarde, buscando um maior volume e qualidade.
Essa cautela por parte dos produtores é um dos motores da alta de preços. Enquanto eles aguardam o momento ideal para a colheita, a indústria que depende da raiz como matéria-prima enfrenta dificuldades para manter suas operações em pleno funcionamento.

Análise CEPEA dos preços e estoques
Os números divulgados pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada traduzem essa tensão do mercado em valores concretos. O valor médio nominal a prazo da tonelada de mandioca posta na fecularia atingiu R$ 563,83, o que representa uma alta de 2% em apenas uma semana e um acumulado de 7,5% em quatro semanas. O preço por grama de amido, indicador fundamental para a indústria, chegou a R$ 0,9806, refletindo a valorização da qualidade da matéria-prima disponível.
No entanto, o relatório também traz uma perspectiva mais ampla. Ao analisar os preços em termos reais, ou seja, descontando a inflação (com base no IGP-DI), a média atual está 10,7% abaixo da registrada no mesmo período do ano anterior. Isso mostra que, apesar da forte escalada recente, o poder de compra do produtor ainda não recuperou os patamares de 2024. Do lado da indústria, a situação é igualmente desafiadora. Com a oferta restrita e o baixo rendimento industrial, a produção de fécula segue limitada, e os estoques caíram pela décima semana consecutiva, atingindo o menor nível desde maio.
A indústria da fécula sente o impacto direto
A demanda por fécula de mandioca, por outro lado, não dá sinais de arrefecimento. O amido é um ingrediente versátil, utilizado em uma vasta gama de produtos, desde o tradicional pão de queijo e a tapioca até alimentos processados, embutidos, papéis, colas e até mesmo na indústria têxtil. Com o mercado consumidor aquecido, as fecularias enfrentam uma corrida contra o tempo para garantir matéria-prima e atender aos seus contratos. A dificuldade em recompor os estoques se tornou uma dor de cabeça para o setor.
Com a oferta de mandioca abaixo das expectativas e o menor rendimento industrial, a produção de fécula segue limitada em todas as regiões acompanhadas pelo Cepea. A demanda, por outro lado, permanece aquecida, e muitas empresas têm enfrentado dificuldades para recompor estoques.
Essa dinâmica cria um gargalo na cadeia produtiva. As indústrias precisam pagar mais pela raiz para atrair os produtores, e esse custo maior tende a ser repassado para os produtos finais. A falta de matéria-prima de qualidade também pode afetar a eficiência da produção, aumentando os custos operacionais. É um cenário que exige planejamento e negociações cuidadosas de ambos os lados, tanto de quem vende a raiz quanto de quem a transforma.
Perspectivas para o mercado de mandioca
O futuro de curto prazo para o mercado de mandioca está, literalmente, dependendo do céu. A regularização das chuvas é o fator mais aguardado para normalizar o desenvolvimento das lavouras, melhorar a produtividade e, consequentemente, equilibrar a oferta e a demanda. Caso o padrão de umidade baixa persista, a tendência é que os preços continuem pressionados, mantendo o cenário de alerta para a indústria. Acompanhar os informes, como o relatório torna-se essencial para a tomada de decisão.
A longo prazo, o setor pode se beneficiar de investimentos em tecnologia e manejo. A Embrapa e outras instituições de pesquisa desenvolvem constantemente cultivares de mandioca mais tolerantes à seca e com maior potencial de acúmulo de amido. A adoção de práticas de manejo sustentável do solo e da água também pode ajudar a mitigar os efeitos das variações climáticas, garantindo maior estabilidade para essa cadeia produtiva tão importante para o agronegócio brasileiro, da agricultura familiar à grande indústria.
O cenário atual, portanto, é um reflexo claro da complexa interação entre clima, decisões do produtor e a dinâmica industrial. A alta de preços, embora benéfica para quem consegue colher um bom produto, acende um sinal de alerta para toda a cadeia. O equilíbrio depende da normalização da oferta, um evento que todos no setor aguardam com grande expectativa, monitorando tanto as previsões do tempo quanto os boletins de mercado.







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