Etanol de milho avança no Matopiba e impulsiona nova fronteira da bioenergia

Região recebe novos investimentos em biorrefinarias e reforça papel do Brasil no mercado de combustíveis renováveis

Etanol de milho avança no Matopiba e impulsiona nova fronteira da bioenergia
Ilustrativa

O etanol de milho, já consolidado no Centro-Oeste como alternativa energética, começa a ganhar espaço em uma nova região estratégica: o Matopiba — que reúne áreas do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia.

A chegada de biorrefinarias à área deve ampliar a produção nacional e consolidar novos polos de bioenergia no país.

Após se firmar como responsável por 23% de todo o etanol brasileiro, o milho move agora investimentos no Matopiba. Estão em andamento três usinas em construção, uma recém-inaugurada e outras quatro aguardando autorização da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), aponta apuração feita pelo Estadão. 

Somados, esses empreendimentos terão capacidade de 7,3 mil metros cúbicos de etanol por dia — volume bem superior ao previsto para as regiões Sul e Norte (sem incluir o Tocantins), de 1,7 mil e 1,2 mil metros cúbicos diários, respectivamente.

Ainda assim, o Centro-Oeste segue imbatível: a região tem hoje capacidade de 29,5 mil metros cúbicos por dia e deve alcançar 50 mil, segundo o Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea).

Solução global

Produzido a partir do milho, da cana-de-açúcar e até de culturas como o sorgo, o etanol é apontado pela Agência Internacional de Energia (AIE) como peça-chave na transição energética.

No Brasil, a baixa presença do etanol no Matopiba e a abundância de grãos justificam a expansão industrial. Em 2023, Maranhão, Tocantins e Piauí figuraram entre os estados que menos reduziram emissões de veículos leves com biocombustível. O contraste com Mato Grosso é marcante: o estado evitou 81,5% das emissões potenciais, de acordo com o Observatório de Bioeconomia da FGV.

Investimentos e demanda reprimida

Empresas do setor enxergam no Matopiba uma “demanda adormecida”. A Inpasa, que já atua no Paraguai e em cinco estados brasileiros, inaugurou em 2025 uma biorrefinaria em Balsas (MA), com aporte de R$ 2,5 bilhões. Para 2026, está prevista outra unidade em Luís Eduardo Magalhães (BA), com investimento de R$ 1,3 bilhão.

As condições climáticas, porém, representam desafio. A região registra chuvas irregulares e temperaturas mais altas, o que limita a safrinha de milho. Para contornar a escassez, o setor aposta no sorgo, cereal mais resistente à seca, além de diversificar a biomassa usada na geração de energia das plantas, incorporando cavaco de eucalipto, pinus, bambu, palha, bagaço de cana e até caroço de açaí. 

Expansão nacional e internacional

O avanço não se restringe ao Matopiba. Segundo o Imea, o Brasil conta atualmente com 24 biorrefinarias em operação, 18 em construção e 19 aguardando autorização da ANP.

O movimento é impulsionado pelo aumento da mistura obrigatória de etanol na gasolina — de 27% para 30% em 2025 — e pelo potencial de uso em combustíveis sustentáveis para aviação (SAF) e transporte marítimo.

Diferenciais do Brasil

A competitividade brasileira no setor vai além da abundância de grãos. As usinas nacionais têm menor pegada de carbono do que as norte-americanas, já que utilizam principalmente biomassa de reflorestamento para geração de vapor, enquanto nos Estados Unidos predomina o gás fóssil.

O clima tropical é outro diferencial: permite duas ou mais safras por ano na mesma área, sem necessidade de avanço sobre florestas — cenário inviável no Corn Belt americano, limitado pelos invernos rigorosos.

Além disso, o consórcio milho-soja traz ganhos ambientais, melhorando a qualidade do solo e reduzindo o uso de fertilizantes, cuja produção libera grandes quantidades de gases de efeito estufa.