Pecuária reage com preços firmes e exportações recordes
Pecuária reage com preços firmes e exportações recordes
O mês de outubro chegou trazendo um novo fôlego para o pecuarista. Depois de um período de incertezas, os preços do boi gordo voltaram a apresentar firmeza no mercado spot, com pequenas altas sendo registradas em diversas praças, incluindo a de São Paulo. Segundo os levantamentos do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), essa movimentação positiva devolve o ânimo ao produtor na hora de negociar seus animais.
O cenário é impulsionado por dois fatores principais: a oferta mais restrita de animais de pasto devido ao tempo seco e uma demanda internacional aquecida, que resultou em um cenário onde as exportações são recordes. Esse conjunto de fatores cria um ambiente mais favorável para a sustentação das cotações da arroba, um alívio bem-vindo para quem trabalha no campo.
O cenário nas fazendas: pasto seco e olho no cocho
Quem vive o dia a dia da fazenda sabe bem o que o tempo seco significa. A falta de chuvas impacta diretamente a qualidade e a disponibilidade das pastagens, que são a base da alimentação do nosso rebanho. Com o capim mais ralo e com menor valor nutritivo, a oferta de animais prontos para o abate, os chamados “bois de pasto”, diminui consideravelmente. Muitos produtores optam por segurar os animais, esperando por melhores condições de pasto ou por preços mais atrativos, o que enxuga a disponibilidade no mercado spot e ajuda a sustentar os preços. Nesse período, a gestão se torna ainda mais crucial.
As decisões do pecuarista durante a seca são complexas e envolvem uma análise cuidadosa dos custos e das projeções de mercado. O produtor precisa estar atento a diversos pontos para garantir a saúde do rebanho e a viabilidade do negócio. Algumas das práticas e preocupações mais comuns nesse período incluem:
- Monitorar constantemente a condição corporal do gado para evitar a perda de peso.
- Ajustar a suplementação alimentar, fornecendo mais proteína e energia no cocho para compensar a deficiência do pasto.
- Planejar a venda estratégica de alguns animais para reduzir a pressão sobre a área de pastagem.
- Avaliar o custo-benefício de transferir os animais para um sistema de confinamento.
Confinamento como estratégia na entressafra
Diante da escassez de pasto, o confinamento se apresenta como a principal alternativa para a terminação dos animais. Nesse sistema, o gado é alimentado com uma dieta balanceada no cocho, garantindo o ganho de peso necessário para o abate. No entanto, o cenário atual mostra que boa parte dos lotes confinados já está comprometida com contratos fechados anteriormente com a indústria frigorífica. Isso significa que, embora haja animais sendo preparados, a oferta disponível para negociação imediata no mercado spot ainda é limitada.
Aos poucos, a parcela de animais confinados ainda por negociar tem aumentado, o que pode trazer mais liquidez ao mercado nas próximas semanas. A decisão de confinar é um cálculo complexo para o produtor, que precisa pesar os altos custos da ração, principalmente milho e farelo de soja, contra o preço esperado da arroba no futuro. Uma gestão financeira apurada é fundamental para que a estratégia do confinamento seja lucrativa e ajude a regular a oferta de carne de qualidade durante a entressafra.
No atacado, preços firmes refletem a demanda
A firmeza de preços não se restringe à fazenda. No mercado atacadista da Grande São Paulo, que serve como um importante termômetro do consumo, os preços da carne com osso também registraram leve valorização. Segundo o Cepea, as vendas são consideradas normais para um início de mês, período em que o poder de compra do consumidor é tradicionalmente maior devido ao recebimento dos salários. Essa demanda constante no varejo ajuda a dar sustentação para toda a cadeia produtiva.
Quando o consumidor vai ao açougue ou ao supermercado e continua comprando, o frigorífico sente mais segurança para negociar com o pecuarista, mantendo os preços da matéria-prima em patamares estáveis. É um ciclo que conecta o poder de compra na cidade com a realidade produtiva no campo, e a estabilidade em ambos os elos é essencial para a saúde do setor como um todo. A valorização dos cortes no atacado indica que o mercado está absorvendo bem a oferta atual.
Por que as exportações são recordes e quem compra?
Se a oferta interna está mais justa, a demanda externa nunca esteve tão forte. Os dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) são impressionantes e mostram a força da carne brasileira no mundo. Em setembro, o Brasil embarcou um volume histórico de 348 mil toneladas de carne bovina, somando produtos in natura e industrializados. Esse foi o maior volume mensal já registrado desde o início da série histórica, em 1997. Com esse desempenho, o acumulado do ano já supera em mais de 15% o resultado do mesmo período de 2024.
O Brasil comprova sua força no mercado global, e os números que mostram que as “exportações são recordes” não deixam dúvidas. A qualidade, a escala de produção e o status sanitário do rebanho brasileiro são diferenciais competitivos. Instituições como a Embrapa trabalham continuamente no desenvolvimento de tecnologias para aumentar a produtividade de forma sustentável, fortalecendo nossa posição de liderança.
A pecuária de corte brasileira tem evoluído significativamente em termos de produtividade e sustentabilidade, atendendo aos rigorosos padrões de mercados internacionais, o que solidifica a confiança dos países importadores.
Os grandes protagonistas desse movimento são a China e Hong Kong, que juntos responderam por mais da metade de toda a carne vendida pelo Brasil. A demanda asiática é o principal motor por trás do fato de que nossas exportações são recordes, e essa parceria estratégica é fundamental para a balança comercial do agronegócio e para a rentabilidade do pecuarista brasileiro. A indústria frigorífica opera com forte demanda externa, garantindo o escoamento da produção.
O que esperar para os próximos meses?
O futuro próximo do mercado do boi gordo dependerá do equilíbrio entre esses fatores. De um lado, a oferta interna deve permanecer relativamente restrita até que as chuvas se regularizem e as pastagens comecem a se recuperar, o que tende a manter os preços firmes. A transição da seca para o período das águas é sempre um momento de atenção para o produtor, que precisa planejar o manejo do rebanho para a nova estação.
Do outro lado, o desempenho das vendas externas será o grande fiel da balança. A grande questão é se o ritmo se manterá nos próximos meses. A continuidade da forte demanda da China e a abertura de novos mercados são essenciais para absorver a produção brasileira e garantir a liquidez do setor. O pecuarista deve seguir atento aos indicadores de mercado, tanto internos quanto externos, para tomar as melhores decisões de venda.
O cenário de outubro combina desafios no campo, com a seca e os custos de produção, com grandes oportunidades no mercado global. A firmeza nos preços da arroba, impulsionada pela oferta contida e pela demanda aquecida, traz um horizonte mais positivo. O fato de que das exportações estarem em alta traz uma camada de segurança e otimismo para toda a cadeia da carne, mostrando que o produto brasileiro tem qualidade, competitividade e um lugar de destaque na mesa do consumidor mundial. Para o produtor, é tempo de gestão, planejamento e de colher os frutos de um trabalho bem-feito.
AGRONEWS








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