Preços do arroz em queda geram alerta no setor produtivo
Os preços baixos do arroz preocupam produtores e indústria, veja mais informações a seguir
Para quem vive da lavoura, o período da colheita é o momento mais aguardado do ano, a hora de ver o resultado de meses de trabalho duro. No entanto, para os orizicultores brasileiros, o cenário atual tem trazido mais apreensão do que celebração. Uma queda contínua e acentuada nos valores do arroz em casca está pressionando as margens de lucro e colocando em risco a sustentabilidade da atividade. Diante dessa realidade, o setor produtivo e a indústria se uniram para reivindicar uma série de medidas emergenciais.
O objetivo é claro: criar um ambiente mais justo e competitivo para o grão nacional, garantindo que o produtor consiga cobrir seus custos e continuar investindo. A situação, apontada em levantamento recente do Cepea, acende um alerta para toda a cadeia produtiva.
Entendendo a crise e o impacto dos preços baixos
Quando falamos em preços baixos, o problema vai muito além de um número menor na nota fiscal do produtor. A questão é matemática: os custos de produção, como fertilizantes, defensivos, combustível e mão de obra, não param de subir, enquanto o preço de venda do arroz cai. Essa tesoura de preços espreme a rentabilidade do agricultor, tornando a atividade insustentável a longo prazo. A dificuldade em fechar as contas compromete não apenas o sustento da família rural, mas também sua capacidade de investir em tecnologia, maquinário e na preparação para a próxima safra, criando um ciclo de descapitalização.
Essa crise não se limita à porteira da fazenda. A orizicultura é a base econômica de muitas cidades, especialmente no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina, os maiores produtores do país. Quando o produtor rural tem menos dinheiro no bolso, todo o comércio local sente o impacto, desde a loja de insumos até o supermercado. Portanto, garantir um preço justo para o arroz é fundamental para a saúde econômica de regiões inteiras. Os atuais preços baixos representam uma ameaça direta a esse equilíbrio, exigindo uma resposta rápida e coordenada.
A batalha fiscal no centro do debate
Uma das principais frentes de atuação do setor é a busca por alívio tributário. Duas siglas estão no centro dessa discussão: CDO e ICMS. A Taxa de Cooperação e Defesa da Orizicultura (CDO), cobrada principalmente no Rio Grande do Sul, é uma contribuição voltada para financiar pesquisas e ações de desenvolvimento do setor, administrada pelo Instituto Rio-Grandense do Arroz (IRGA). Embora sua importância seja reconhecida, a proposta é que ela seja suspensa temporariamente. A ideia é dar um fôlego financeiro imediato ao produtor, que sentiria um alívio direto no bolso em um momento de preços baixos.
Outro ponto crucial é a redução do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS). Esse imposto estadual incide sobre a comercialização do arroz e impacta diretamente sua competitividade frente ao produto importado e de outros estados. Uma alíquota menor poderia baratear o arroz nacional no mercado interno e torná-lo mais atrativo para o consumidor e para a indústria. Na prática, as medidas fiscais propostas buscam:
- Aliviar o caixa do produtor com a suspensão temporária da CDO.
- Aumentar a competitividade do arroz brasileiro com um ICMS mais baixo.
- Permitir que o agricultor tenha mais capital de giro para honrar compromissos e planejar o futuro.
Concorrência externa e os desafios da logística
O mercado brasileiro de arroz não opera isolado. A forte concorrência do grão importado, especialmente do Paraguai, é um fator de grande peso na formação dos preços. O arroz paraguaio chega ao Brasil com custos mais baixos, resultado de uma estrutura produtiva e tributária diferente, o que pressiona para baixo as cotações do produto nacional. O setor produtivo argumenta que é preciso criar mecanismos para equilibrar essa disputa, garantindo que a concorrência seja justa e não predatória para o agricultor brasileiro.

Além da porteira para fora, os desafios internos também pesam. A Associação Brasileira da Indústria do Arroz (Abiarroz) aponta que os custos logísticos têm se tornado um gargalo. Um dos pontos de atrito é a fiscalização da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), que, segundo a entidade, tem gerado custos adicionais e burocracia no transporte do grão. Em um cenário de preços baixos, cada centavo conta, e o aumento dos custos com frete corrói ainda mais a pequena margem que resta.
“A eficiência da lavoura não pode ser perdida na estrada. O custo logístico é um componente vital na formação do preço final, e em momentos de crise como o atual, otimizar essa etapa é essencial para a sobrevivência de toda a cadeia produtiva”, explica um analista do setor.
Safra 2025/26: um cenário de incertezas
Olhando para o futuro, as primeiras projeções da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) para a safra 2025/26 trazem um misto de preocupação e esperança. A estimativa inicial aponta para uma queda de 10,13% na produção nacional, que deve chegar a 11,46 milhões de toneladas. Em tese, uma oferta menor no mercado poderia ajudar a recuperar os preços. No entanto, o volume previsto, embora menor que o da safra anterior, ainda supera os resultados das temporadas 2022/23 e 2023/24. Isso significa que a pressão da oferta pode não diminuir tão rapidamente quanto o setor gostaria.
Ainda, destacamos outra preocupação que afeta a credibilidade do mercado: irregularidades na classificação e na embalagem do arroz beneficiado. Essa prática desleal prejudica as empresas que trabalham corretamente e engana o consumidor, gerando uma concorrência desonesta que também contribui para aviltar os preços. A fiscalização mais rigorosa dessas práticas é vista como essencial para restaurar a confiança e a ordem no mercado. O caminho para a recuperação dos preços baixos ainda parece desafiador e dependerá de muitos fatores, incluindo o clima, as políticas governamentais e o comportamento do mercado internacional.
A situação do setor orizícola é um quebra-cabeça complexo, onde cada peça — impostos, logística, concorrência e produção — precisa se encaixar para garantir a sustentabilidade. As reivindicações apresentadas pelo setor não são apenas um pedido de ajuda, mas um plano estratégico para enfrentar a crise dos preços baixos e assegurar o futuro de um dos alimentos mais importantes da mesa dos brasileiros. A resposta do governo e a evolução do mercado nos próximos meses serão decisivas para determinar se os produtores de arroz terão motivos para sorrir na próxima colheita.







Comentários (0)
Comentários do Facebook