O futuro do leite no Sudoeste do Paraná passa pela eficiência e escala
O Sudoeste do Paraná vive uma transição na pecuária leiteira: menos produtores, maior produtividade e foco em eficiência, profissionalização e sucessão familiar.
Com a maior bacia leiteira do Paraná, o Sudoeste vive um processo de transição na atividade leiteira. A produção cresce, mas o número de produtores diminui. A região segue o caminho percorrido por outros países e por estados do Sul do Brasil, em um cenário de concentração, profissionalização e busca por maior eficiência produtiva.
“O fato da concentração de produtores é uma tendência mundial. Já ocorreu nos Estados Unidos, Argentina, Uruguai, Austrália e Nova Zelândia”, resume Valdomiro Leite, produtor rural, médico veterinário e diretor do Laticínios Latco. “Vai diminuindo o número de produtores e profissionalizando aqueles que ficam. O Sudoeste está se profissionalizando e está bem servido de indústrias.”
O diagnóstico é corroborado por Wilson Thiesen, presidente-executivo do Sindileite-PR, entidade que representa as indústrias de laticínios e que tem 93 anos de história. “Na realidade, há 15 anos, quando fizemos o primeiro levantamento, se divulgava 117 mil produtores. Depois verificamos e passamos a falar em torno de 70 mil e, no ano passado, o IDR comprovou que temos em torno de 37 mil que são realmente profissionais e entregam leite para a indústria. Isso também ocorre no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina”, afirma Thiesen. “A gente esperava que isso estabilizasse, e temos sentido que a saída de outros produtores está estagnada.”

Menos produtores, mais leite
Esse movimento não necessariamente representa redução na produção. Ao contrário: quem permanece na atividade aumenta o rebanho e melhora a produtividade, principalmente por meio do sistema de confinamento. “A partir do momento que você fecha as vacas, elas recebem uma melhor alimentação e produzem mais leite por dia”, explica Valdomiro.
Quando pequenos produtores deixam a atividade, os animais geralmente passam para as mãos daqueles que já possuem mais tecnologia e conhecimento. A saída dos pequenos ocorre, na maioria das vezes, por dois motivos: problemas de sucessão familiar e dificuldade na obtenção de mão de obra.
O desafio da sucessão familiar
A sucessão, apontada como um dos principais gargalos, está na pauta das entidades. “Já fizemos treinamentos, trouxemos especialistas, sobre o que pode ser feito na questão da sucessão familiar. Temos um longo caminho a percorrer”, admite Thiesen. “Isso passa pela automação da propriedade e também pela ampliação de órgãos prestadores de serviços.”
Assistência técnica e resistência às mudanças
Outro ponto sensível é a assistência técnica. Existem entidades públicas e privadas atuando no setor, mas nem todos os produtores aceitam as mudanças sugeridas pelos técnicos.
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“O produtor precisa da assistência, mas nem sempre admite as mudanças. Então, acaba sendo arredio. Já os produtores que encaram a assistência técnica como necessidade avançam”, analisa Valdomiro.
“Temos incentivado, num trabalho conjunto com a Faep, programas de assistência técnica integral e gerencial às propriedades. Não importa o tamanho do produtor, mas a sua eficiência”, complementa Thiesen.
Valorização e escoamento da produção
A profissionalização crescente é acompanhada por ações de valorização do produto. O Sindileite é um dos responsáveis pelo programa Leite das Crianças, que existe há mais de duas décadas, e também realiza ações educativas em Curitiba.
“Já fizemos avenidas do leite, num convênio com a prefeitura, levando as crianças das escolas para conhecer os processos produtivos, conscientizando os futuros consumidores a valorizarem o leite”, conta Thiesen. Além disso, o prêmio Queijos do Paraná ajuda a destacar os produtos regionais no mercado.
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O Sudoeste abastece uma grande quantidade de laticínios e fábricas de queijo, mas o consumo regional não acompanha o volume produzido. “É necessário levar os produtos para São Paulo, Curitiba, grandes centros. Acabamos concorrendo com mercados de fora, de Goiás e Minas Gerais, numa outra condição de preço e produto”, relata Valdomiro.
“Hoje, os três estados do Sul produzem mais leite que Argentina e Uruguai juntos”, reforça Thiesen.
Custo de produção e competitividade
O custo elevado de produção é um problema estrutural que ainda limita a competitividade do leite brasileiro. Os insumos são caros e o acesso a equipamentos e tecnologias, restrito.
“Precisaria de uma política estruturante para o produtor ter acesso a equipamento com custo menor, para que tivesse produtividade melhor e mais eficiente e assim conseguisse competir com argentinos e uruguaios”, defende Valdomiro.
“A produtividade de uma vaca da Argentina comparada com uma do Brasil ainda é muito grande. Mas, quando comparamos uma vaca da Argentina com uma do Sudoeste do Paraná, a diferença já não é tão grande.”
Futuro da atividade leiteira
Mesmo diante de tantos desafios, a atividade leiteira segue sendo uma das principais fontes de renda no Sudoeste do Paraná. Pequenos produtores eficientes devem continuar abastecendo as indústrias regionais.
As entidades representativas apostam na profissionalização e na ampliação de mercados para garantir o futuro do setor. Como parte dessas estratégias, o Sindileite projeta a criação de um núcleo regional no Sudoeste a partir de 2026, o que vai aproximar ainda mais a entidade das indústrias e produtores da região.
“Isso se faz necessário, porque temos um grande número de empresas filiadas e, como é a região maior produtora, temos que dar mais atenção”, afirma Thiesen.
O Sudoeste já mudou a sua pecuária leiteira nas últimas décadas e deve continuar transformando a atividade nos próximos anos. O caminho é claro: eficiência e escala.
Quem ficar, tende a produzir mais.
As informações são do Jornal de Beltrão.







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