Embrapa: quantos produtos lácteos diferentes existem no Brasil?
O leite é, sem dúvida, uma das matérias-primas mais versáteis e estratégicas para a indústria de alimentos.
O leite é, sem dúvida, uma das matérias-primas mais versáteis e estratégicas para a indústria de alimentos. A partir dele, obtem-se uma ampla gama de derivados que compõem a base da alimentação cotidiana dos brasileiros. Esses produtos variam em sabores, texturas, estados, entre outras características. Mas qual é, afinal, a dimensão dessa diversidade? Nesta edição da newsletter do Observatório do Consumidor (OC), apresentamos um panorama inédito sobre a variedade de produtos lácteos disponíveis no mercado nacional, com base em dados extraídos da ferramenta Desrotulando. O Desrotulando é um aplicativo colaborativo que reúne informações sobre a composição nutricional de alimentos industrializados. Os usuários enviam fotos de rótulos, que são analisadas pela equipe do app. Com mais de 60 mil produtos avaliados, ele não abrange todo o mercado brasileiro, mas representa uma grande base de dados sobre alimentos disponíveis no país.
Nosso levantamento mapeou o número de rótulos cadastrados por categoria de derivado lácteo revelando a amplitude das opções ao alcance do consumidor. Os resultados impressionam: são cerca de 3.700 produtos lácteos diferentes disponíveis nas prateleiras brasileiras. Essa diversidade, distribuída de forma desigual entre as categorias, ilustra a complexidade e a vitalidade do setor.
Detalhando os números
Como era de se esperar, a categoria com o maior número de rótulos cadastrados no aplicativo é a de queijos, respondendo sozinha por 23% dos produtos lácteos disponíveis nos supermercados brasileiros. No entanto, o requeijão foi considerado separadamente, dada a sua expressiva representatividade: 14% dos produtos do mercado nacional. Somadas, essas duas categorias correspondem a 37% de todos os laticínios avaliados, evidenciando o protagonismo dos queijos no consumo brasileiro. O caso do requeijão merece destaque: ele se consolidou como um item cotidiano nas mesas do país e, em número de rótulos, superou até a tradicional mussarela. Os preços mais acessíveis (especialmente nas versões com adição de amido) e a praticidade de uso, já que pode ser facilmente espalhado, ao contrário dos queijos fatiados ou cortados, contribuíram para o sucesso do produto no mercado brasileiro.
Diante desse sucesso do requeijão no mercado brasileiro, observa-se também o crescimento de versões “cremosas” ou “spreadable” de queijos tradicionais, como ricota e cheddar. Esses produtos chegam ao mercado com preços mais competitivos e atraem consumidores em períodos de alta inflação, como o atual. Vale lembrar ainda que a maioria das marcas de requeijão é regularizada e fiscalizada, enquanto o segmento de queijos (especialmente os frescos, como a muçarela) ainda convive com significativa informalidade comercial.
Depois dos queijos, o produto com maior diversidade no nosso levantamento foi a manteiga. Após anos perdendo espaço para a margarina, a manteiga retomou seu protagonismo com o avanço de estudos científicos que evidenciaram seus benefícios quando consumida de forma equilibrada. Presente tanto no café da manhã, como acompanhamento no pão, quanto em preparações culinárias mais elaboradas, ela se tornou também a queridinha dos chefs de cozinha. A versão com sal continua sendo a mais comum e consumida, representando 78% do mercado brasileiro.

Em terceiro lugar em número de produtos identificados, está o leite fluido, carro-chefe do setor lácteo brasileiro. O produto mais consumido do país também está entre os mais disponíveis. Embora não apresente grande variedade de tipos e sabores, como os queijos, o leite UHT aparece em 14 versões diferentes nas prateleiras, representando 14% dos laticínios do mercado nacional. Apenas na versão integral, foram encontradas 103 marcas diferentes. O leite pasteurizado aparece em 4 versões (integral, integral zero lactose, semidesnatado e semidesnatado zero lactose) e o leite em pó apenas na versão integral.
Essa grande pulverização de marcas reflete um mercado altamente competitivo, em que diversas empresas disputam espaço essencialmente por preço. Embora isso amplie as opções para o consumidor, tende a reduzir as margens de lucro da indústria, dificultando investimentos em inovação e diferenciação de produtos. Em segmentos maduros e de baixo valor agregado, como o leite UHT, essa guerra de preços pode comprometer a sustentabilidade econômica das empresas menores e reforçar a concentração de mercado em torno das grandes marcas, que conseguem operar com maior escala e eficiência logística.
Conclusão
A ampla diversidade de produtos lácteos disponíveis no mercado brasileiro reflete a força e a complexidade da cadeia do leite, mas também traz desafios importantes. De um lado, a variedade amplia o poder de escolha do consumidor e demonstra a capacidade de inovação e criatividade da indústria. De outro, a intensa competição por preço e a dificuldade de valorizar produtos premium no mercado brasileiro reduzem as margens de rentabilidade, especialmente em categorias de menor valor agregado. Embora existam nichos que valorizem qualidade e diferenciação, grande parte das decisões de compra dos brasileiros ainda é guiada por preço, indulgência e marca. Esse equilíbrio delicado entre diversidade, inovação e realidade de mercado exige estratégias que combinem diferenciação, qualidade e eficiência produtiva, que são elementos fundamentais para manter o setor lácteo competitivo e resiliente em um cenário de consumo em constante transformação.







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