CNA revela prejuízo de R$ 16,2 bi por ano com estradas vicinais precárias no Brasil

Estudo mostra que investimento anual de R$ 4,9 bilhões seria suficiente para reverter perdas e garantir o escoamento eficiente da produção

CNA revela prejuízo de R$ 16,2 bi por ano com estradas vicinais precárias no Brasil
Ilustrativa

A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) divulgou, nesta quarta-feira (8), um levantamento inédito sobre a situação das estradas vicinais no país.

Realizado em parceria com o Grupo de Pesquisa e Extensão em Logística Agroindustrial da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da USP (Esalq-Log), o estudo apresenta um diagnóstico detalhado da malha rural brasileira, estimando os prejuízos econômicos e ambientais causados pela falta de manutenção e apontando os investimentos necessários para reverter o quadro.

As estradas vicinais — vias não pavimentadas, geralmente de terra ou revestimento natural — são fundamentais para o transporte de insumos e o escoamento da produção agropecuária.

De acordo com o estudo, o Brasil possui 2,2 milhões de quilômetros dessas vias, das quais 367 mil quilômetros são estradas terciárias e 1,8 milhão (84,5%) são “não classificadas”, com espaço para apenas um veículo por vez.

Essas estradas são responsáveis por movimentar cerca de 1,4 bilhão de toneladas de produtos agropecuários por ano, incluindo soja, milho, cana-de-açúcar, frutas, leite e madeira, diz o levantamento. 

Quando estão em más condições, dificultam o acesso das comunidades rurais, elevam o custo logístico e comprometem a competitividade do agro brasileiro.

Prejuízo bilionário e custo de recuperação

Segundo o estudo, as más condições das estradas vicinais geram um prejuízo anual de R$ 16,2 bilhões, apenas em custos operacionais — como combustível, manutenção de veículos, tempo de transporte e perda de produtividade.

Para corrigir o problema, seriam necessários R$ 4,9 bilhões por ano para adequar 177 mil quilômetros de vias prioritárias, conforme o Índice de Priorização das Estradas Vicinais (Ipev), desenvolvido pela Esalq-Log para identificar as regiões com maior necessidade de investimento.

“O investimento de R$ 4,9 bilhões por ano para adequar as estradas vicinais a um padrão mínimo de qualidade não é apenas viável, é estratégico. Estamos falando de um valor que representa menos de um terço do prejuízo anual (R$ 16,2 bilhões) causado pelas más condições dessas vias, apenas em custos operacionais. Com esse aporte, seria possível melhorar a qualidade de vida da população rural e garantir o escoamento de alimentos com mais segurança e eficiência”, afirmou Elisangela Pereira Lopes, assessora técnica da Comissão Nacional de Logística e Infraestrutura da CNA.

O custo médio de manutenção das vias adequadas é de R$ 35 mil por quilômetro ao ano, e o investimento total para elevar toda a malha de estradas terciárias ao padrão mínimo seria de R$ 10 bilhões anuais.

Ganhos econômicos e ambientais

A melhoria das estradas vicinais poderia reduzir em até R$ 6,4 bilhões por ano os custos operacionais do setor agropecuário, gerando uma economia líquida de R$ 11,3 bilhões em relação ao cenário atual.

O levantamento também aponta benefícios ambientais: com estradas em boas condições, haveria redução no consumo de combustível e nas emissões de CO₂, estimadas em 1 milhão de toneladas por ano.

Diagnóstico e metodologia

Para validar os dados, a CNA e a Esalq-Log realizaram viagens de campo em oito estados — Bahia, Goiás, Maranhão, Minas Gerais, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Pará e Paraná. Foram percorridos 1.200 quilômetros e entrevistadas 150 pessoas, entre produtores rurais e secretários municipais de infraestrutura e agricultura.

Os principais problemas observados incluem buracos, erosões, atoleiros, acúmulo de água e pontes deterioradas, além da falta de recursos públicos e mão de obra técnica para manutenção contínua.

Recomendações e políticas públicas

O estudo “Panorama das Estradas Vicinais no Brasil” propõe medidas estruturantes para transformar a malha rural em um sistema eficiente e sustentável. Entre as recomendações estão:

fortalecer a articulação entre o poder público e a iniciativa privada;

capacitar equipes técnicas para manutenção contínua;

e criar canais diretos de comunicação com produtores rurais para priorizar as demandas locais.

A CNA também defende a aprovação do Projeto de Lei nº 1.146/2021, que cria a Política Nacional de Mobilidade Rural e Apoio à Produção – Estradas da Produção Brasileira, e a implementação do Programa Nacional de Estradas Vicinais (Proner), do Ministério da Agricultura, voltado à manutenção e readequação dessas vias.