O que o agro pode esperar de 2026?
Estudo do Rabobank traça as perspectivas para o campo em 2026 e aponta os fatores que vão influenciar o desempenho do setor
 
            O Rabobank divulgou, nesta quinta-feira (30), o relatório Perspectivas para o Agronegócio 2026, que apresenta as projeções do banco holandês para o cenário macroeconômico e as principais cadeias do setor.
Elaborado pelo RaboResearch Food & Agribusiness, o estudo indica um ambiente mais desafiador no curto prazo, com desaceleração econômica e margens comprimidas, mas prevê retomada gradual da rentabilidade a partir de 2027.
O banco projeta que o PIB brasileiro cresça 1,6% em 2026, após alta estimada de 2% neste ano, refletindo os efeitos defasados da política monetária restritiva.
O real deve enfrentar maior volatilidade, pressionado pela perda do diferencial de juros e pelas incertezas fiscais e eleitorais.
A inflação medida pelo IPCA deve encerrar 2026 em 4,2%, enquanto a taxa Selic pode cair gradualmente para 12,5% ao longo do ano. No exterior, os Estados Unidos mostram sinais de arrefecimento e a China busca sustentar o crescimento com novos estímulos fiscais e monetários.
O Rabobank ressalta que as tensões comerciais e geopolíticas devem manter o mercado global de commodities sob pressão.
Insumos: fertilizantes em alta e margens comprimidas
Os produtores rurais devem continuar enfrentando margens operacionais apertadas em 2026, com alívio esperado apenas para meados de 2027.
O Brasil deve registrar novo recorde de entregas de fertilizantes, entre 46,5 e 47,5 milhões de toneladas.
O custo médio da adubação subiu 7,4% em 2025, com destaque para a cana-de-açúcar, que registrou alta de 10,7%. O fósforo segue como principal ponto de atenção, diante das restrições às exportações chinesas.
O mercado de defensivos agrícolas apresenta sinais de recuperação após o excesso de estoques, devendo crescer 1,5% em volume e 1% em valor.
Ainda assim, o setor enfrenta concorrência crescente de empresas chinesas, o que tende a limitar as margens no curto prazo.
Cana, açúcar e etanol: dilema de mix e pressão nos preços
O Rabobank projeta que a safra 2026/27 de cana-de-açúcar no Centro-Sul pode superar 620 milhões de toneladas, caso o clima se mantenha regular.

O preço internacional do açúcar caiu ao longo de 2025 com a virada do balanço global de déficit para excedente, impulsionada pelo aumento da produção na Índia e na Tailândia.

Com uma nova safra robusta à frente, as usinas enfrentarão um dilema de mix: priorizar o açúcar, pressionando ainda mais os preços, ou o etanol, que também pode sofrer queda se a oferta crescer rapidamente.
Mesmo com margens mais estreitas, o setor chega financeiramente mais sólido, após reduzir endividamento e investir em produtividade e diversificação. O etanol de milho segue em expansão e deve contribuir para o equilíbrio de oferta no mercado de biocombustíveis.
Café: tarifas, EUDR e estoques moldam a volatilidade
O mercado de café deve seguir volátil entre o fim de 2025 e o início de 2026, influenciado por tarifas impostas pelos Estados Unidos, estoques baixos e a implementação do regulamento europeu EUDR.
O Rabobank projeta exportações entre 39 e 41 milhões de sacas em 2025/26 e produção de 62,8 milhões, sendo 38,1 milhões de arábica e 24,7 milhões de robusta.
A demanda doméstica deve crescer 1,2%, totalizando 21,7 milhões de sacas.
O clima segue como ponto de atenção, especialmente no Cerrado Mineiro, afetado por geadas, granizo e chuvas irregulares. A expectativa é de que os preços se mantenham sustentados no curto prazo, mas a normalização da oferta global pode pressionar as cotações no fim de 2026.

Soja: expansão moderada e risco geopolítico
A área plantada de soja deve crescer 2% em 2025/26, atingindo 177 milhões de toneladas, embora em ritmo inferior à média histórica de 4% ao ano. As exportações brasileiras devem repetir o recorde de 111 milhões de toneladas, sustentadas pela demanda chinesa.
O Rabobank alerta, porém, que um acordo comercial entre Estados Unidos e China pode redirecionar parte dessa demanda, reduzindo os prêmios nos portos brasileiros e pressionando os preços internos.
O processamento doméstico tende a aumentar para 60 milhões de toneladas, impulsionado pela política do Combustível do Futuro, que prevê o aumento da mistura obrigatória de biodiesel. A continuidade dessa medida em 2026 será decisiva para manter as margens de esmagamento em alta.
Milho: mercado interno ganha protagonismo
A produção total de milho projetada para 2025/26 é de 137 milhões de toneladas, sendo 110 milhões da safrinha e 27 milhões da safra de verão.
Apesar da leve queda ante o recorde anterior, o cereal deve continuar com forte demanda interna, sustentada pelos setores de aves, suínos e pelo etanol de milho, cuja utilização pode alcançar 28 milhões de toneladas em 2026.
Com a valorização do real e a concorrência norte-americana, as exportações brasileiras devem recuar levemente para 37 milhões de toneladas.
Nos Estados Unidos, a colheita recorde de 427 milhões de toneladas deve permitir recomposição dos estoques e pressionar os preços internacionais.
O Rabobank observa que o mercado interno brasileiro tornou-se referência de formação de preços, impulsionado pela bioenergia e pela expansão da capacidade industrial no Centro-Oeste.
Algodão: Brasil assume liderança global
O Brasil deve ultrapassar os Estados Unidos e se consolidar como líder mundial na exportação de algodão em pluma.
O Rabobank projeta área plantada acima de 2,1 milhões de hectares, o maior nível em 37 anos, e participação de 31% nas exportações globais, contra 28% dos norte-americanos.
Mesmo com queda nos preços domésticos e comercialização lenta — apenas 30% da safra 2025/26 vendida até outubro —, o setor segue competitivo e resiliente. A combinação de produtividade elevada e expansão de mercados deve manter o algodão como uma das commodities mais promissoras do agro brasileiro em 2026.
Proteína animal: exportações em alta, mas cenário volátil
O mercado de proteína animal deve continuar em ambiente de volatilidade em 2026, influenciado por fatores climáticos, geopolíticos, riscos sanitários e pelo poder de compra da população.
As barreiras comerciais e sanitárias seguem como os principais desafios para as exportações, dada a baixa previsibilidade e o alto potencial de ruptura, mesmo com os avanços ligados à regionalização junto a importantes parceiros comerciais.
As exportações de carnes bovina, suína e de frango devem registrar novo aumento em volume e faturamento, com destaque para a carne bovina, impulsionada pela expectativa de queda na oferta global.
Suco de laranja: recomposição dos estoques pressiona preços
Com a oferta em recuperação e a demanda retraída pelos altos preços no varejo, o Rabobank projeta um superávit de 250 mil toneladas equivalentes de FCOJ (suco concentrado congelado) na safra 2025/26, sustentado principalmente pela retomada da produção no Brasil.
A recomposição dos estoques globais deve ganhar relevância ao fim da safra, o que tende a manter os preços sob pressão.
O mercado aguarda as primeiras indicações da safra 2026/27, que serão determinantes para avaliar se o processo de recuperação dos estoques continuará por mais um ciclo.
Leite e celulose: crescimento moderado e excesso de oferta
A produção brasileira de leite deve apresentar crescimento moderado em 2026, influenciada por preços ao produtor ligeiramente menores no início do ano e por uma base de comparação elevada, após o forte avanço registrado em 2025.
Do lado da demanda, o cenário tende a permanecer moderadamente positivo, sustentado pela redução dos juros, pelos gastos públicos elevados e pelo desemprego em níveis baixos — fatores que devem apoiar o consumo de lácteos ao longo do ano.
Já o mercado de celulose segue pressionado pelo excesso de oferta global.
O setor ainda enfrenta dificuldades para absorver a capacidade adicional das novas plantas inauguradas na América do Sul em 2023 e 2024, além do aumento da celulose integrada na China, que deve acrescentar cerca de 5 milhões de toneladas de BHKP até 2027.
Apesar disso, o Brasil deve registrar novo recorde de exportações em 2026, superando a marca de 20 milhões de toneladas e ampliando sua presença no mercado norte-americano.
 
                        

 
                 
                 
                 
                 
                 
                 
                
 
         
         
        


 
                             
                             
                             
                             
                             
                             
                             
                             
                             
                            
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