Safra de trigo: chuvas no PR geram alerta na colheita

As chuvas no Paraná colocam em xeque a reta final da colheita de trigo, veja mais informações a seguir

Safra de trigo: chuvas no PR geram alerta na colheita
Ilustrativa

A safra de trigo brasileira vive um momento de dois pesos e duas medidas. Enquanto o produtor gaúcho comemora um clima favorável que promete uma produtividade recorde, os agricultores do Paraná olham para o céu com apreensão.

As precipitações registradas no estado acenderam um alerta, trazendo o risco de atrasos na colheita e, mais grave, de comprometer a qualidade dos grãos que ainda estão no campo. Esse cenário de contrastes, apontado por levantamentos do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), desenha um panorama complexo para o mercado, influenciando desde a projeção da safra nacional até a formação de preços para o cereal, um dos alimentos mais importantes na mesa dos brasileiros.

O cenário das chuvas no PR e seus impactos diretos

Para o produtor de trigo, a reta final do ciclo é decisiva. É o momento de colher o resultado de meses de trabalho e investimento. No entanto, as intensas chuvas no Paraná chegam na pior hora possível. O excesso de umidade não apenas impede a entrada das colheitadeiras nas lavouras, atrasando todo o cronograma, como também ameaça diretamente a qualidade do produto. Quando o trigo maduro fica exposto a longos períodos de chuva, a qualidade do grão pode ser severamente afetada, resultando em um menor Peso Hectolítrico (PH), que é um indicador crucial para a indústria de panificação.

Na prática, um trigo com baixo PH rende menos farinha e de qualidade inferior, o que leva a uma desvalorização do produto no momento da venda. Além disso, a umidade persistente cria um ambiente ideal para a proliferação de doenças fúngicas, que podem danificar os grãos e reduzir ainda mais o potencial produtivo. A situação gerada pelas chuvas no PR exige que os produtores monitorem suas lavouras de perto e se preparem para aproveitar qualquer janela de tempo seco para avançar com a colheita, minimizando as perdas.

Rio Grande do Sul: um contraste de otimismo e alta produtividade

Viajando mais ao sul, o clima conta uma história completamente diferente. No Rio Grande do Sul, as condições climáticas têm sido praticamente ideais. Chuvas fracas e bem distribuídas mantiveram a umidade do solo em níveis perfeitos para a fase final de enchimento dos grãos, o que está resultando em um potencial produtivo muito elevado. A diferença é clara: enquanto as chuvas no PR são torrenciais e prejudiciais, as precipitações gaúchas foram na medida certa.

Os números da Emater/RS confirmam esse otimismo. A expectativa é que a produtividade no estado alcance a marca de 3,261 toneladas por hectare, um impressionante aumento de 17,26% em comparação com o ano anterior. Esse rendimento deve levar a uma produção total de 3,721 milhões de toneladas. Esse desempenho excepcional no Rio Grande do Sul, somado à boa performance de Santa Catarina, está sendo fundamental para equilibrar a balança da produção nacional de trigo.

O que dizem os números da safra nacional?

O bom desempenho dos estados do Sul levou a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) a revisar para cima sua estimativa para a safra brasileira de trigo em 2025. O relatório mais recente projeta uma produção nacional de 7,698 milhões de toneladas. Embora esse número seja 2,2% maior do que a previsão do mês anterior, ele ainda representa uma queda de 2,4% em relação à safra recorde de 2024. A grande notícia, no entanto, está na produtividade média nacional, que foi ajustada para 3,142 toneladas por hectare, um salto de 21,8% sobre a temporada passada.

Segundo o relatório da Conab, a elevação da estimativa de produção e produtividade brasileira para 2025 foi impulsionada principalmente pelo maior rendimento esperado no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina, compensando potenciais perdas em outras regiões.

Essa projeção mostra a força e a resiliência da triticultura nacional, mas também acende um alerta sobre a dependência de condições climáticas favoráveis nas principais regiões produtoras. O desafio imposto pelas chuvas no PR é um lembrete de como o clima é um fator determinante para o sucesso da safra.

Fatores que pressionam os preços do trigo

Com uma safra nacional caminhando para um bom volume, apesar dos problemas pontuais, o mercado começa a sentir uma pressão sobre as cotações. De acordo com o Cepea, diversos fatores estão convergindo para um cenário de preços mais baixos. O primeiro deles é a própria expectativa de uma boa oferta interna. Quando há mais produto disponível, a tendência natural é que os preços se ajustem para baixo.

Além disso, o cenário externo também influencia. Um dólar mais enfraquecido torna o trigo importado mais competitivo no mercado brasileiro. A Argentina, nosso principal fornecedor do cereal, também projeta uma safra robusta, o que aumenta a disponibilidade de trigo no Mercosul e pressiona ainda mais os preços pagos ao produtor nacional. Essa combinação de boa oferta interna, câmbio favorável à importação e alta produção no país vizinho cria um ambiente desafiador para a rentabilidade do triticultor brasileiro.

Como o produtor pode se preparar para instabilidades climáticas?

O episódio das chuvas no PR reforça uma lição antiga do campo: o produtor precisa estar sempre um passo à frente. Embora não seja possível controlar o clima, existem estratégias e ferramentas que ajudam a mitigar os riscos e a tomar decisões mais assertivas. A agricultura moderna oferece um leque de opções para proteger a lavoura e o investimento.

Adotar boas práticas de manejo é o primeiro passo para construir lavouras mais resilientes. Algumas medidas importantes incluem:

  • Investir em cultivares de trigo mais adaptadas à sua região, com maior resistência a doenças e um ciclo que se ajuste melhor às janelas climáticas locais. Pesquisas desenvolvidas por instituições como a Embrapa Trigo são fundamentais para essa escolha.
  • Manter um sistema de plantio direto bem consolidado, que melhora a estrutura do solo e sua capacidade de drenagem, ajudando a reduzir os problemas com o excesso de umidade.
  • Utilizar ferramentas de agricultura de precisão e monitoramento climático para acompanhar a previsão do tempo com antecedência, permitindo um planejamento mais eficaz da colheita e das aplicações de defensivos.
  • Considerar a contratação de um seguro agrícola, uma ferramenta financeira essencial para proteger a renda contra perdas inesperadas causadas por eventos climáticos adversos.

O cenário atual, com as preocupações geradas pelas chuvas no PR e a euforia produtiva no RS, ilustra perfeitamente a complexidade do agronegócio. A safra de trigo de 2025 se desenha como uma temporada de contrastes, onde a performance excepcional de uma região ajuda a sustentar o resultado nacional. Para o produtor, fica a lição da importância do planejamento, da tecnologia e da gestão de riscos para navegar em um mercado influenciado tanto pelo clima local quanto pela economia global. Acompanhar as informações de fontes confiáveis é a chave para transformar desafios em oportunidades.

AGRONEWS