Preço da mandioca sobe e atinge maior valor desde fevereiro
A média nominal é a maior desde fevereiro, mas o que isso impacta no seu dia a dia, produtor?
Os últimos dados divulgados pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) trouxeram um misto de otimismo e cautela para o setor da mandiocultura. Na última semana, os preços da raiz atingiram seu maior patamar nominal desde o início do ano, um sinal que, à primeira vista, parece excelente. No entanto, por trás desses números, existe um cenário complexo que envolve a qualidade da matéria-prima, a estratégia dos produtores e o fantasma da inflação.
A oferta, mesmo com as chuvas recentes favorecendo os trabalhos no campo, continua restrita. Entender essa dinâmica é fundamental para planejar os próximos passos na lavoura e garantir a rentabilidade da sua produção em um mercado cheio de variáveis.
O que está por trás da alta nos preços da mandioca?
A principal razão para a firmeza nos preços é a boa e velha lei da oferta e da procura. A indústria de fécula (fecularia) e outros compradores estão demandando a matéria-prima, mas os produtores estão segurando a venda. Segundo o levantamento, a média nominal a prazo da tonelada de mandioca posta fecularia chegou a R$ 569,98. Este valor representa o maior patamar desde fevereiro deste ano, acendendo um alerta positivo no mercado.
Contudo, essa restrição na oferta não se deve a uma quebra de safra generalizada, mas sim a uma decisão estratégica do agricultor. Muitos estão optando por não colher as raízes de primeiro ciclo, que são aquelas mais jovens, geralmente com menos de 12 meses. O motivo é simples: essas plantas ainda não atingiram seu potencial máximo, resultando em menor produtividade por hectare e, principalmente, em um menor teor de amido, fator que impacta diretamente o preço pago pela indústria.
A média nominal é a maior desde fevereiro, mas a rentabilidade preocupa
O fato de que a média nominal é a maior desde fevereiro pode mascarar uma realidade crucial no campo: a rentabilidade. O produtor de mandioca se encontra em uma encruzilhada, especialmente aquele com lavouras de primeiro ciclo. A decisão de colher agora ou esperar envolve uma análise cuidadosa dos prós e contras, que impactam diretamente o faturamento ao final da safra.
A indústria de amido remunera o produtor com base na qualidade da raiz, especificamente na quantidade de amido por tonelada. Raízes de primeiro ciclo, por serem menos desenvolvidas, tendem a ter um teor de amido inferior. Conforme aponta, o preço atual equivale a R$ 0,9913 por grama de amido. Isso significa que uma carga com baixo teor de amido terá uma remuneração final menor, muitas vezes não cobrindo os custos de produção e colheita. Diante disso, o produtor precisa pesar suas opções:
- Colher agora: garante um fluxo de caixa imediato, mas com uma rentabilidade baixa ou até negativa devido à baixa qualidade e produtividade das raízes de primeiro ciclo.
- Esperar para o segundo ciclo: permite que a raiz se desenvolva por mais tempo (18 a 24 meses), aumentando significativamente o volume e o teor de amido, o que pode resultar em um lucro muito maior. Porém, isso implica em manter a cultura no campo por mais tempo, imobilizando a terra e assumindo os riscos climáticos e de mercado.
Entendendo a diferença entre preço nominal e preço real
Aqui entramos em um ponto fundamental para a saúde financeira do seu negócio. O preço nominal é o valor estampado na nota, os R$ 569,98 por tonelada. É um número importante, mas que não conta toda a história. Para entender o verdadeiro poder de compra, precisamos olhar para o preço real, que é o valor nominal descontando o efeito da inflação. É ele que nos diz se estamos ganhando mais ou menos do que no passado.
O relatório do Cepea é claro ao apontar que, apesar de a média nominal é a maior desde fevereiro, houve uma queda de 13,6% no preço em termos reais quando comparado ao mesmo período do ano anterior (valor deflacionado pelo IGP-DI). Na prática, isso significa que, mesmo com o preço mais alto no papel, o produtor consegue comprar menos insumos, máquinas e outros bens do que conseguia há um ano com o valor recebido pela sua mandioca. Essa percepção é vital para um planejamento financeiro preciso.

O papel do clima e as perspectivas para a safra
As chuvas que ocorreram nas últimas semanas em diversas regiões produtoras foram muito bem-vindas. Elas aliviam o estresse hídrico das plantas e facilitam os tratos culturais e a colheita. Para as lavouras que permanecerão no campo para o segundo ciclo, a umidade no solo é essencial para o desenvolvimento das raízes e o acúmulo de amido, melhorando as perspectivas de produtividade futura.
Instituições como a Embrapa Mandioca e Fruticultura constantemente pesquisam e orientam sobre as melhores práticas de manejo para maximizar o potencial da cultura em diferentes condições climáticas. A mandioca é conhecida por sua rusticidade, mas um regime de chuvas bem distribuído é um fator chave para alcançar altas produtividades.
Pesquisadores do setor explicam que as chuvas recentes são um alívio e melhoram o potencial produtivo das lavouras que ficarão no campo, mas não alteram a qualidade das raízes de primeiro ciclo que estão prontas para a colheita agora. O produtor ainda enfrenta um cenário delicado de decisão, e o clima dos próximos meses será decisivo para a oferta de 2026.
Como o produtor pode navegar neste cenário?
Diante de um mercado tão dinâmico, a informação de qualidade é a principal ferramenta do produtor. As previsões climáticas e as tendências da indústria ajuda a tomar decisões mais assertivas. Saber que a média nominal é a maior desde fevereiro é um dado importante, mas é a análise completa do cenário que fará a diferença.
O planejamento da colheita deve ir além do preço do dia. É preciso colocar na ponta do lápis os custos de produção, o custo de oportunidade de manter a terra ocupada e a expectativa de preços futuros. Para alguns, vender uma parte da produção agora para fazer caixa pode ser uma estratégia válida, enquanto para outros, que têm mais fôlego financeiro, esperar pelo amadurecimento completo da lavoura será, sem dúvida, mais lucrativo.
O cenário atual da mandiocultura reflete a complexidade do agronegócio. A notícia de que a média nominal é a maior desde fevereiro anima o setor, mas revela desafios profundos relacionados à rentabilidade, qualidade e planejamento. A decisão do produtor de vender agora ou esperar moldará a oferta e os preços nos próximos meses, em um equilíbrio delicado entre a necessidade da indústria e a busca do agricultor por uma remuneração justa pelo seu trabalho e investimento. Manter-se informado e analisar todos os ângulos é o caminho para transformar desafios em oportunidades.







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