Soja: exportação recorde e a atenção total no clima

A exportação é recorde para setembro; agentes estão atentos ao clima, que definirá o futuro da safra 2025/26

Soja: exportação recorde e a atenção total no clima
Ilustrativa

O agronegócio brasileiro vive um momento de dois lados da mesma moeda. De um, a comemoração: o volume de soja exportado em setembro de 2025 foi o maior já registrado para o mês na história. Do outro, a apreensão: o céu, ou melhor, a falta de chuva em regiões cruciais para o plantio da nova safra, mantém produtores e todo o mercado em estado de alerta. Segundo dados do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), em parceria com a Esalq/USP, o Brasil embarcou 6,5 milhões de toneladas do grão, um número impressionante que reflete a força da demanda internacional. No entanto, o sucesso da colheita futura depende diretamente das condições climáticas das próximas semanas, criando um cenário de otimismo cauteloso no campo.

Um setembro histórico para a soja brasileira

Os números falam por si. O volume de 6,5 milhões de toneladas exportadas em setembro representa um aumento de 6,6% em relação ao mesmo período do ano anterior, conforme dados da Secex (Secretaria de Comércio Exterior). Esse desempenho consolida um ano espetacular para o setor, que já acumula 93 milhões de toneladas enviadas ao exterior de janeiro a setembro, também um recorde para o período. Esse resultado é fruto de uma combinação de fatores, incluindo uma safra anterior robusta e uma demanda global, especialmente da China, que continua aquecida e confiante na qualidade do produto brasileiro. O câmbio favorável também desempenhou um papel importante, tornando a soja nacional mais competitiva no mercado internacional.

Apesar do recorde para o mês, houve uma retração de 30,3% em comparação com agosto. Pesquisadores do Cepea explicam que este é um movimento sazonal esperado. No segundo semestre, os estoques brasileiros naturalmente diminuem, abrindo espaço para outros players globais. Neste ano, a maior disponibilidade de soja na Argentina, que se recupera de safras anteriores afetadas pela seca, também contribuiu para limitar um avanço ainda maior dos embarques brasileiros, mostrando como o equilíbrio do mercado sul-americano é dinâmico e competitivo.

Por que a exportação é recorde para setembro; agentes estão atentos ao clima?

A resposta para essa dualidade está na transição entre o ciclo de comercialização da safra velha e o início do plantio da nova. O sucesso logístico e comercial que permitiu o escoamento recorde da produção colhida no início de 2025 é o que sustenta os números positivos de agora. Contudo, o mercado agrícola opera sempre de olho no futuro. Por isso, enquanto os navios são carregados nos portos, a atenção no campo está voltada para o céu. A verdade é que a exportação é recorde para setembro; agentes estão atentos ao clima porque um novo ciclo de sucesso depende inteiramente de um bom começo na lavoura.

A falta de chuvas regulares e bem distribuídas pode atrasar o plantio, desuniformizar a emergência das plantas e, em último caso, reduzir drasticamente o potencial produtivo da safra 2025/26. Esse risco climático afeta não apenas o produtor, mas toda a cadeia, incluindo tradings, investidores e o próprio governo, que conta com os saldos positivos da balança comercial do agronegócio. A incerteza climática gera volatilidade nos preços e exige um planejamento ainda mais cuidadoso por parte dos agricultores.

O mapa da seca: Paraná avança enquanto outras regiões esperam

O Brasil é um país de dimensões continentais, e o clima reflete essa diversidade. Enquanto os produtores do Paraná celebram o avanço do plantio da soja com condições de umidade favoráveis, a realidade é bem diferente em outras potências agrícolas. No Centro-Oeste, coração da produção nacional de grãos, estados como Mato Grosso, Goiás e Mato Grosso do Sul enfrentam um início de primavera mais seco do que o esperado. O mesmo cenário de apreensão se repete em partes do Sudeste, como Minas Gerais e São Paulo. Nessas áreas, o plantio está lento, com muitos produtores optando por esperar por chuvas mais consistentes para não arriscar o investimento em sementes e insumos.

Embrapa, em seus comunicados técnicos, frequentemente reforça que o estabelecimento da cultura é uma das fases mais críticas. Plantar “no pó”, ou seja, em solo sem umidade adequada, pode resultar em um stand de plantas falho e pouco vigoroso, um problema que dificilmente é corrigido ao longo do ciclo e que impacta diretamente a produtividade final da lavoura.

Essa diferença regional no ritmo do plantio já acende um alerta. Um atraso significativo no Centro-Oeste pode empurrar a janela de colheita da soja para frente, o que, por sua vez, afeta o plantio da segunda safra de milho, a safrinha, gerando um efeito cascata de riscos e potenciais perdas para o agronegócio brasileiro.

Decisões na ponta da bota: o que o produtor pode fazer?

Diante de um cenário onde a exportação é recorde para setembro; agentes estão atentos ao clima, o produtor rural se torna o protagonista na gestão de riscos. A tecnologia e o planejamento são seus maiores aliados. As decisões tomadas nesta janela de plantio são cruciais e envolvem uma análise constante de diversas variáveis. Entre as principais estratégias adotadas no dia a dia, podemos listar:

  • Monitoramento intensivo das previsões meteorológicas de curto e médio prazo.
  • Escolha de cultivares de soja mais adaptadas a períodos de estresse hídrico.
  • Ajuste do cronograma de operações, aguardando a janela ideal de umidade no solo.
  • Uso de técnicas de plantio direto para conservar a umidade e proteger o solo.
  • Contratação de seguro agrícola para mitigar possíveis perdas por seca.
  • Acompanhamento diário do mercado de futuros para travar preços e garantir a rentabilidade.

Essas práticas mostram que, embora não possa controlar o clima, o produtor moderno tem à sua disposição um arsenal de ferramentas e conhecimento para tomar as melhores decisões possíveis, equilibrando o otimismo do mercado atual com a prudência que o campo exige. A safra não depende de sorte, mas de muita ciência, trabalho e estratégia.

Em resumo, o agronegócio brasileiro celebra um presente de números robustos na exportação de soja, mas olha para o futuro com a cautela que o clima impõe. A performance espetacular de setembro é um reflexo da competência da cadeia produtiva, mas a consolidação de mais um ano de sucesso dependerá das chuvas que ainda estão por vir. As próximas semanas serão decisivas para definir o tamanho e a qualidade da safra 2025/26, e todo o setor permanecerá de olhos bem abertos, acompanhando cada gota de chuva e cada movimento do mercado. A dualidade persiste: enquanto a exportação é recorde para setembro; agentes estão atentos ao clima.

AGRONEWS