Valor da produção agrícola cai pelo segundo ano consecutivo no Brasil, segundo IBGE
Impacto do El Niño, queda na produção de soja e milho e retração de preços derrubaram o desempenho do setor
O valor da produção das principais culturas agrícolas do Brasil recuou 3,9% em 2024, frente a 2023, totalizando R$ 783,2 bilhões, segundo a Produção Agrícola Municipal (PAM) divulgada nesta quinta-feira (11) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
É o segundo ano consecutivo de queda, reflexo da redução de 7,5% na produção de grãos, que somou 292,5 milhões de toneladas.
O valor de produção desse grupo caiu 17,9%, para R$ 431,2 bilhões. Soja e milho, responsáveis por 88,7% da produção de grãos, foram os mais afetados por adversidades climáticas e queda de preços, influenciando o desempenho geral da agricultura em 2024.
Área plantada cresce, mas clima afeta produtividade
A área plantada do país alcançou 97,3 milhões de hectares em 2024, crescimento de 1,2% em relação ao ano anterior. A soja foi a cultura que mais expandiu área, com +1,8 milhão de hectares, seguida pelo algodão (+280,8 mil ha). Já o milho apresentou retração de 4,9% na área cultivada.
Segundo o supervisor da pesquisa, Winicius Wagner, o clima foi decisivo:
“O fenômeno El Niño prejudicou as culturas de verão em 2024. Ele causou estiagem prolongada severa em regiões como Centro-Norte, Sudeste e parte do Paraná. Soja e milho, em particular, sofreram quedas de 5,0% e 12,9% na produção, respectivamente, e a retração de seus preços impactou o valor de produção agrícola.”

Ranking dos produtos: soja ainda lidera
Os cinco produtos com maior valor de produção seguiram sendo soja, cana-de-açúcar, milho, café e algodão. A cana assumiu a segunda posição, superando o milho.

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Soja: -25,4% no valor de produção
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Cana-de-açúcar: +3,0%
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Milho: -13,5%
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Café: +58,1%
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Algodão: +4,3%
Mesmo com queda expressiva, a soja manteve-se como principal cultura, representando um terço do total nacional. Já o avanço da cana foi impulsionado pelo aumento do preço do etanol.

Café, arroz e cacau impulsionam resultados
O café registrou crescimento de 58,1% no valor de produção, alcançando R$ 69,2 bilhões, e tornou-se o segundo produto agropecuário em geração de receita com exportações.
O arroz também se destacou: produção de 10,7 milhões de toneladas (+3,8%) e aumento de 25,7% no valor, somando R$ 22,3 bilhões.
O cacau foi o grande salto: valorização de 229,4% no valor de produção, elevando-se à 10ª posição do ranking.
Soja: atraso no plantio e clima desfavorável
A produção de soja somou 144,5 milhões de toneladas em 2024 (-5,0%), mesmo com expansão de 4% da área. O rendimento médio nacional caiu 8,1%, pressionado por estiagens no Centro-Oeste e Paraná e excesso de chuvas no Rio Grande do Sul.
O Mato Grosso segue líder, com 38,4 milhões de toneladas, mas registrou queda de 13,6% no volume e de 35,5% no valor, que ficou em R$ 63,8 bilhões. Entre os municípios, destaque para São Desidério (BA), líder em produção de soja, com 2,1 milhões de toneladas e R$ 3,7 bilhões.
No comércio exterior, as exportações caíram 3,0% em volume, para 98,8 milhões de toneladas, e 19,3% em receita. A China segue como principal destino, absorvendo 73% da soja exportada.
Milho: retração e perda de liderança global
A safra de milho recuou para 115,0 milhões de toneladas (-12,9%), com queda na área plantada (-4,9%) e no rendimento (-8,2%). O valor de produção somou R$ 88,1 bilhões (-13,5%).
O Mato Grosso respondeu por 41,2% da produção nacional, com 29,2 bilhões em valor. O Paraná, segundo produtor, registrou queda de 13,3% na produção e recuo de 9,5% no valor (R$ 13,6 bilhões).
Entre os municípios, Sorriso (MT) liderou com 3,7 milhões de toneladas (R$ 2,4 bi).
As exportações despencaram 28,8%, para 39,8 milhões de toneladas, fazendo o Brasil perder a posição de maior exportador mundial para os Estados Unidos.
Cana-de-açúcar: preços do etanol sustentam valor
Apesar da queda de 2,9% na produção, a cana alcançou valor de R$ 105 bilhões (+3,0%), sustentada pela valorização do etanol.
São Paulo segue dominante, responsável por 53,6% do total nacional, mesmo com retração de 4,7% no volume. Goiás e Mato Grosso do Sul aparecem na sequência, reforçando o avanço do Centro-Oeste.
Café: preços em alta puxam valor histórico
A produção nacional de café foi de 3,4 milhões de toneladas (+1,2%), mas o valor de produção cresceu 58,1%, chegando a R$ 69,2 bilhões.
O café arábica respondeu por 70,7% do total. Minas Gerais, líder isolado, concentrou 69,5% da produção de arábica, com valor de R$ 34,7 bilhões (+45%). São Paulo cresceu 87,2% no valor, alcançando R$ 8,6 bilhões.
As exportações aumentaram 30,8% em volume e 55% em receita, consolidando o Brasil como maior exportador global.
Algodão: recorde e liderança nas exportações
A produção de algodão atingiu 8,5 milhões de toneladas (+13,7%), com valor de R$ 31,3 bilhões (+5,6%). O Mato Grosso concentrou 73,5% da produção (R$ 22,5 bilhões).
O Brasil se tornou maior exportador mundial de algodão, com avanço de 71,4% no volume exportado, superando os Estados Unidos.
Arroz: retomada com preços em alta
A área de arroz cresceu 8,9%, somando 10,7 milhões de toneladas (+3,8%). O valor subiu 25,7%, para R$ 22,3 bilhões. O Rio Grande do Sul concentrou 66,8% da produção nacional, seguido por Santa Catarina.
Frutas: laranja, banana e uva na liderança
As 21 frutas acompanhadas pelo IBGE somaram R$ 91,5 bilhões (+21%).
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Laranja: R$ 28,5 bilhões (+42,4%) → maior valor entre as frutas.
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Banana: R$ 16,1 bilhões.
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Uva: R$ 8,3 bilhões (+48,5%).
São Paulo liderou com R$ 30 bilhões, puxado pela laranja e pela uva.







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