Entenda os impactos da suspensão das exportações de carne bovina da Argentina para o Brasil

Publicado no dia 30/05/2021 às 17h03min
Pesquisadores do CiCarne â?? Centro de Inteligência da Carne Bovina da Embrapa, avaliam os efeitos da suspensão das exportações de carne bovina da Argentina para o Brasil.

Segundo informam os especialistas, esta suspensão vai gerar: oportunidades de aumento das exportações, tanto para China como para mercados premium, valorização da arroba do boi gordo e pressão sobre o preço das carne no mercado interno foram alguns pontos identificados, confira a análise.

Suspensão das exportações de carne bovina na Argentina e os possíveis desdobramentos para o Brasil
O Governo da Argentina suspendeu em maio as exportações de carne bovina pelo período inicial de 30 dias, surpreendendo os seus produtores e suas indústrias frigoríficas. A medida tem como objetivo controlar o aumento de preços do produto no mercado interno e seu peso sobre a inflação que atinge o país. O Ministério de Desenvolvimento Produtivo da Argentina informou que “em decorrência do aumento sustentado do preço da carne bovina no mercado interno” foi decidido implementar um conjunto de medidas “emergenciais” destinadas a “ordenar o funcionamento do setor”.

 

A Argentina é um dos países com maior consumo de carne bovina, mas a demanda caiu ao mínimo histórico devido à situação econômica – a inflação acumulada nos primeiros quatro meses do ano foi de 17,6%. Os argentinos consomem atualmente em média 49,2 quilos de carne bovina por ano, contra o pico de 69,3 quilos registrado em abril de 2009, segundo a Câmara de Indústria e Comércio de Carnes. Os preços dos diferentes cortes de carne bovina aumentaram 65,3% em abril no país, na comparação com o mesmo mês em 2020, segundo o Instituto de Promoção da Carne Bovina Argentina (INPEVA).


Suspensão das exportações de carne bovina na Argentina e os possíveis desdobramentos para o Brasil – foto ilustrativa
Histórico
Esta não é a primeira vez que a Argentina usa deste expediente. Em 2006, o País viveu uma situação semelhante na tentativa de controlar sua inflação. Os reflexos foram negativos para a cadeia produtiva, gerando diminuição no efetivo bovino na ordem de 12 milhões de cabeças, não recuperado até hoje. Neste período, a Argentina deixou de atender mercados internacionais essenciais para o seu negócio, alguns até hoje não foram recuperados.

suspensão das exportações de carne bovina da Argentina para o Brasil
Embrapa Pecuária Gado de Corte; **Embrapa Sudeste; *** Embrapa Pantanal.
Em 2020, as exportações argentinas de carne foram de 770.000 toneladas de equivalente carcaça. Os principais destinos foram China, Alemanha e Israel, segundo o instituto de estatísticas Indec. A Argentina é o quarto maior exportador mundial de carne bovina, de acordo com o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos. O principal comprador da carne argentina é a China, que adquire a carne classificada como ingrediente, uma carne congelada destinada ao processo industrial. As carnes mais nobres, classificadas como premium, têm como destino principal a Europa.

Suspensão temporária das exportações de carne da Argentina
A saída da Argentina do mercado global de carne bovina, mesmo que temporariamente, poderá afetar a cadeia produtiva da carne bovina brasileira nos seguintes aspectos:

A suspensão das exportações de carnes pela Argentina deve deslocar parte da demanda externa, especialmente a demanda vinda da China, para o Brasil, Austrália, Nova Zelândia e Uruguai, países que mais se beneficiaram com o aumento das importações do país asiático.
A demanda externa por carne bovina abre margem para que a cotação da arroba do boi gordo no Brasil siga com a tendência de alta predominante nos últimos meses, aliada à restrição de oferta de animais em virtude do ciclo pecuário de valorização da cria. No primeiro trimestre de 2021, o preço do boi gordo registrou valorização de 52,4%, na comparação com o mesmo período do ano passado, segundo o IPEA.
Dois pontos que podem agravar a oferta de animais para abate no segundo semestre deste ano são as pastagens, entrando no período da seca com menor acúmulo de forragem, devido a um menor volume de chuvas no período das águas, e informações de que haverá redução no alojamento de animais para terminação em confinamento.
A provável valorização da arroba do boi acarretará aumento nos custos de produção da indústria frigorífica, que pagará mais caro pela sua matéria prima essencial. Estes custos maiores deverão ser repassados ao consumidor final, testando os seus limites orçamentários, pois a carne bovina teve um aumento na ordem de 30% nos últimos 12 meses. Em virtude do cenário de queda de renda da população, vislumbra-se que a redução no consumo de carne bovina e aumento de demanda por proteínas alternativas como as respostas mais prováveis.
Por fim, o mercado premium internacional de carne bovina atendido pela Argentina pode ser suprido pelo Brasil, possibilitando com isso uma captura de valor para o setor. Hoje o Brasil recebe em torno de $4,17 por kg de carne exportada, enquanto a Argentina recebe $5,47 por kg de carne exportada. Entretanto, precisamos trabalhar melhor a nossa imagem de carne de qualidade no mercado, bem como valorizar a reputação de não romper contratos de fornecimento com compradores, mesmo em períodos de extrema turbulência como os vividos atualmente na pandemia da COVID-19.
Sobre o CiCarne – Centro de Inteligência da Carne Bovina
O CiCarne trabalha com dois objetivos primordiais. Promover a antenagem, captura e análise de sinais e tendências de desdobramentos tecnológicos e do mercado de inovações relevantes à tomada de decisão dos stakeholders envolvidos na cadeia produtiva da carne bovina brasileira. Produzir, sistematizar e dispor informações e dados de maneira organizada visando a melhor coordenação da cadeia produtiva da carne bovina brasileira promovendo ganhos competitivos para seus stakeholders.

Por: Guilherme Cunha Malafaia* / Sergio Raposo de Medeiros** / Fernando Rodrigues Teixeira Dias*** – pesquisadores CiCarne

AGRONEWS – Informação para quem produz

Fonte: AGRONEWS BRASIL

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