Brasil conta errado as emissões de CO2 e seguirá assim para a COP30
Previsto para novembro, novo Inventário Nacional de Emissões não inclui as remoções de CO2 de práticas agropecuárias sustentáveis
O Brasil está prestes a lançar uma nova edição de seu Inventário Nacional de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa, com publicação prevista para novembro deste ano, mas já enfrenta críticas por falhas na contabilização correta das remoções de CO2.
Não é sem motivo. O inventário, documento oficial que mensura as emissões dos diversos setores, como o agropecuário, ainda não inclui adequadamente os processos que retiram carbono da atmosfera.
Nas últimas semanas, o Agrofy News entrevistou especialistas do setor agropecuário sobre o tema que pauta definições do Plano Clima, as metas voluntárias de redução de emissões e outras iniciativas públicas e privadas.
A principal crítica é a ausência de informações de práticas que ajudam a capturar carbono, como a melhoria na qualidade das pastagens e o uso de tecnologias de manejo sustentável.
No entanto, por questões burocráticas e de tempo, o governo brasileiro não conseguirá incluir essas informações na nova edição do inventário.
Assim, o país sediará a COP30 com números que, já se sabe, estão distorcidos.
Esforço em “vão”
Marcello Brito, professor da Fundação Dom Cabral e ex-presidente da Associação Brasileira do Agronegócio (ABAG), confirmou que as remoções de diversas práticas sustentáveis do agro ficarão de fora do próximo inventário, mas disse que o governo está ciente da questão.
“A secretária Ana Toni (Ministério do Meio Ambiente) se propôs a olhar com muito carinho e está fazendo. O Inventário Nacional de Emissões precisa ser atualizado”, disse.
Em agosto, o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) iniciou um processo de garantia de qualidade do documento, que acrescentará à série histórica, iniciada em 1990, os resultados sobre emissões e remoções para os anos de 2021 e 2022.
O processo, no entanto, não incluirá as remoções de práticas agrícolas como plantio direto, integração lavoura-pecuária, biocombustíveis, recuperação de pastagens, agricultura regenerativa, entre outras.
Atualmente, as únicas remoções computadas no inventário são referentes a unidades de conservação e terras indígenas, além de reflorestamento.
“Isso resulta em uma visão distorcida da realidade, onde o setor agropecuário parece emitir mais gases do que realmente emite, o que pode prejudicar a tomada de decisões e a imagem do setor”, opinou João Adrien, head de ESG Agro no Itaú BBA.
Ele disse que esse erro de mensuração também tem impacto direto nas metas climáticas do Brasil e citou os resultados significativos do Plano ABC na última década.
“Estima-se que milhões de hectares de pastagens melhoradas, que removem carbono, não foram contabilizados, o que gera uma fotografia equivocada das emissões líquidas do país”, conclui.
Negociações internacionais
A falta de um inventário mais preciso também pode afetar a posição do Brasil nas negociações internacionais, como na COP30, colocando o país em uma posição mais frágil.
Sem dados corretos sobre as remoções de carbono, o país corre o risco de ser cobrado por importadores necessidade de estabelecer tetos de emissões para o setor agropecuário, mesmo quando este já realiza esforços significativos para mitigar suas emissões.
Além disso, o financiamento internacional pode ser comprometido de organizações como o Fundo Global para o Meio Ambiente (GEF) e do setor privado.
“O país corre o risco de seguir com uma contagem incorreta de suas emissões na COP30 e comprometer seus esforços de sustentabilidade no longo prazo”, resumiu.
Daniel Azevedo Duarte
Agrofy News
Editor-chefe do Agrofy News Brasil