Setor sucroalcooleiro apoia Operação Carbono Oculto; Ribeirão Preto era núcleo financeiro do PCC
Megaoperação revelou compra de usinas e redes de combustíveis pelo crime organizado; R$ 7,6 bi foram sonegados
O setor sucroalcooleiro e de combustíveis declarou apoio à Operação Carbono Oculto, deflagrada nesta quinta-feira (28) contra um esquema bilionário do Primeiro Comando da Capital (PCC).
A megaoperação revelou, entre outros pontos, que o núcleo financeiro da facção estava concentrado em Ribeirão Preto (SP), um dos principais polos do setor, onde recursos ilícitos foram usados na compra de usinas, distribuidoras e fazendas.
Entidades representantes de produtores de etanol e de empresas de distribuição de combustíveis
Entidades que representam produtores de etanol e distribuidoras de combustíveis — Bioenergia Brasil, Instituto Combustível Legal (ICL), Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Combustíveis e de Lubrificantes (Sindicom) e União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia (Unica) — declararam apoio irrestrito às autoridades.
“As entidades parabenizam, em especial, o Governo de São Paulo, o Ministério Público, as Polícias Federal, Civil e Militar, a Receita Federal e a Secretaria da Fazenda pela firme atuação na defesa da legalidade, da livre concorrência e da sociedade brasileira”, afirmaram em nota conjunta.
Para as representações do setor, o combate às fraudes protege consumidores, assegura arrecadação de tributos, fortalece a confiança de investidores e garante um ambiente de negócios transparente.
Núcleo em Ribeirão Preto
Segundo a Receita Federal, o núcleo financeiro do esquema estava concentrado em Ribeirão Preto, polo do setor sucroenergético. Na região, foram cumpridos 32 mandados contra 25 empresas e sete pessoas físicas, envolvendo usinas, postos e uma financeira. Documentos e computadores foram apreendidos, mas não houve prisões.

As investigações apontam que o grupo criminoso recebeu recursos de distribuidoras e postos, “blindou” o dinheiro em fundos de investimento e adquiriu imóveis, participações societárias e fazendas. Quatro usinas foram compradas por fundos ligados à facção, enquanto outras duas estavam em negociação.
Também foram identificados negócios envolvendo 1.600 caminhões de transporte de combustíveis e seis fazendas avaliadas em R$ 31 milhões. Parte substancial dos recursos ilícitos foi direcionada à compra de usinas de cana-de-açúcar, distribuidoras e transportadoras.
Crimes no agro
Empresários e produtores rurais denunciaram ao Ministério Público que foram coagidos a vender propriedades por valores subfaturados, sob ameaça de morte caso resistissem.
Há ainda suspeitas de incêndios criminosos em canaviais, usados como forma de pressão contra proprietários que se opunham às negociações.
Outro eixo da investigação envolve a importação irregular de metanol pelo Porto de Paranaguá (PR).
O produto, altamente inflamável e tóxico, era desviado com notas fiscais falsas e transportado de forma clandestina, sendo utilizado na adulteração de combustíveis. O esquema ampliava os lucros da facção e colocava em risco a segurança de motoristas, pedestres e o meio ambiente.
Perdas bilionárias
De acordo com a Secretaria da Fazenda paulista e o Ministério Público, a sonegação identificada supera R$ 7 bilhões. Entre 2020 e 2024, a movimentação no mercado ilegal alcançou mais de R$ 52 bilhões.
As autoridades também identificaram práticas de ameaça a empresários cujas redes de postos eram simuladamente compradas e, em seguida, apropriadas pelo grupo criminoso.
Reação no Congresso
A operação mobilizou frentes parlamentares ligadas ao setor, que defenderam a urgência da votação de projetos de lei para reforçar a fiscalização:
Frente Parlamentar do Biodiesel (FPBio)
Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA)
Frente Parlamentar do Empreendedorismo (FPE)
Frente Parlamentar do Etanol
Entre as propostas listadas como prioritárias estão:
PL das Notas Fiscais (PL 109/25): autoriza a ANP a acessar dados da Receita Federal, ampliando o cruzamento de informações fiscais.
PL das Penalidades (PL 399/25): eleva multas a fraudadores de R$ 5 milhões para até R$ 20 milhões, podendo chegar a R$ 500 milhões em casos ambientais graves.
PL do Operador Nacional dos Combustíveis (PL 1923/24): cria órgão de fiscalização e amplia sanções administrativas.
PLP do Devedor Contumaz (PLP 164/22): estabelece regras para identificar e punir empresas que reiteradamente deixam de pagar tributos.
As frentes também cobram aumento no orçamento da Agência Nacional do Petróleo (ANP), garantindo mais estrutura de inteligência e fiscalização.
Megaoperação
A Operação Carbono Oculto mobilizou cerca de 1,4 mil agentes do Ministério Público, Polícias Federal, Civil e Militar, Receita Federal e Secretaria da Fazenda.
Foram cumpridos 350 mandados em oito estados: São Paulo, Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Paraná, Rio de Janeiro e Santa Catarina.
As fraudes ocorreram em mais de 300 postos de combustíveis, envolvendo adulteração, lavagem de dinheiro, ameaças e coerção de empresários.
Para ocultar os beneficiários, o esquema utilizava camadas societárias, fundos de investimento e fintechs, dificultando o rastreamento dos recursos ilícitos.
Com a operação, as autoridades esperam reunir novas provas para ampliar as responsabilizações.







Comentários (0)
Comentários do Facebook