Exportadores de café enfrentam perdas bilionárias com gargalos logísticos nos portos brasileiros

O Brasil deixou de embarcar mais de 453 mil sacas de café em junho deste ano devido ao esgotamento da infraestrutura portuária.

Exportadores de café enfrentam perdas bilionárias com gargalos logísticos nos portos brasileiros
Ilustrativa

O Brasil deixou de embarcar mais de 453 mil sacas de café em junho deste ano devido ao esgotamento da infraestrutura portuária. A estimativa é do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), que aponta um prejuízo superior a R$ 3 milhões para os exportadores e uma perda de R$ 1 bilhão em receita cambial para o país.

Segundo o levantamento, o volume de 453.864 sacas de 60 kg – equivalente a 1.375 contêineres – não conseguiu ser escoado no último mês, elevando os custos com armazenagem, detentions e alterações operacionais. Desde junho de 2024, quando o Cecafé passou a monitorar os atrasos, as perdas acumuladas somam quase R$ 79 milhões para as empresas associadas à entidade.

A impossibilidade de embarque em junho impediu a entrada de US$ 184,2 milhões (R$ 1,02 bilhão) em divisas para o Brasil, considerando o preço médio FOB de US$ 405,81 por saca e o câmbio médio de R$ 5,55 no período. A consequência direta é o menor repasse de recursos aos cafeicultores, uma vez que mais de 90% do valor da exportação é transferido ao produtor.

“A estrutura dos portos não evoluiu e já observamos um aumento de 100 mil sacas não embarcadas em relação a maio. Com a entrada da safra nova, incluindo o arábica, o cenário tende a se agravar”, alerta Eduardo Heron, diretor técnico do Cecafé.

O Porto de Santos, que respondeu por 80% dos embarques de café no primeiro semestre, apresentou atraso ou alteração de escala em 59% das 161 embarcações registradas em junho. A espera mais longa foi de 37 dias. Já o complexo portuário do Rio de Janeiro, com 15,7% das exportações, teve 57% dos navios impactados, sendo 34 de um total de 60.

Segundo o Boletim Detention Zero (DTZ), elaborado pela startup ElloX Digital em parceria com o Cecafé, 49% das embarcações sofreram atrasos no país em junho. Em Santos, apenas 7% dos embarques tiveram mais de quatro dias de gate aberto por navio, enquanto 60% ficaram entre três e quatro dias e 33% não ultrapassaram dois dias.

Heron aponta que os problemas são agravados pela falta de avanço nos leilões de terminais, pouca diversificação de modais logísticos e ausência de indicadores para gestão portuária. “O governo anunciou investimentos, mas que só devem se concretizar nos próximos cinco anos. Precisamos de medidas emergenciais, porque o agro cresce mais rápido do que os portos estão conseguindo acompanhar”, ressalta.

Além disso, há preocupação com a limitação de participação no leilão do Tecon Santos 10, o que, segundo o Cecafé, pode gerar concentração de mercado e travar a modernização do terminal.

“A ANTAQ tem nota técnica mostrando que o cenário 3 permitiria maior concorrência e evitaria judicializações. É algo que precisa ser revisto com urgência”, afirma Heron.

A nova safra de café, especialmente o conilon e o robusta, já começa a ser exportada, e o segundo semestre concentra a maior parte da movimentação. Sem ações imediatas, os prejuízos devem se ampliar nos próximos meses — afetando produtores, exportadores e a balança comercial do país.