Produtores de soja em Mato Grosso enfrentam colapso logístico e desvalorização
Safra avança em meio a dificuldades no transporte, incertezas na comercialização e preços em queda

Por redação com informações do Instituto do Agronegócio | Agrofy News

A colheita da soja em Mato Grosso, maior produtor do grão no Brasil, avança em meio a um cenário crítico.
A escassez de caminhões tem travado o escoamento da safra, enquanto a recente elevação de tarifas pelos Estados Unidos derrubou os preços do produto no mercado internacional, impactando diretamente a rentabilidade dos produtores.
A falta de veículos ocorre devido à alta demanda durante a safra e à precariedade da infraestrutura rodoviária, dificultando o transporte até os portos.
A lentidão na movimentação da produção gera filas em armazéns, exige estocagem prolongada e aumenta o risco de perdas na qualidade do grão.
Outro fator que agrava a situação é a inconsistência na classificação da soja. Produtores relatam divergências entre a avaliação feita nas propriedades e a realizada no destino final. Critérios como umidade e avarias têm sido aplicados de forma desigual, gerando descontos que podem reduzir até 20% da receita sobre a produção.
Para combater esse problema, a Associação dos Produtores de Soja de Mato Grosso (Aprosoja-MT) criou o projeto Classificador Legal, com o objetivo de garantir avaliações técnicas mais justas e dentro das normas legais.
Em quatro anos, a iniciativa evitou prejuízos superiores a R$ 25 milhões, corrigindo descontos indevidos e ampliando a transparência na comercialização.
Soja despenca
Nesta quinta-feira (3), os preços da soja recuaram nos principais polos produtores do país, incluindo Rondonópolis e Sorriso, em Mato Grosso.
O movimento reflete os impactos do tarifaço norte-americano e da instabilidade nos mercados globais. Na Bolsa de Chicago, os contratos futuros da soja para maio de 2025 fecharam em queda de 4,75 centavos de dólar por bushel, pressionados pela retração na demanda de produtos agrícolas dos Estados Unidos em meio à guerra comercial.
Já nesta sexta-feira, os futuros da soja negociados na Bolsa de Chicago operam em forte baixa e, pela primeira vez em semanas, romperam o piso dos US$ 10,00 por bushel.
Por volta das 8h30 (horário de Brasília), os principais contratos registravam perdas entre 26 e 27,75 pontos, com o vencimento de maio cotado a US$ 9,84, o de agosto a US$ 9,98 e o de setembro também a US$ 9,84 por bushel.
A movimentação do mercado foi imediata após o anúncio de Pequim de que imporá tarifas de 34% sobre produtos norte-americanos a partir de 10 de abril. A medida, interpretada como uma retaliação direta ao pacote de tarifas implementado pelos EUA, acentuou a pressão sobre os preços da oleaginosa.
Produtores discutem gargalos logísticos em reunião da Aprosoja-MT
A Aprosoja-MT deu início, na quarta-feira (2), às reuniões das comissões técnicas da entidade, em Cuiabá. Entre os temas centrais, os gargalos logísticos do estado dominaram os debates.
A Comissão de Logística reuniu produtores, representantes da Agência de Regulação dos Serviços Públicos Delegados de Mato Grosso (AGER-MT), da empresa Rumo e da recém-criada Secretaria de Hidrovias.
Mateus Goldoni, coordenador da comissão, destacou o papel da entidade na interlocução com o poder público. “Mato Grosso tem uma malha rodoviária extensa, e os produtores questionam o destino dos recursos arrecadados. A Aprosoja atua como braço técnico do produtor, ajudando a fiscalizar e cobrar melhorias”, afirmou.
O delegado Yuri Nunes Cervo reforçou os desafios da infraestrutura, sobretudo no Vale do Guaporé.
“Estamos em um estado com dimensões de país. É essencial debater a logística com seriedade, buscando soluções que realmente cheguem às regiões mais necessitadas”, disse.
Milho: atraso no plantio, seca e pragas ameaçam produtividade
A segunda safra de milho em Mato Grosso também enfrenta um cenário adverso. O atraso na colheita da soja, provocado por excesso de chuva, empurrou o plantio do milho para fora da janela ideal.
Agora, a falta de precipitação e o ataque de lagartas colocam em risco o desempenho das lavouras.
Segundo o Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (IMEA), cerca de 15% da área cultivada – mais de um milhão de hectares – foi semeada fora do período recomendado, elevando o risco de perdas.
Diego Bertuol, diretor administrativo da Aprosoja-MT, explica que os produtores investiram em sementes de alta tecnologia, mas os resultados não corresponderam. “As tecnologias falharam. Com margens apertadas e custos crescentes, o produtor foi surpreendido por um desempenho abaixo do esperado”, avaliou.
Além disso, a compra tardia de insumos e a redução no uso de fertilizantes — especialmente fosfatados, com cortes de até 100% — também devem afetar a produtividade. “O preço do milho no ano passado estava entre R$ 35 e R$ 38. Com essa referência, o produtor foi cauteloso. Houve corte até no nitrogênio, de 10% a 30%”, destacou Bertuol.
A irregularidade das chuvas agrava a situação. Municípios como Confresa, Matupá, Guiratinga, Água Boa e Nova Xavantina registraram mais de 22 dias sem chuva e volumes acumulados abaixo de 130 mm. Em Confresa, foram até 27 dias de seca contínua em um período crítico para o milho.
Apesar da melhora recente na umidade do solo, o vice-presidente leste da Aprosoja-MT, Diego Dallasta, alerta que a continuidade das chuvas até o fim de abril será determinante. “As lavouras estão bem estabelecidas, mas dependemos de chuvas regulares para garantir a colheita da safrinha”, afirmou.
As lavouras, independentemente da data de plantio, ficaram vulneráveis à estiagem e ao aumento da pressão de lagartas. A quebra de eficiência das biotecnologias usadas para controle da praga forçou múltiplas aplicações de defensivos. “Tivemos relatos de três a cinco aplicações em várias propriedades”, informou Dallasta.
Gilson Antunes de Melo, vice-presidente oeste da Aprosoja-MT, confirma o aumento da incidência da praga. “A quebra da eficiência das tecnologias encarece o controle e contribui para a redução da produtividade”, disse.
Alta nos preços do milho não garante rentabilidade
Apesar do salto nos preços — com a saca sendo negociada atualmente entre R$ 80 e R$ 90 em algumas regiões, contra R$ 35 a R$ 38 no ano passado —, a rentabilidade ainda preocupa.
Os custos elevados, combinados ao possível recuo na produtividade, ameaçam os ganhos da segunda safra.
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