Análise: Plano Safra: Desespero ou estratégia?

O que o Brasil precisa para a safra 25/26

Análise: Plano Safra: Desespero ou estratégia?
Ilustrativa

Celso Ricardo/ Consultor de Agronegócio

Enquanto o agronegócio brasileiro se firma como um dos pilares da economia nacional, a chegada da nova temporada agrícola reacende um debate essencial: o Plano Safra está cumprindo seu papel estratégico ou se tornou apenas um respiro emergencial para manter a produção ativa? Em meio a um cenário de custos crescentes, instabilidade climática e crédito cada vez mais restrito, produtores rurais de todo o país se veem cada vez mais dependentes de políticas públicas que, em muitos casos, chegam tarde ou de forma insuficiente. No texto a seguir, o consultor de agronegócio Celso Ricardo propõe uma análise crítica sobre o atual modelo do Plano Safra e aponta caminhos possíveis para que a safra 2025/26 seja guiada menos pelo desespero e mais por estratégia, autonomia e visão de futuro.

O Plano Safra, tal como é aplicado hoje no Brasil, tem deixado de ser uma estratégia de desenvolvimento para o agronegócio e se transformado em uma ferramenta de sobrevivência. Na prática, ele serve mais ao desespero pela produção a qualquer custo do que como uma opção inteligente e planejada para o setor primário.
A grande verdade é que, sem o Plano Safra, o Brasil simplesmente não produz. Isso evidencia uma dependência preocupante: o produtor rural se torna refém das decisões e interesses dos governos de turno, e a produção nacional perde sua autonomia e capacidade de planejamento estratégico de longo prazo.
O cenário se agrava quando olhamos para a realidade do campo:

• Os custos de produção continuam subindo;
• O clima tem causado danos severos e imprevisíveis;
• A quebra de safra se tornou recorrente;
• E os juros, com a alta da SELIC, podem comprometer ainda mais a viabilidade do produtor.

Além disso, falta ao Brasil uma política pública específica, contínua e estruturada para o setor primário. O que existe são medidas pontuais e reativas, que não enfrentam os problemas estruturais da produção agropecuária. Essa ausência de direcionamento estratégico coloca o país em uma posição frágil, onde o agro é tratado como um setor que “se vira sozinho”, mesmo sendo um dos pilares da economia nacional.

Outro ponto crítico é a escassez de subsídios reais ao produtor rural brasileiro, principalmente quando comparado a outros países que subsidiam fortemente sua produção interna. Isso é incoerente com a importância do agro para o país: estamos falando de um setor que gera milhões de empregos, movimenta cadeias produtivas inteiras, gera renda no interior do país e impulsiona o PIB nacional.

Diante disso, o Plano Safra deveria ser uma alavanca de fortalecimento e competitividade, e não um mecanismo de socorro que apenas adia o colapso.
O que o Brasil precisa para a safra 25/26 é um novo modelo de Plano Safra, com foco em:

• Gestão de riscos climáticos, com fortalecimento do seguro agrícola;
• Linhas de crédito com juros compatíveis com a realidade da produção;
• Critérios de viabilidade técnica e econômica para acesso ao crédito, e não apenas garantias formais;
• Estímulo à capitalização e profissionalização da gestão rural, para reduzir a dependência do crédito oficial;
• Segmentação de programas por tipo de produtor e região, respeitando realidades distintas do Brasil;
• Subsídios mais robustos ao produtor rural, como reconhecimento da importância estratégica do setor para o desenvolvimento do país;
• E principalmente, uma política que transforme o produtor rural de refém do sistema em protagonista da produção nacional.

Sem essa mudança de lógica, o país continuará girando em torno de um modelo de alto risco, baixa sustentabilidade e crescente fragilidade econômica no campo. O Brasil precisa escolher se quer continuar produzindo por sobrevivência ou crescer com planejamento, estratégia e valorização de quem sustenta esse país: o produtor rural.

 

Celso Ricardo
Consultor de Agronegócio
FONTE: Agro+
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