Se tudo der certo, embargo da China à soja brasileira só termina no final de março
Medida gera preocupação no Brasil e reflete escalada protecionista do gigante asiático
Apesar da suspensão temporária, o governo brasileiro garante que os volumes totais de soja exportados para a China não serão afetados.. (Foto: Claudio Neves/Portos do Paraná)
A medida, que gerou preocupação no setor agropecuário brasileiro, reflete uma escalada protecionista por parte do gigante asiático.
Apesar disso, o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) acredita que as exportações podem ser retomadas até o final de março.
"Tudo indica que serão retomadas em aproximadamente um mês e meio", afirmou Luis Rua, secretário de Comércio e Relações Internacionais do Mapa, ao Agro Estadão.
As restrições começaram em 8 de janeiro, afetando inicialmente as operações da China da Terra Roxa Comércio de Cereais, Olam Brasil e C.Vale Cooperativa Agroindustrial.
Dias depois, em 14 de janeiro, foram incluídas as remessas da Cargill Agrícola SA e da ADM do Brasil. A GACC justificou a decisão citando contaminações químicas, pragas e insetos.
A suspensão coincide com o período do Ano Novo Chinês, um feriado importante que pode influenciar a velocidade das negociações, explica Rua.
Impacto limitado nas exportações
Apesar da suspensão temporária, o governo brasileiro garante que os volumes totais de soja exportados para a China não serão afetados.
"Vale reforçar que outras unidades das empresas notificadas seguem exportando normalmente para a China", informou o Mapa em nota na semana passada.
Em 2024, o Brasil exportou 73 milhões de toneladas de soja para os chineses, o equivalente a 70% do total exportado pelo país.
Escalada protecionista e novas restrições
O novo obstáculo ocorre poucas semanas após anúncio da autoridade chinesa de uma “ampla investigação” sobre importação de carne bovina.
Além da soja e a investigação sobre a carne brasileira, a China ampliou medidas restritivas a produtos agropecuários de diversos países. Recentemente, suspendeu a importação de carnes de países da África, Ásia, Oceania e Europa, citando surtos de doenças como febre aftosa, varíola ovina e caprina.
Entre os países afetados pela proibição estão Gana, Somália, Catar, Congo, Nigéria, Tanzânia, Egito, Bulgária, Timor-Leste e Eritreia. A China também suspendeu a importação de ovinos, caprinos e seus derivados provenientes da Palestina, Paquistão, Afeganistão, Nepal e Bangladesh, devido a surtos de varíola ovina e caprina.
Além disso, a restrição foi ampliada para a Alemanha, com a suspensão da importação de animais de casco fendido e produtos relacionados, após a identificação de casos de febre aftosa no país.
A decisão também afeta produtos processados e não processados, agravando a tensão no comércio global.
Coincidentemente, a China registrou sua maior safra de grãos e de produção de proteína bovina no ano passado. O país também anunciou um plano para reduzir drasticamente suas importações de produtos agropecuários nos próximos anos.
Relações comerciais em alerta
Outro fator que gera incerteza no mercado global é o relacionamento comercial entre China e Estados Unidos, especialmente após a posse de Donald Trump, que prometeu endurecer as relações com os chineses.
Isso pode impactar todo o comércio global, já que ambos os países são as maiores economias do mundo.
O Brasil, por sua vez, segue apostando em negociações rápidas e eficazes para minimizar os impactos das restrições chinesas e garantir a manutenção do comércio com seu principal parceiro no agronegócio.