Como Minas Gerais exportou mais café do que produziu em 2024?
Pela primeira vez, o agronegócio superou a receita das exportações do setor de mineração
No centro desse feito, está o café, que liderou o desempenho econômico do agro mineiro.
A receita gerada pelo café foi de impressionantes US$ 7,9 bilhões, representando 46,1% do total comercializado pelo setor agrícola, que alcançou US$ 17,1 bilhões.
Um dado curioso chamou atenção: o volume exportado, de 31 milhões de sacas, superou a produção anual de 28,1 milhões de sacas.
Como isso é possível?
De acordo com especialistas, a resposta está no uso estratégico de estoques. Com a demanda em alta, os produtores recorreram às reservas armazenadas em cooperativas e armazéns próprios.
Thales Fernandes, secretário de Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Minas Gerais, destacou que fatores como a valorização do dólar e a queda na produção de grandes países exportadores, devido às condições climáticas, ajudaram a elevar os preços no mercado internacional.
"Os produtores mineiros aproveitaram o momento de estoques globais baixos, oferecendo café de alta qualidade e ambientalmente sustentável", afirmou Fernandes.
Demanda global em alta
Segundo dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), o consumo global de café em 2024 está projetado em 168,1 milhões de sacas, representando um crescimento de 3,1% em relação ao ano anterior.
China e outros mercados em destaque
Tradicional líder nas exportações agropecuárias de Minas, o café vem consolidando novos mercados. Um exemplo é a China, tradicionalmente conhecida como a "terra do chá".
Entre 1997 e 2024, as exportações de café mineiro para o país asiático cresceram expressivos 77.000%, saltando de US$ 239 mil para US$ 186 milhões. Hoje, a China ocupa o 10º lugar entre os maiores compradores do café de Minas.
Aumentar as vendas num país populoso como a China, já produz um grande impacto na receita, mas o café mineiro tem fincado suas raízes pelo mundo afora.
O número de países que adquirem o produto mineiro cresceu de 65 para 88 desde 1997, um aumento de 35%. Todos os segmentos apresentaram alta:
-
Café verde: +41,4%
-
Café torrado: +22%
-
Café solúvel: +556%
-
Essências e extratos: +191,4%
Os principais mercados incluem Estados Unidos (US$ 1,5 bilhão), Alemanha (US$ 1,3 bilhão), Bélgica (US$ 787 milhões), Itália (US$ 626 milhões) e Japão (US$ 467 milhões).
Impacto da União Europeia e novas regras ambientais
As exportações para a União Europeia, que somaram US$ 4 bilhões e 15 milhões de sacas em 2024, também foram impulsionadas pela antecipação de compras frente às novas regras ambientais do bloco.
A legislação, que entrará em vigor em 2025 para grandes empresas e em 2026 para pequenas, restringirá a importação de produtos oriundos de áreas desmatadas.
Para atender a essa demanda, os produtores mineiros já contam com a Plataforma Selo Verde MG, que comprova a sustentabilidade das cadeias produtivas. Dados da ferramenta mostram que 99% das 120 mil propriedades cafeeiras do estado operam em áreas livres de desmatamento.
Com a certificação em mãos e mercados globais aquecidos, o café mineiro segue como um protagonista absoluto do agronegócio brasileiro.