Operação no RS prende "Mago do Leite" e descobre produtos lácteos com soda cáustica

Publicado no dia 11/12/2024 às 16h06min
Foram detidos também o sócio-proprietário da indústria e dois gerentes

O Ministério Público do Rio Grande do Sul (MPRS) deflagrou, nesta quarta-feira (dia), a 13ª fase da Operação Leite Compensado, voltada ao combate à adulteração de produtos lácteos. A ação foi realizada em uma fábrica da Dielat, localizada em Taquara, na região metropolitana de Porto Alegre.

Durante a operação, foi preso um químico industrial, conhecido entre os fraudadores como o “alquimista” ou “mago do leite”. Junto a ele, foram detidos o sócio-proprietário da indústria e dois gerentes.

A investigação, conduzida pelas Promotorias de Justiça Especializadas Criminal de Porto Alegre e de Defesa do Consumidor, revelou a produção de derivados lácteos como leite UHT, leite em pó, soro e outros, com adição de soda cáustica e outros produtos nocivos à saúde, como água oxigenada. 

Também foram encontrados pelos indefinidos e sujeira nas embalagens. A Justiça ainda não autorizou a divulgação das marcas envolvidas. A operação ocorre quase 12 anos após a primeira fase e pouco mais de sete anos após a 12ª etapa.

O “alquimista” já havia sido alvo da quinta fase, em 2014, quando sua participação em fraudes em uma indústria de Imigrante, no Vale do Taquari, foi descoberta. Segundo o MP, apesar de absolvido de uma condenação em 2005 por fraude semelhante, ele continuou atuando ilegalmente, mesmo com medidas cautelares impostas pela Justiça.

A operação contou com a parceria do Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA), Receita Estadual, Fundação Estadual de Proteção Ambiental (FEPAM), Ministério Público de São Paulo (MPSP) e Delegacia do Consumidor da Polícia Civil (DECON), além do apoio da Brigada Militar.

Juntos, os agentes cumpriram quatro mandados de prisão preventiva e 16 de busca e apreensão em Taquara, Parobé, Três Coroas, Imbé e na Capital paulista.

O químico, que estava impedido pela Justiça de trabalhar em laticínios, foi contratado para assessorar a produção na fábrica de Taquara. Foram presos também o sócio-proprietário da indústria, em São Paulo, e dois gerentes.

O promotor de Justiça Mauro Rockenbach, da Promotoria de Justiça Especializada Criminal de Porto Alegre, destacou que, embora após 2017 as denúncias sobre adulteração no leite tenham sido mínimas, o caso de 2024 revelou um novo risco. "Para nossa surpresa, lá estava o alquimista, que deveria estar usando tornozeleira eletrônica.

Ele aprimorou seus métodos, agora utilizando a fórmula exata de soda cáustica, tornando os exames ainda mais difíceis de detectar", afirmou Rockenbach.

O promotor Alcindo Luz Bastos da Silva Filho, da Promotoria de Justiça de Defesa do Consumidor, explicou que a soda cáustica é usada para ajustar o pH do leite e reduzir sua acidez, além de ser difícil de detectar em análises.

Ele destacou ainda que, além de aprimorar as fórmulas de adulteração, os fraudadores usavam códigos como “vitamina” e “receita” para despistar investigações.

Produtos adulterados e distribuição

Os produtos adulterados eram distribuídos por todo o Rio Grande do Sul, Brasil e até para a Venezuela. A fábrica de Taquara, que venceu diversas licitações, também fornecia laticínios para escolas em uma cidade paulista.

Embora as marcas ainda não tenham sido divulgadas pela Justiça, os promotores ressaltaram que exames mais detalhados serão realizados para identificar os lotes contaminados.

Prisões e críticas ao setor

Quatro pessoas foram presas no Rio Grande do Sul, incluindo o diretor administrativo da empresa, que foi encontrado com uma arma de fogo de numeração raspada.

Uma funcionária da fábrica foi presa em flagrante por obstrução de investigação, ao alertar colegas para esconderem celulares. Em São Paulo, uma prisão foi realizada em São José do Rio Preto.

A operação também gerou reações de entidades do setor. A Associação dos Criadores de Gado Holandês do Rio Grande do Sul (Gadolando) lamentou o ocorrido, reafirmando que o leite gaúcho mantém elevados padrões de qualidade e que tais adulterações não têm origem nas propriedades rurais.

Já o Sindicato da Indústria de Laticínios do Rio Grande do Sul (Sindilat) repudiou veementemente as fraudes e exigiu rigor nas investigações. O sindicato ressaltou que o leite gaúcho é o mais fiscalizado do Brasil e que qualquer tentativa de burlar o sistema deve ser severamente punida.

Por redação | Agrofy News

Fonte: Agrofy News

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