Conheça a "vaca tokenizada" que virou garantia para crédito a pecuarista
O uso de tecnologias na pecuária de leite tem revolucionado a forma como os produtores gerenciam suas propriedades, permitindo maior eficiência, sustentabilidade e bem-estar animal.
O uso de tecnologias na pecuária de leite tem revolucionado a forma como os produtores gerenciam suas propriedades, permitindo maior eficiência, sustentabilidade e bem-estar animal. Entre essas inovações, o monitoramento das vacas por meio de coleiras inteligentes tem se destacado. Essas coleiras são equipadas com sensores que coletam dados em tempo real sobre a saúde, comportamento e desempenho produtivo dos animais. Com essas informações, é possível identificar precocemente sinais de doenças, monitorar ciclos reprodutivos e melhorar a alimentação, contribuindo para a tomada de decisões mais precisas e a melhoria dos resultados na produção.
Foi por meio dessa tecnologia que a Valda, uma vaca dentre as 500 vacas holandesas da Fazenda Capão da Imbuia, em Carambeí, no Paraná, se tornou a primeira do Brasil a ser ‘tokenizada’. Isso significa que ela foi registrada como um ativo digital único em uma plataforma segura que, nesse caso, armazena informações detalhadas sobre sua saúde e bem-estar.
Com a tokenização, Valda e outras vacas da fazenda que passaram pelo mesmo processo depois dela, estão sendo usadas como garantia digital para a tomada de crédito por parte de seus proprietários, o pecuarista William Vriesman e seus filhos.
A transformação dos animais em ativos digitais foi feita pela startup brasileira Simple Token, num projeto-piloto, em parceria com a agtech Cowmed, que produz coleiras inteligentes que monitoram a saúde e o bem-estar das vacas em tempo real.
As vacas tokenizadas, que produzem 18 mil litros de leite por dia, em média, facilitaram o acesso ao crédito, segundo Luiz Caldas Milano, diretor comercial da Simple Token. A meta da startup é viabilizar R$ 200 milhões em créditos para produtores rurais até o fim de 2026 com animais tokenizados como garantia.
Com o sistema, a startup busca viabilizar o crédito a pequenos e médios produtores, com garantias aos bancos que emprestam. “Registramos os dados da Valda na blockchain, se está ruminando, caminhando, dormindo. Enviamos um link para o banco saber que o animal está saudável e bem cuidado”, afirma Milano.
Segundo o diretor, essa tecnologia ligada a animais não existe no mercado nacional e facilita o processo inteiro. “Se um produtor vai ao banco oferecer o animal como garantia, é muito difícil comprovar que o animal está em boas condições”.
Conhecida por seu uso em criptomoedas como o bitcoin, o blockchain é uma tecnologia de registro de dados. Nesse sistema, as informações sobre o animal — ruminação, alimentação e descanso, por exemplo — estão unidas por meio de “correntes de blocos” (as “blockchains”), que permitem rastrear toda a vida do animal. O uso de blockchain garante a segurança e rastreabilidade dessas operações, segundo a startup.
Milano afirma que facilitar o acesso ao crédito ao produtor é a prioridade da Simple Token. “Quanto maior o risco, maiores os juros. Reduzindo o risco para quem empresta, conseguimos reduzir os juros pagos pelo produtor. Nós nos remuneramos a partir das transações realizadas entre produtores e bancos”, explica.
Para os produtores, os ganhos vêm com a redução de taxas de juros e a possibilidade de investir. “Reformas em estrutura, genética, alimentação animal, conforto, tudo isso traz retorno financeiro imediato para nós. O crédito é sempre bem-vindo se é rápido, seguro e com taxas atrativas”, afirma Emerson Vriesman, filho de William.
O projeto da agtech foi colocado em prática em julho de 2024, um mês após a PL 3019/2023 ser aprovada na Comissão de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural da Câmara dos Deputados em junho. A regulamentação permitiu o uso de animais como garantia em operações financeiras e, com isso, abriu o caminho para a solução.
A Capão da Imbuia foi a fazenda-piloto do negócio. A Simple Token tem conversas avançadas com outros produtores do Paraná, Rio Grande do Sul e Minas Gerais, além de instituições financeiras que se interessaram pela tecnologia.
“Ainda é um protótipo, mas eu vejo um acesso facilitado no futuro, porque os credores entenderam bem como funciona o rastreamento dos animais dados em garantia. Isso facilitou os contratos e tive a liberação do dinheiro super rápido”, comemora Vriesman.
As informações são do Globo Rural, adaptadas pela equipe MilkPoint.