Crise da carne escala a novo nível: deputados franceses atacam produção brasileira

Publicado no dia 27/11/2024 às 15h23min
Baseados em distorções, parlamentares da França denigrem imagem da pecuária nacional

A pecuária do Mercosul, com ênfase na produção brasileira, foi duramente criticada na sessão de ontem (dia 26) na Assembleia Nacional da França. A crise da carne, que parecia estar estancada após o pedido de desculpas do CEO do Carrefour, Alexandre Bompard, escalou a novos contornos.

Durante o debate sobre o Acordo de Livre Comércio entre a União Europeia e o Mercosul, parlamentares franceses chegaram a comparar a carne brasileira a "lixo", questionando sua qualidade, sistemas de produção e rastreabilidade.

O deputado Vincent Trébuchet, do partido UDR, foi enfático em sua crítica: "Nossos agricultores não querem morrer e nossos pratos não são latas de lixo", afirmou.

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Ele mencionou que a carne do Mercosul, especialmente a brasileira, seria "cheia de hormônios de crescimento, produzida em países onde a rastreabilidade continua sendo um conceito vago".

Como se sabe, o uso de hormônios na produção animal não existe por diversos motivos, entre eles, ser totalmente inviável economicamente e contraproducente.

Trébuchet também citou uma auditoria da Comissão Europeia que, segundo ele, revelou a incapacidade do Brasil de garantir normas sanitárias adequadas, com exceção do Uruguai, que teria sistemas de rastreabilidade mais eficientes.

Já sobre a rastreabilidade, o Brasil possui boa parte de sua produção rastreada entre fornecedores diretos e tem projetos em curso para completar inclusive os fornecedores indiretos de frigoríficos.

A deputada Hélène Laporte, do partido de extrema direita Rassemblement National, reforçou as críticas. Segundo ela, o Brasil utiliza "massivamente antibióticos", prática proibida na União Europeia desde 2006. "A forma de produção do Brasil é o modelo? Não", declarou de forma categórica.

Quanto ao uso de antibióticos, eles são necessários e utilizados tanto no Brasil como na União Europeia por razões de sanidade animal.

Contudo, a indústria pode utiliza-los ou não segundo diferentes linhas de produção, ou seja, determinado lote usar determinado antibiótico e outro não, de acordo com exigências de clientes. 

Mas os ataques dos franceses foram além e chegaram ao nível do absurdo. O deputado Antoine Vermorel, do Droite Républicaine, acusou o Mercosul de utilizar "produtos cancerígenos" na carne exportada para a Europa. 

Em um discurso inflamado, Vermorel afirmou que sua oposição ao acordo é motivada por sua ligação com a agricultura francesa, que estaria sendo "minada" pela concorrência desleal do bloco sul-americano.
Protecionismo ambidestro
A rejeição ao acordo UE-Mercosul uniu parlamentares de diferentes espectros políticos.

O deputado Paul Molac destacou o consenso raro entre esquerda e direita em relação à oposição ao pacto. Segundo ele, o setor agrícola francês exige explicações, apontando desvantagens frente aos concorrentes do Mercosul, que utilizam produtos e métodos proibidos na Europa.

Em resposta, a CNA e representantes do agronegócio brasileiro repudiaram as declarações e partiram para o ataque também no Congresso brasileiro. 

Para eles, as críticas refletem um protecionismo disfarçado, usado como justificativa para barrar produtos competitivos do Mercosul.

As críticas surgem em um momento de tensão nas relações comerciais entre Brasil e França. Recentemente, empresas francesas como Carrefour, Tereos e Danone foram alvo de debates sobre os sistemas sanitários de fornecedores do Mercosul.

Daniel Azevedo Duarte
Agrofy News

Fonte: Agrofy News