Frigoríficos boicotam Carrefour como pressão por retratação global

Publicado no dia 25/11/2024 às 10h57min
Desde sexta-feira, nenhuma unidade da rede recebe produtos das empresas brasileiras

A decisão do CEO global do Carrefour, Alexandre Bompard, de suspender a comercialização de carne proveniente do Mercosul gerou fortes reações no Brasil e vai impactar a rede no país.

Grandes frigoríficos, como JBS, Marfrig, Masterboi e Minerva, interromperam o fornecimento de carne às lojas do Carrefour, Atacadão e Sam's Club, que compõem o grupo no país.

Desde sexta-feira (22), nenhuma unidade dessas redes recebe produtos das empresas brasileiras, o que pode impactar o fluxo de clientes e as vendas.

"Paramos completamente de entregar ao Carrefour, e isso está claro. Se não mudar a postura, não haverá fornecimento", declarou João Sampaio, diretor institucional da Minerva, ao jornal O Estado de São Paulo.

Sampaio classificou o posicionamento de Bompard como “hipócrita” e destacou o potencial dano à imagem do Brasil no mercado global. "Precisamos ser mais maduros e conscientes. Essa fala prejudica nossa reputação, principalmente entre clientes das Américas e da Ásia", afirmou.

Impactos no Mercado Brasileiro

A suspensão do fornecimento de carne coincide com o período de Black Friday, tradicionalmente movimentado no comércio.

Ao Globo Rural, fontes indicaram que um em cada quatro carrinhos de compras no Carrefour contém carne, o que reforça a possibilidade de perda de clientes para concorrentes.

Retratação

As associações brasileiras esperam uma retratação formal do Carrefour já no começo desta semana. Sem uma resolução, o boicote pode se intensificar, agravando a relação entre o grupo francês e o setor agropecuário nacional.

Entidades do agronegócio, como a Confederaça?o da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), a Associaça?o Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec), a Associaça?o Brasileira de Proteína Animal (ABPA), a Associaça?o Brasileira do Agronegócio (Abag), a Sociedade Rural Brasileira (SRB) e a Federaça?o das Indústrias do Estado de Sa?o Paulo (Fiesp), criticaram a postura do Carrefour. 

Em nota, as organizações defenderam a qualidade dos produtos brasileiros e sugeriram que o grupo francês repense sua atuação no país.

“Se o Mercosul não atende ao mercado francês, o Carrefour deveria considerar sua permanência no Brasil", argumentaram.

O documento, que tem apoio da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), ainda reafirma o compromisso com a produção responsável, sustentável e orientada para atender às necessidades dos mercados globais.

Apoio governamental

O ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro, manifestou solidariedade aos frigoríficos e repudiou as declarações de Bompard. Em entrevista à Globo News, Fávaro afirmou hoje pela manhã que:

"Não aceitaremos desrespeito aos nossos produtos. Se a França não quiser comprar, buscaremos outros mercados".

Fávaro revelou ainda que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pediu uma solução para o impasse. Ambos lembraram que o Carrefour já enfrentou crises no Brasil, como a morte de um cliente negro em 2020, fato relembrado na reunião.

“Eu estou feliz com a atitude dos nossos fornecedores, se para o povo francês, o Carrefour não serve para comprar carne brasileira, o Carrefour também não compre carne brasileira para colocar nas suas lojas aqui no Brasil”, disse Fávaro.

O Carrefour nega que haja desabastecimento em suas lojas no momento. A situação, porém, deve mudar nesta semana com o boicote.

Contexto

A polêmica reflete tensões comerciais entre o Mercosul e a União Europeia. Bompard manifestou apoio aos agricultores franceses, críticos ao acordo de livre-comércio entre os blocos, em uma carta enviada ao presidente da Federação Nacional dos Agricultores da França, Arnaud Rousseau.

O presidente francês, Emmanuel Macron, também se posicionou contra o acordo, alegando prejuízos à agricultura francesa. Recentemente, Macron declarou que a Argentina, representada pelo presidente Javier Milei, também não estaria satisfeita com os termos do Mercosul.

Enquanto isso, em outros países europeus, como a Polônia, agricultores têm pressionado seus governos a rejeitarem o acordo, intensificando o debate sobre os impactos da parceria econômica para produtores locais.

O Brasil é o maior exportador de carne bovina e de aves do mundo. São aproximadamente 160 países, entre eles a União Europeia, que compra e atesta a qualidade e sanidade das carnes produzidas no Brasil há mais de 40 anos.

A polêmica

A decisão do Carrefour foi anunciada em uma carta de Alexandre Bompard ao presidente da Federação Nacional dos Sindicatos dos Agricultores da França (FNSEA), Arnaud Rousseau. No texto, Bompard expressou solidariedade aos agricultores franceses, contrários ao acordo de livre-comércio entre União Europeia e Mercosul — bloco que inclui Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai — , que criaria a maior zona de livre-comércio do mundo.

A polêmica surge semanas após a Danone anunciar restrições à compra de soja brasileira, ação que gerou críticas de entidades como a Aprosoja Brasil.

Fabio Frattini Manzini
Agrofy News
repórter freelancer

Fonte: Agrofy News

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