O retorno da Índia derruba os preços mundiais do arroz

Publicado no dia 15/10/2024 às 16h27min
Em setembro, os preços mundiais do arroz caíram apenas 1%

Foto: Pixabay

Em setembro, os preços mundiais do arroz caíram apenas 1%, devido à fraca demanda de importação. Esta leve queda não incluiu o impacto do retorno da Índia ao mercado de exportação, anunciado em 28 de setembro. Uma semana antes, a supressão do preço mínimo de exportação do arroz basmati foi o primeiro sinal de flexibilização das restrições impostas em julho de 2023. Mas no início de outubro, os preços mundiais reagiram com uma queda de 10% em poucos dias, atingindo o nível mais baixo desde julho de 2023. Em meados de outubro, enquanto os preços de exportação asiáticos continuavam caindo, os preços indianos se fortaleceram um pouco devido a novas demandas de importação.


Com o fim da proibição de exportações (exceto para o arroz quebrado) e a redução das tarifas de exportação, incluindo para o arroz parboilizado, os principais países importadores estão voltando ao mercado. No entanto, a demanda de importação ainda se mantém moderada enquanto os preços de exportação não se estabilizarem. Desde o anúncio do retorno da Índia, o mercado internacional de arroz enfrenta uma forte volatilidade nos preços, que provavelmente vai durar várias semanas antes de se estabilizar. Os exportadores asiáticos se veem obrigados a ajustar seus preços com base nos novos preços indianos, que, por sua vez, flutuam de acordo com as novas demandas de importação.

Além disso, os estoques dos exportadores encontram-se relativamente altos e as safras principais asiáticas começaram a chegar ao mercado, e seriam melhores do que o esperado. Isso foi, em parte, o que levou a Índia a retomar suas exportações. Portanto, a oferta mundial de exportação vai aumentar nos próximos meses, e provavelmente a tendência de queda dos preços mundiais continuar pelo menos até o início de 2025. Em setembro, o índice OSIRIZ/InfoArroz (IPO) caiu apenas 3,1 pontos para 271,9 pontos (base 100 = janeiro de 2000) contra 275,0 pontos em agosto. No entanto, em meados de outubro, o índice IPO já havia caído quase 20 pontos, para 254 pontos.

Produção mundial

Segundo estimativas da FAO, a produção mundial de arroz em 2023 aumentou 1,2%, para 805,0 Mt (534,4 Mt base beneficiado) contra 791,6 Mt em 2022. ,Esse aumento reflete as boas colheitas na Ásia, África e América do Norte. No Paquistão, a produção aumentou 30%, compensando parcialmente as reduções na Índia, Tailândia e China. Nos Estados Unidos, a produção registrou uma forte recuperação de 37%, retornando ao nível de 2021. Em contraste, a produção no Mercosul voltou a cair devido às más condições climáticas.

Em 2024, novas projeções indicam que a produção mundial poderá atingir um nível recorde de 812 Mt (539,2 Mt base beneficiado), graças principalmente às melhorias substanciais na produção indiana. E possível que nos próximos dois ou três anos, a Índia supere a China para se tornar o maior produtor mundial de arroz. Comércio e estoques mundiais O comércio mundial de arroz em 2023 caiu 6,2%, para 52,9 Mt, contra 56,4 Mt anteriormente. A redução deve-se principalmente à queda das importações chinesas bem como ao aumento da produção em algumas regiões deficitárias, especialmente na África, Oriente Médio e sul da Ásia. O embargo da Índia sobre suas exportações de arroz branco não-basmati acentuo ainda mais a queda no comércio mundial.

O forte aumento dos preços mundiais, em grande parte devido a essas restrições, obrigou alguns países importadores a adiar e/ou reduzir suas demandas de importação. No entanto, parte da queda nas exportações indianas foi compensada pela Tailândia e Vietnã, que aumentaram suas vendas em 15% em 2023, enquanto as exportações totais da Índia caíram 20%. Em 2024, o comércio mundial deve cair novamente 1,5%, para 52,1 Mt. Em contraste, as primeiras projeções para 2025 indicam uma recuperação significativa do comércio mundial, de 4,1%, para 54,3 Mt. Essas projeções provavelmente serão revistas após o retorno da Índia e poderiam se aproximar do nível recorde de 2022. Os estoques mundiais de arroz terminando em 2023 diminuíram levemente para 193,8 Mt, contra 194,3 Mt em 2022, representando 37% das necessidades de consumo mundial.


Os estoques chineses teriam diminuído novamente em 2023 para compensar a queda na produção e a redução das importações. No entanto, as reservas chinesas continuam abundantes, cobrindo 70% do consumo doméstico anual e 50% dos estoques mundiais. Na Índia, os estoques aumentaram 5%, devido principalmente às restrições de exportação. As reservas dos principais países exportadores totalizaram 57,5 Mt em 2023, ligeiramente abaixo de 2022, representando 30% dos estoques mundiais. Em 2024, espera-se que os estoques se recuperem em 2,7%, estimados em 199,0 Mt, e projeta-se um novo aumento em 2025, para um nível recorde de 206,0 Mt. Na Índia, Na Índia, o preço do arroz parboilizado caiu 2% devido à fraca demanda de importação. No entanto, com o anúncio do fim da proibição das exportações indianas, a demanda mundial deve aumentar.

A Índia fixou um preço mínimo de exportação de 490 $/t, bem abaixo das ofertas de seus principais concorrentes, forçando-os a reduzir seus preços. Com a demanda mundial prestes a disparar, o mercado interno indiano também está registrando um forte aumento nos preços do arroz, obrigando o governo indiano a aumentar os preços de exportação. A Índia tem reservas suficientes, e a próxima colheita, que se anuncia abundante, deveria aliviar as tensões internas. Durante os primeiros nove meses do ano, as exportações indianas teriam superado 12 Mt, 20% menos em comparação ao ano anterior no mesmo período. Em setembro, o arroz parboilizado marcou uma média de 524 $/t FOB, contra 534 $ anteriormente.

Em meados de outubro, com a retomada das cotações do arroz branco, os preços oscilavam entre 490 $ e 495 $. Na Tailândia, os preços caíram de 1% em setembro, atingindo o nível mais baixo desde julho de 2023. No entanto, com o retorno da Índia, os preços tailandeses caíram entre 10% e 15% em poucos dias, apesar do fortalecimento do baht em relação ao dólar. Estima-se que as exportações tailandesas durante os primeiros nove meses do ano tenham alcançado 7,4 Mt, 22% a mais em relação a 2023 no mesmo período, mas poderiam desacelerar durante o último trimestre do ano após a nova concorrência indiana. Em setembro, o arroz tailandês 100% B marcou 574 $, contra 579 $ em agosto.

O arroz parboilizado permaneceu relativamente estável a 569 $, contra 570 $ anteriormente. Em contraste, o arroz quebrado A1 Super subiu para 458 $, contra 439 $. Em meados de outubro, os preços tailandeses continuavam caindo, assim como os preços vietnamitas e paquistaneses. No Vietnã, os preços de exportação tiveram uma queda de 1%, dentro de um mercado bastante ativo estimulado pela demanda filipina. No início de outubro, os preços vietnamitas também foram impactados pelo retorno da Índia. No entanto, a queda foi moderada devido à qualidade do arroz oferecido e à demanda relativamente ativa pelo arroz vietnamita no sudeste asiático. Durante os primeiros nove meses do ano, as vendas externas teriam superado 7 Mt, 10% a mais em relação ao ano anterior no mesmo período. Em setembro, o arroz Viet 5% foi negociado a 566 $, contra 573 $ anteriormente.

O Viet 25% marcou 534 $, contra 538 $. Em meados de outubro, os preços já tinham caído de 3% em relação ao final de setembro, antes do anúncio da Índia. Mas, é provável que continuem caindo com a chegada das novas safras ao mercado. No Paquistão, os preços do arroz voltaram a cair significativamente, especialmente o Pak 5%, após uma maior oferta com a chegada da nova safra ao mercado. O retorno da Índia também forçou os exportadores paquistaneses a alinhar seus preços, para manter suas parcelas de mercado, especialmente na Indonésia.

Durante os primeiros nove meses do ano, as exportações paquistanesas teriam alcançado cerca de 4,5 Mt, já 72% a mais em relação ao mesmo período em 2023. Graças à maior disponibilidade em 2024, há expectativa para superar o recorde histórico de 5 Mt, contra 4,5 Mt em 2023. No entanto, a nova concorrência da Índia pode desacelerar as vendas externas do Paquistão. Em setembro, o Pak 5% marcou 534 $, contra 550 $ em agosto. Em meados de outubro, os preços paquistaneses estavam entre os mais baixos do mercado, a 480 $. Na China, o aumento da produção poderia ser menor do que o esperado devido às inundações que afetaram o país.

No entanto, isso seria compensado pela redução no consumo de arroz, devido à menor demanda interna e à queda da população. Espera-se que as importações se mantenham estáveis entre 1,5 Mt e 1,9 Mt. Nos Estados Unidos, os preços do arroz caíram 1,5% em setembro, dentro de um mercado relativamente ativo. Maiores ofertas começaram a chegar ao mercado graças ao novo aumento da produção. Em setembro, as exportações atingiram 275.000 t, contra 195.000 t em agosto, já um aumento de 43% em comparação com 2023 no mesmo período.

Em setembro, o preço indicativo do arroz Long Grain 2/4 registrou 770 $/t, contra 780 $. Em meados de outubro, o preço tendia a se fortalecer para 790 $. Na Bolsa de Chicago, os preços futuros do arroz casca subiram 1,6%, para 335 $/t, contra 329 $ em agosto. Em meados de outubro, os preços futuros permaneciam estáveis em 334 $. No Mercosul, os preços de exportação caíram em média 1,5%, mas com oferta de exportação reduzidas. Os excedentes de exportação estão em seu nível mais baixo, especialmente no Uruguai e Paraguai.

O preço indicativo do arroz casca brasileiro subiu 1,4%, para 429 $/t, contra 424 $ em agosto. Em meados de outubro, os preços do arroz casca continuavam firmes para 433 $. Na África subsaariana, a oferta nos mercados internos continua relativamente escassa devido à diminuição dos estoques. Nos países onde as colheitas precoces já começaram, a oferta tende a melhorar. Com tudo, espera-se que a oferta local de arroz se recupere com a chegada do período da seca no último trimestre do ano. Nos mercados nacionais, os preços permanecem estáveis graças a novas importações asiáticas, que devem se acelerar com o retorno da Índia ao mercado de exportação.

Infoarroz
Compartilhe: 

Fonte: Agrolink