Boi na sombra e picanha em alta: falta de reposição eleva arroba bovina
Tempo seco e aumento da demanda devem manter cenário durante as próximas semanas
A oferta restrita de gado para abate e a alta demanda continuam impulsionando as cotações da arroba bovina no mercado brasileiro, que já valorizaram 28,5% na média mensal do Cepea desde junho.
Segundo análise da Scot Consultoria, o cenário de escassez na reposição de estoques, agravado pelas condições climáticas desfavoráveis, deve manter os preços em alta nos próximos meses.
Assim, se no ínício do mandato o governo Lula chegou a comemorar a queda no preço da picanha, o cenário já está diferente com preço do corte até 43,5% mais caro.
Em setembro, as temperaturas ficaram acima da média e as chuvas se mostraram irregulares, prejudicando as pastagens e afetando diretamente a produção e a reposição de gado.
Nos primeiros dias de outubro, o panorama climático não apresentou melhora significativa. As pastagens de baixa qualidade e o aumento do custo de produção impactaram principalmente a oferta de bovinos mais jovens, que necessitam de um ciclo produtivo maior.
Diante dessa conjuntura, os pecuaristas têm priorizado a compra de animais mais erados, que oferecem um retorno mais rápido no abate. Assim, as cotações do boi gordo, que vinham em um movimento de alta, seguem aquecendo o mercado de reposição.
De acordo com os dados da Scot Consultoria, as praças paulistas registraram um aumento expressivo em setembro: o preço do boi magro subiu 5,3%, o do garrote 3,3%, enquanto o bezerro de ano e o bezerro de desmama apresentaram altas de 4,1% e 2,8%, respectivamente.
O movimento de valorização também atingiu as fêmeas. A vaca magra teve uma valorização significativa de 12,5%, a novilha subiu 6,0%, enquanto a bezerra de ano e a de desmama apresentaram elevações de 5,4% e 4,2%, respectivamente.
Demanda firme
Segundo a Scot, esses números reforçam a percepção de um mercado firme, com previsões de manutenção de preços elevados nas próximas semanas, mesmo com a chegada das chuvas esperadas para outubro.
Analistas indicam que a escassez no mercado de reposição, especialmente para bovinos de ciclo produtivo mais longo, deve sustentar preços em alta até o final do ano.
Além disso, o Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada) corrobora com essa análise, destacando que o boi gordo vem acumulando altas sucessivas desde o início do segundo semestre de 2024.
A pressão de demanda tanto no mercado interno quanto nas exportações tem contribuído para essa valorização contínua. O movimento no mercado doméstico é potencializado pela redução do nível de desemprego e aumento da massa salarial.
A taxa de desemprego registrada no trimestre em julho deste ano (6,8%) é a menor desde o trimestre encerrado em dezembro de 2014 (6,6%). É também a menor para um trimestre encerrado em julho desde o início da série histórica da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua.
Daniel Azevedo Duarte
Agrofy News
Editor-chefe do Agrofy News Brasil