Quem são os culpados pelos incêndios no Brasil?

Publicado no dia 23/09/2024 às 10h42min
Várias hipóteses surgem para explicar as motivações por trás do fogo que consumiu o país

Na última semana, as forças de segurança intensificaram investigações e prisões relacionadas à onda de incêndios criminosos que atingem o Brasil.

A Polícia Federal deflagrou uma operação no Mato Grosso do Sul, enquanto as polícias estaduais detiveram quase 300 incendiários nas regiões Sudeste e Centro-Oeste.

Com 85 inquéritos instaurados para investigar os incêndios florestais, as apurações revelam indícios de crimes ambientais.

Segundo o delegado da Polícia Federal, Humberto Freire de Barros, várias hipóteses surgem para explicar as motivações por trás dos incêndios que destroem riquezas naturais e afetam a saúde humana.

 A ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, ressalta que parte da causa pode estar ligada à resistência à retomada de políticas ambientais.

“Nós conseguimos retomar a criação de unidades de conservação, demarcação de terras indígenas, combate ao garimpo, e reduzimos o desmatamento em 50% no ano passado. Esse ano, já reduzimos em 45%. Agora enfrentamos uma combinação de evento climático extremo e ações criminosas”, afirmou.

Até o fim de setembro, o Brasil já contabiliza quase 200 mil focos de incêndio, sendo que mais da metade ocorreu na Amazônia.


Grilagem: um dos principais fatores
Mauricio Torres, pesquisador do Instituto Amazônico de Agriculturas Familiares (Ineaf) da UFPA, afirma que o fogo é usado como parte de um processo maior de grilagem de terras públicas. "Após a derrubada de uma floresta, o fogo é usado para limpar o terreno e permitir a ocupação ilegal", explica.


Ele também menciona que o desmatamento é um dos métodos usados para garantir posse de terras, facilitado pelas anistias estabelecidas por leis como as Leis 11.962/2009 e 13.465/2017.

Para provar a ocupação, invasores muitas vezes utilizam autos de infração ambiental ou imagens de satélite de desmatamento.

Torres argumenta que combater os incêndios florestais vai além da fiscalização: "Você precisa de uma ação fundiária. O desmatamento não pode ser premiado com títulos de terra. É preciso enfrentar a grilagem."

 

 
Crimes e investigações
Para a Polícia Federal, a utilização do fogo em períodos proibidos caracteriza crime ambiental. Segundo Barros, os crimes podem ser classificados como culposos, quando não há intenção, ou dolosos, quando há intenção de causar o incêndio.

Entre os crimes relacionados estão grilagem, formação de quadrilha, lavagem de dinheiro e corrupção. "Nossas investigações correlacionam esses crimes para oferecer uma resposta do poder público", disse o delegado.

Além disso, há indícios de retaliação de criminosos ambientais insatisfeitos com a retomada da agenda ambiental. Barros cita a destruição de mais de 420 dragas no Rio Madeira como um dos possíveis motivadores dos incêndios.

Incêndios em unidades de conservação
Os incêndios também têm atingido unidades de conservação em vários biomas. No Cerrado, por exemplo, houve um aumento de 221% na área queimada em agosto deste ano, segundo Vera Arruda, do MapBiomas Fogo.

“Esses incêndios resultam em perda de biodiversidade e comprometem a capacidade do Cerrado de regular o ciclo hidrológico", explica a pesquisadora.


Danos ecossistêmicos
O delegado Barros ainda menciona que os custos ecossistêmicos causados pelos incêndios serão incluídos nas investigações, para que os responsáveis pelos crimes ambientais sejam obrigados a indenizar pelos danos.

“Esses serviços ecossistêmicos são calculáveis e serão usados para responsabilizar financeiramente os criminosos”, concluiu.

Secretário aponta conotação política em incêndios na Amazônia
O secretário de Controle do Desmatamento e Ordenamento Ambiental Territorial do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima, André Lima, afirmou que parte dos incêndios florestais recentes na Amazônia possui conotação política.

Segundo Lima, além dos fenômenos climáticos atípicos, os incêndios na Amazônia deste ano têm sido impulsionados por ações criminosas de pessoas que estão reagindo às políticas ambientais adotadas pelo atual governo para combater o desmatamento ilegal.

"Tem, inclusive, incêndio que a gente imagina que possa ter conotação política. É uma reação de parte da sociedade que não se conforma, que não se enxergou dentro da sustentabilidade", afirmou o secretário.

Mato Grosso: mais de R$ 1 bilhão em multas por crimes ambientais
Neste ano, mais de R$ 1 bilhão em multas por crimes ambientais foram aplicadas em Mato Grosso, durante ações da Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Sema), em parceria com a Polícia Militar e o Corpo de Bombeiros.

As ações de combate ao desmatamento ilegal e às queimadas resultaram em 230 operações, embargaram 205 mil hectares, atenderam a 2.920 alertas e geraram 3.236 autos de infração.

Entre os materiais apreendidos até agora, destacam-se: 95 tratores, 4 retroescavadeiras, 58 motosserras, 67 esteiras, 17 escavadeiras, 57 caminhões, 20 motos, 18 dragas ou balsas, 103 motobombas ou motores estacionários, além de 14,75 mil m³ de madeira.

No início de setembro, um fazendeiro foi multado em R$ 50 milhões por causar um incêndio que devastou mais de 7.500 hectares de vegetação nativa do Pantanal, em Poconé, a 103 km de Cuiabá. A área destruída equivale a 10,5 mil campos de futebol.

Por Redação com informações da Agência Brasil | Agrofy News

Fonte: Agrofy News

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