Produtores gaúchos prometem "maior tratoraço da história" para pressionar governo
SOS Agro RS pede prorrogação das dívidas por 15 anos e crédito para reconstrução
Com o objetivo de pressionar o governo federal a atender reivindicações de produtores rurais gaúchos, o movimento SOS Agro RS pretende realizar, no dia 8 de agosto, o “maior tratoraço da história do Brasil”, em Porto Alegre.
O movimento cobra algumas medidas para atenuar os prejuízos que tiveram após a tragédia ambiental que atingiu o Rio Grande do Sul e também para recomeçarem.
As principais demandas junto ao governo federal são a prorrogação das dívidas por 15 anos, com carência de três anos e juros de 3% ao ano; e crédito para reconstrução, reinvestimento e capital de giro nas propriedades.
As medidas são apoiadas pela Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul) e pela Federação dos Trabalhadores na Agricultura (Fetag).
O local da manifestação ainda não está definido, mas será em Porto Alegre. Um dos organizadores, Luca Scheffer, um afirmou que a ideia, até o momento, é trazer o maquinário para a Capital embarcado em caminhões, descartando a possibilidade de os veículos circularem por Porto Alegre ou mesmo por rodovias.
“Temos duas ou três ideias sobre a parte logística. Vamos conversar com a EPTC (Empresa Pública de Transporte e Circulação), com a Brigada Militar, com a Polícia Rodoviária Federal e com a Estadual, para ver quais são as possibilidades”, disse o produtor rural de Cacequi ao jornal Correio do Povo.
Medida provisória
A expectativa do movimento é que o Governo Lula edite a medida provisória anunciada pelo ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro para o dia 30 de julho.
“É um consenso do Governo anunciarmos, até o dia 30 deste mês, uma Medida Provisória que venha reestruturar o setor dando tratamento diferente para cada produtor, inclusive com a possibilidade até de zerar as dívidas dos que foram mais afetados e que ficaram com poucas perspectivas, não tendo como deixar ainda mais endividamento" anunciou Fávaro na semana passada.
Fávaro também ressaltou na semana passada que é importante avaliar a situação dos produtores caso a caso e mencionou a criação de comitês para avaliar a melhor solução. Para ele, existem produtores que perderam tudo e precisam de um olhar mais atento.
“Precisamos de critérios. A sociedade civil e os poderes juntos para certificarmos quem é quem, quem merece e quanto merece, mas a disposição, como disse, é até da possibilidade de perdão total da dívida para aqueles que necessitarem”, terminou.
O SOS Agro RS revela que mesmo com a medida provisória o tratoraço será mantido.
“Vamos fazer o ‘tratoraço’ para cobrar ou para comemorar, mas, na verdade, será muito difícil ter o que comemorar. Mantemos a mobilização para pressionar o governo”, afirma Scheffer ao Correio do Povo.
O movimento SOS Agro já fez duas manifestações. Na sexta passada (dia 19), ocorreu no parque de exposição da Expoagro Afubra, em Rio Pardo, reunindo milhares de produtores.
O governador Eduardo Leite participou da mobilização e fez coro às demandas, cobrando medidas mais robustas por parte da União. Leite ressaltou que o governo do Estado tem disponibilizado todo o suporte possível para os agricultores.
“O agronegócio é a espinha dorsal da nossa economia. O governo do Estado tem feito o possível, mas precisamos de mais apoio da União. A ajuda que vem do governo federal até o momento é insuficiente e está muito distante das necessidades do povo gaúcho”, afirmou o governador.
Leite destacou, ainda, que o Rio Grande do Sul arrecadou, no ano passado, R$ 107 bilhões em impostos federais. Do total, apenas R$ 50 bilhões retornaram ao Estado. O governador insistiu que o pacto federativo precisa funcionar na prática.
“Estamos vendo muita propaganda por parte do governo federal, muitos anúncios, mas pouca efetividade na chegada de recursos. Apenas 20% de tudo que o governo federal anunciou chegou aos gaúchos, e grande parte em linhas de crédito. Precisamos ser tratados de maneira compatível com a gravidade do momento e com o que entregamos ao Brasil”, destacou.
Governo abre crédito extra de R$ 230,8 milhões
O governo federal publicou na sexta-feira uma medida provisória autorizando a abertura de crédito extraordinário no valor de R$ 230,8 milhões para medidas do Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA).
A maior parte do valor, R$ 210,8 milhões, será aplicado no apoio financeiro para a contratação do seguro rural pelos produtores, referente à safra 2024/2025.
O crédito também prevê R$ 20 milhões para recuperação e modernização de infraestruturas de pesquisa e desenvolvimento das unidades da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).
A Confederação Nacional dos Municípios (CNM) estima que os prejuízos para a agropecuária gaúcha foram até o momento de R$ 4,5 bilhões.
Fabio Frattini Manzini
Agrofy News
repórter freelancer