Mudanças climáticas e os eventos extremos no Rio Grande do Sul

Publicado no dia 14/05/2024 às 11h29min
Grandes volumes de chuva têm sido frequentes no final de abril e começo de maio de 2024 no Rio Grande do Sul, causando enchentes com alagamentos em inúmeras cidades do estado gaúcho.

Grandes volumes de chuva têm sido frequentes no final de abril e começo de maio de 2024 no Rio Grande do Sul, causando enchentes com alagamentos em inúmeras cidades do estado gaúcho. A enchente de maio de 2024 é a maior das últimas décadas no estado, afetando uma extensa área com perdas e destruição, sendo a terceira enchente nos últimos oito meses em algumas das localidades do RS.

Pessoas desalojadas, vidas perdidas, acessos dificultados para resgates são algumas das tristes consequências desse cenário devastador.

A cadeia agropecuária também está sendo fortemente afetada. Colheitas que não puderam ser escoadas, máquinas, implementos, galpões com estoque de alimentos para o rebanho completamente submersos e animais levados com as fortes correntezas das enchentes.

Para entender a situação que ocorre no RS, a equipe do MilkPoint conversou com a Meteorologista da Epagri/Ciram, Marilene de Lima.

Marilene fala que as condições climáticas têm se tornado cada vez mais frequentes, mais intensas e devastadoras. Áreas climáticas com a maior probabilidade de ocorrências meteorológicas, e a sua vulnerabilidade, são bem conhecidas pela equipe de previsão de tempo, mas cada vez que acontece um evento extremo é necessário rever e atualizar incluindo novas áreas com análises e prognósticos mais atentos. No entanto, Marilene comenta que infelizmente, eventos extremos estão acontecendo como nunca antes aconteceram com essas proporções e, mesmo os modelos meteorológicos de previsão de tempo com melhor desempenho não conseguem prever estes eventos de 500 mm (ou mais) em poucas horas, por exemplo.

Então, diante destas mudanças climáticas que a cada momento trazem uma nova calamidade pública, é vital que cada brasileiro adote uma cultura de enfrentamento a desastres, com aprendizado em escolas e nas famílias de como conviver com a possibilidade de estar em locais mais suscetíveis às condições meteorológicas e hidrológicas adversas. Além de que, as políticas públicas certamente devem investir mais esforços nesse sentido já que nosso país não tem gastos com guerras. Essas atitudes podem ser determinantes para salvar vidas, enfrentar cenários de desastres, evacuar locais com segurança.

As ferramentas de monitoramento e previsão que a meteorologia conta, não possibilita prever antecipadamente situações extremas, por exemplo 3 meses ou até 2 semanas antes, com a precisão desejada e necessária porque os modelos climáticos não possuem essa sensibilidade. Os modelos podem indicar uma quantidade de chuva para uma certa área, mas, não é raro que com antecedência maior a 3 ou 4 dias o total de chuva observado seja maior (ou menor) em relação ao previsto pelos modelos, afirma Marilene.

Marilene também salienta o fato de acontecerem situações desmedidas, como é o caso do Rio Grande do Sul, que em um período menor que 1 ano, o mesmo local foi assolado por praticamente a mesma situação. A condição atmosférica aconteceu em curto intervalo de tempo entre um e outro episódio, sem dar tempo para recuperação e isso tem maior relação com a resposta rápida de nível de rios (enchente ou inundação) à ocorrência da chuva.

Considerando que as mudanças climáticas e os eventos climáticos extremos são mais frequentes e com maior intensidade, a meteorologia está e seguirá sempre muito presente durante as ocorrências para que as pessoas possam planejar e viabilizar melhor a logística no enfretamento da situação (assistência, retirada das pessoas e impedir seu retorno antes do fim do evento nas áreas de risco) e no pós acontecimento, no decorrer das operações de recuperação das áreas afetadas.

Obras de engenharia realizadas para possibilitar a segurança das pessoas, a salvo de eventos muito extremos e esporádicos, também as tornam despreparadas como é o caso do muro de contenção que foi construído no Guaíba após uma enchente que ocorreu no século passado. Isso porque, nenhum evento climático é igual ao anterior e diante do contexto atual das mudanças do clima, sempre podem ser muito piores.

Resumindo, os eventos podem surpreender por sua intensidade e pelas fragilidades que se apresentam naquele momento. Não é só o volume de chuva que determina a gravidade da situação, mas também o tempo de resposta dos rios. Ou seja, existe uma série de outras situações que determinam como cada evento extremo se apresentará para o desafio, conforme Marilene explica.

Por último, Marilene salienta que, para que haja um cenário mais otimista frente à recorrência desses eventos climáticos extremos, é necessário que as pessoas estejam bem informadas diariamente em especial sobre a previsão de tempo em curto e médio prazo. E, em caso de eventos extremos cada pessoa da população tem que estar preparada para seguir as orientações dos tomadores de decisão, que com certeza estarão muito bem informados das condições de tempo, ou seja: sair (ou não, mas avisando quem e quantos são e onde estão para possível resgate) do local afetado,  ter pra onde ir, quando voltar (momento de retorno com segurança) e, posteriormente, como será a recuperação das áreas afetadas.

 

As informações foram cedidas pela Meteorologista da Epagri/Ciram, Marilene de Lima à equipe MilkPoint.

Fonte: MilkPoint

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