O preço do leite ao produtor está melhorando ou piorando?

Publicado no dia 11/04/2024 às 12h26min
A resposta é: depende de como se analisa.

Evidentemente, os preços nominais (sem correção da inflação) estão aumentando quando se analisa o histórico. Mas isso não quer dizer que estão melhorando, porque os custos de produção também aumentam no tempo. É o efeito da inflação. 

A maneira de corrigir isso é usando um indicador que representa a inflação no período. O problema é que há diferentes indicadores e, dependendo de qual for usado, a conclusão vai ser diferente.

Se usarmos o IPCA, que mede a inflação ao consumidor (linha laranja no gráfico), fica claro que os preços estão melhorando, apesar dos altos e baixos, como o período a partir de meados de 2023 e que ainda persiste. A linha pontilhada laranja mostra a trajetória ascendente. Lá em 2008, por exemplo, os preços médios corrigidos pelo IPCA indicavam valores ao redor de R$ 1,50/litro – o Cepea indicou agora R$ 2,23/litro para o leite de fevereiro/24. Mesmo na baixa, é melhor do que os do passado.

Porém, pode-se argumentar que o IPCA não é um bom indicador para avaliar se a situação de fato melhorou nesse período para o produtor de leite. Nesse sentido, o IGP-DI tende a ser mais apropriado, pois incorpora os preços de atacado, os preços ao consumidor e o custo da construção civil, que incorpora indiretamente o dólar, que é uma variável importante dos custos de produção de leite. 

Vamos então a ele. Pelo IGP-DI (linha azul), a situação já é um pouco diferente. Esse índice subiu mais ao longo do tempo, o que joga os preços anteriores para valores mais altos, quando corrigidos. Ainda assim, há uma leve trajetória de alta de 2007 até 2023 (linha pontilhada azul).

Mas há um indicador ainda mais preciso: o próprio custo de produção de leite. Para isso, utilizamos o ICP-Leite, da Embrapa Gado de Leite (linha verde). E o que esse índice mostra? Mostra que o preço do leite, quando corrigido por esse índice, na realidade não está aumentando, porque os custos de produção subiram mais do que a inflação da economia, seja ela calculada pelo IPCA ou pelo IGP-DI. A linha pontilhada verde mostra basicamente uma trajetória plana. Isso, aliás, faz sentido quando olhamos a realidade dos números: a produção não tem crescido nos últimos anos. Apesar de diversos aspectos gerarem baixo crescimento, certamente a atratividade da atividade é um deles – e dos mais importantes.  Seria mais difícil explicar a falta de crescimento se os preços tivessem sistematicamente subido mais que os custos, como o IPCA e, em menor grau, o IGP-DI estariam indicando! 

Vale incluir uma informação que não está no gráfico: de 2009 a 2017, os custos de produção subiram 24% mais do que o IPCA. Porém, de 2018 a 2023, esse aumento foi de quase 66%! Principalmente no pós-pandemia.

É possível compensar o aumento de custos tendo maior eficiência na propriedade, pelo menos até certo ponto. Porém, analisando o Brasil como um todo, os custos subiram mais rapidamente do que a eficiência: ficamos caros antes de ficarmos bons.  

Para pensar:

A forte elevação de custos é conjuntural, fruto do pós-pandemia, ou estrutural, isto é, veio para ficar e o problema da eficiência da cadeia é algo com o que teremos que efetivamente lidar daqui para frente?

preço do leite 
Fonte: MilkPoint Mercado.

 
A coluna "Um gráfico, uma análise" traz aos leitores uma informação rápida e ao mesmo tempo educativa, provocando reflexões e ideias. Se você tem uma sugestão para realizarmos uma breve análise, envie pra gente através deste formulário. 

MARCELO PEREIRA DE CARVALHO

Engenheiro Agrônomo (ESALQ/USP), Mestre em Ciência Animal (ESALQ/USP), MBA Executivo Internacional (FIA/USP), diretor executivo da AgriPoint e coordenador do MilkPoint.

Fonte: MilkPoint