Se toda agropecuária do Brasil fosse regenerativa, qual seria o impacto nas mudanças climáticas?

Publicado no dia 02/04/2024 às 16h20min
Agro pode ter um papel essencial para contornar os efeitos do aquecimento global

As mudanças climáticas são apontadas por muitos como responsáveis pelo impacto que já se mostra cruel na agropecuária não só brasileira, como também mundial.

No desafio de amenizar as intempéries do clima, o agro pode ter um papel essencial para contornar os efeitos do aquecimento global.

Visando isso, a Agrofy News fez um exercício de imaginação e consultou uma autoridade no assunto com a seguinte indagação: se toda a agropecuária do Brasil fosse regenerativa qual seria o impacto nas mudanças climáticas globais?

A pergunta foi feita ao coordenador do Departamento de Ciência do Solo da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (ESALQ), na USP, Carlos Eduardo Pellegrini Ceri.

“A gente já até fez uma brincadeira neste sentido. Se toda a área agrícola brasileira utilizasse práticas regenerativas, não só a agricultura, mas a pecuária também, a gente teria condição de acumular uma quantidade tal de 3,5 petagramas de CO2 que daria para neutralizar as emissões de toda a agricultura global”, explica.

O professor explica que 1 Pg (petagrama) é igual a 1 bilhão de toneladas.

“Ou seja, deixando claro que não dá, mas só para você ter uma ideia: se a gente conseguisse recuperar 100% das pastagens em algum grau de degradação e passar todas as áreas agrícolas para sistemas mais sustentáveis, a gente teria um crédito em relação à redução de emissão e sequestro de carbono que daria para neutralizar a agricultura do mundo todo.”

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No final do ano passado, o relatório Climate Trace Inventory, apresentado por Al Gore, ex-vice-presidente dos EUA e ganhador do prêmio Nobel da Paz, durante a COP28 mostrou que o Brasil e agronegócio global respondem, respectivamente, por 2,5% e 12,8% das emissões globais de CO2.

O Brasil emitiu 1,5 bilhão de toneladas de CO2, enquanto a agropecuária mundial 7,46 bilhões de toneladas de CO2.

Ao adotar práticas sustentáveis no campo, os produtores contribuem para reduzir a pegada, para viabilizar a produção de alimentos a longo prazo e para reverter o quadro de mudanças climáticas.

Qual o potencial de fixação de carbono da agricultura regenerativa?
O professor da Esalq explica que cada prática tem um diferente potencial, assim não dá para precisar exatamente qual o grau de fixação.

“Cada uma das práticas de manejo, tem um potencial distinto. Por exemplo a adoção do sistema plantio direto na palha, ela tem taxas médias ponderadas no Brasil, de 0,5 toneladas de carbono por hectare por ano quando a gente considera uma camada de 30 cm. E nas regiões, também se distinguem.”

Na região Sul, por exemplo, segundo ele, o sequestro é maior, em torno de 0,8 e 0,9. “Mas na região Centro-Oeste é menor, em torno de 0,2. Então a média no Brasil é de 0,5 toneladas de carbono por hectare por ano.”

Segundo ele, quando se adota o mix de plantas de cobertura, esse valor dobra uma tonelada de carbono por hectare por ano.

“É uma capacidade bastante alta, porque a geração de matéria seca é elevada, 10, 15 toneladas de matéria seca por hectare. Uma parte vai ficar no solo e outra parte vira gás que vai de volta para atmosfera.”

De acordo com o professor, o sistema integrado lavoura pecuária floresta alcança até 1,5 toneladas de carbono por hectare por ano para os mesmos 30 cm.

“Depois nós temos potencial, por exemplo, do uso de bioinsumos. Dentro de insumos, o controle de praga, tem sido mais efetivo. Isso não sequestra carbono diretamente, mas evita a emissão de gases. Temos visto com valores assim 10, 15 toneladas de CO2 equivalente por hectares. Então veja, são práticas e alguns exemplos que eu dei de menor emissão e outros de sequestro que a gente junta tudo. É isso dá o balanço de carbono. É isso que a gente precisa mais e mais intensificar para as nossas avaliações”

O balanço de carbono (CO??) é a diferença entre emissões e remoções antropogênicas de gases de efeito estufa da atmosfera em um determinado intervalo de tempo.

Potencial gigantesco: entradas e menos saídas
Além de emitir menos, a agropecuária é o único setor que também fixa CO2 naturalmente e cada vez mais.

“A agricultura faz as duas coisas, emite e reduz, o setor de transporte há um esforço apenas para reduzir as emissões, por exemplo. O nosso além de reduzir, pode sequestrar, então é uma evolução no contexto de agricultura regenerativa, no contexto de balanço de recursos naturais no sistema, isso vai além das pegadas. Lá fora, não estão falando de balanço, nós já estamos na frente, falando de entradas e menos saída”.

Assim, segundo o professor, o Brasil tem potencial gigantesco dentro desse mercado de carbono.

“Sobre o ponto de vista de potencial, o Brasil equivale a Arábia Saudita no petróleo, mas no bom sentido aqui de potencial de acúmulo. O que acontece é que dentro desse contexto de mercado de crédito de carbono, o Brasil não participa ainda do mercado regulado para o agro, só no mercado voluntário”.

Dois tipos mercados de carbono
Existem dois tipos de mercado de carbono, o voluntário, que depende da iniciativa própria das empresas, e o regulado, imposto por decisão dos Estados nacionais e considerado mais eficiente.

Segundo Cerri, os valores praticados no mercado voluntário ainda são muito baixos. “O valor que é pago por uma tonelada de carbono que equivale a um crédito, ainda é muito baixo. Então hoje não é um estímulo muito grande, tem que pensar no carbono com uma consequência da adoção dessas práticas, não como motivo de adoção. E aí pode ser uma bonificação, se correr como o Banco Mundial, por exemplo prevê, esse valor de credito pode ser bastante alto e aí muda de figura para o produtor. Hoje não é o caso.”

Ele enxerga o Brasil como líder mundial nesta temática.

“Nós temos extensas áreas, nós temos a adoção dessas práticas de manejo no nível bastante avançado, eu diria muito mais avançado que em outros países e nós temos a tecnologia, para esse acúmulo. Então acho que temos todos os elementos necessários para ser líder.”

Para ele, a agropecuária regenerativa já é uma realidade.

“Já é o presente e no futuro pode ser ainda mais proeminente, expandindo ainda mais as áreas de cultivo que a gente tem no Brasil e quem sabe a gente motiva outros países que só falam e não fazem nada a fazerem também sua lição de casa”, pontuou.

Fabio Frattini Manzini
Agrofy News
repórter freelancer

Fonte: Agrofy News

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