Agricultura molecular: a incrível técnica que produz "ovo em batata" ou "carne em alface"
Mercado já conta com diversas empresas e deve movimentar mais de R$ 20 bilhões até 2029
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Uma tecnologia inovadora tem impressionado cada vez mais cientistas, investidores e consumidores, como eu e você.
A chamada agricultura molecular tonou-se possível há poucos anos, mas já tem entregas tão impactantes como a produção de “ovo em batata”, “vacinas em tabaco”, “suíno em soja” ou “carne em alface”.
E não se trata apenas de experimentos em laboratórios inacessíveis. Alguns destes resultados já estão disponíveis ao mercado. Mas antes de aponta-los, vale a pena responder:
O que é agricultura molecular?
A agricultura molecular modifica células vegetais para que possam replicar proteínas animais ou até de outros seres a fim de que possam ser colhidas de folhas ou outros tecidos vegetais.
De certa forma, os cientistas “hackeiam” as plantas e as “programam” para que funcionem como reatores naturais, capazes de multiplicar proteínas diferentes das suas próprias.
Para isso, eles inserem partículas no código genético das plantas em nível molecular. Daí, o nome agricultura molecular.
O modelo tem vantagens importantes para a produção de proteínas alternativas ou livres de animais, como a carne de laboratório, que precisam de biorreatores caros e poluentes.
Muitas empresas já atuam no setor que valerá, segundo a consultoria Market & Markets, mais de R$ 20 bilhões em 2029.
Conheça algumas delas:
Proteínas lácteas: Mozza, Nobel Foods (EUA), Change Foods (EUA) Miruku (Nova Zelândia), IngredientWerks (EUA), Veloz Bio (Espanha), Pigmentum (Israel)
Fatores de crescimento: Bright Biotech (Reino Unido), ORF Genetics (Islândia), BioBetter (Israel), Tiamat Sciences (EUA), Core Biogenesis (França)
Proteínas de carne: Moolec Science (registrada no Reino Unido), IngredientWerks (EUA), Kyomei (Reino Unido)
Proteínas de ovo: PoLoPo (Israel), Veloz Bio (Espanha)
Diversos – incluindo proteínas doces, Mogroside V, enzimas, albumina: GreenLab (EUA), Elo Life Systems (EUA), Forte Protein (EUA)
Vacinas, terapêuticas: Baiya Phytopharm (Tailândia), Protalix Therapeutics (Israel), Bio Applications (Coréia), KBio (EUA), Eleva (Alemanha), InVitria (EUA), Agrenvec (Espanha) Diamante (Itália)
Ovo em batatas
A PoLoPo é uma biotech de Israel que transforma batatas em fábricas de produção de proteínas, começando pelas proteínas do ovo.
Recentemente, a empresa revelou sua plataforma SuperAA que é capaz de gerar patatina e ovalbumina através de técnicas proprietárias de engenharia metabólica.
“A plataforma SuperAA usa plantas como fábricas vivas e aproveita sua produtividade natural e órgãos de armazenamento para cultivar proteínas idênticas às proteínas derivadas de um ovo de galinha”, disse a CEO da PoLoPo, Maya Sapir-Mir, que cofundou a startup com o CTO Raya. Liberman-Aloni em 2022.
A plataforma Super AA do PoLoPo cultiva aminoácidos-alvo dentro do tubérculo da batata, que são colhidos quando atingem tamanho suficiente.
A proteína é então extraída e seca em um pó que pode ser integrado em linhas e formulações de processamento de alimentos existentes.
Essencialmente, a startup insere uma sequência de DNA na batata para ensiná-la a produzir uma proteína de ovo que seja totalmente funcional, nutricionalmente equivalente e quimicamente idêntica aos ovos de galinha, mas sem qualquer contribuição animal.
Este último é o que o diferencia de outros ovoprodutos alternativos.
Embora as proteínas do ovo derivadas da batata do PoLoPo sejam veganas, ao contrário de seus concorrentes vegetais no mercado, elas não são adequadas para pessoas com alergia ao ovo.
“A produção em escala de proteínas em plantas através da agricultura molecular tem o potencial de transformar a agricultura e a tecnologia agrícola em geral, para um sistema alimentar mais resiliente e sustentável”, explicou Sapir-Mir, cuja empresa fechou uma rodada de investimento pré-semente de US$ 2,3 milhões no ano passado.
Daniel Azevedo Duarte
Agrofy News
Editor-chefe do Agrofy News Brasil