Agricultores cercam Paris, que tem só três dias de estoque de alimentos

Publicado no dia 29/01/2024 às 16h28min
Importação de frango do Brasil é um dos símbolos da atual revolta / Redação | Agrofy News

Os manifestantes querem interromper o abastecimento alimentar da cidade “durante pelo menos 5 dias, o que deixará claro aos parisienses que precisam de agricultores”. (foto - redes sociais)


Os agricultores franceses iniciaram a semana com bloqueios a estradas de acesso às principais cidades do país, como Paris, que conta com apenas mais três dias de estoques de alimentos.

Os produtores rurais estão revoltados com a concorrência dos produtos importados – como o frango brasileiro - e as rigorosas normas ambientais europeias.

Eles acusam o governo de Emmanuel Macron de encarecer a produção com impostos ao mesmo tempo em que sofrem pressão de industriais e varejistas para vender a preços baixos.

Até a semana passada, os protestos de agricultores já haviam se espalhado por diversos países da Europa. Iniciadas de forma isolada, as mobilizações também foram registradas nos Países Baixos (Holanda), Alemanha, Bélgica, Polônia, Romênia e Itália na maior manifestação de produtores da história recente.

Segundo informações não confirmadas, taxistas, caminhoneiros, pescadores e trabalhadores da construção civil juntaram-se aos agricultores para protestar.

Tensão em Paris
Para evitar o cerco de tratores à capital francesa e caos no trânsito, o governo mobilizou 15 mil policiais e alertou que não permitirá o bloqueio das vias de acesso a aeroportos e à central de abastecimento de Rungis, na região parisiense.

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As medidas anunciadas na sexta-feira (26) pelo primeiro-ministro Gabriel Attal foram consideradas insuficientes, apesar de atender a manutenção da vantagem fiscal sobre o óleo combustível dos tratores.

O chefe de governo se reúne nesta segunda-feira (29) com líderes de sindicatos do setor para avaliar novas medidas, mas os agricultores mantêm a pressão, com um plano de bloquer oito estradas e rodovias de acesso a Paris. Os sindicatos agrícolas planeiam bloquear as autoestradas com até 2,5 mil tratores.

Os manifestantes querem interromper o abastecimento alimentar da cidade “durante pelo menos 5 dias, o que deixará claro aos parisienses que precisam de agricultores”

A cidade tem apenas três dias de estoque de alimentos para abastecer a população.

O "cerco a Paris", convocado pela Federação Nacional dos Sindicatos de Agricultores da França (FNSEA) e pelo sindicato Jovens Agricultores, é manchete na imprensa por todo o mundo.

"A tensão cresce entre os agricultores e o Executivo", constata o jornal Le Figaro. Hoje, inclusive, Macron disse à Comissão Europeia que é “impossível” concluir as negociações para um acordo de livre comércio com o Mercosul e exigiu que elas fossem encerradas.

Frango é símbolo da revolta
O jornal Le Parisien traz a manchete “Operação cerco a Paris” e mostra que a crise envolvendo os produtores franceses de frango simboliza a revolta atual.

Mais de 50% do frango consumido na França é importado, devido à falta de competitividade do produto nacional. "Isto representa € 1,5 bilhão de importações por ano", destaca a reportagem.

Os agricultores consideram essa situação paradoxal, já que os franceses nunca consumiram tanto esse produto: 22,5 kg anuais por habitante. O frango inteiro tradicional já não interessa mais ao consumidor, que prefere o corte do filé em bandeja.

Polônia, Alemanha, Holanda e Bélgica aumentaram substancialmente a produção da ave e ganharam mercado no exterior com esse corte. Além disso, os franceses enfrentam a concorrência do frango proveniente do Brasil e da Tailândia. Eles, inclusive, acusam os competidores de usar hormônio de crescimento, o que não existe. 

Fonte: PORTAL GHF