Ações de cooperativa no Pará promovem impactos positivos no desenvolvimento rural local

Publicado no dia 21/11/2023 às 11h32min
Impactos melhoraram a geração de renda, possibilitaram a construção e manutenção de estradas para escoar a produção e o estabelecimento da comercialização de produtos florestais madeireiros e não madeireiros.

Produtos produzidos a partir do latex

Uma pesquisa sobre ações de resiliência da rede sociotécnica da Flona Tapajós da região Amazônica, realizada em uma cooperativa de produção florestal sustentável, na Floresta Nacional do Tapajós, no Pará, a Cooperativa Mista da Flona Tapajós (Coomflona) fundada em 2005 por agricultores familiares e indígenas da região, atualmente com mais de 260 cooperados, analisou o processo de inserção comercial de produtos sustentáveis produzidos por produtores familiares da região, participantes de uma rede constituída por múltiplas instituições. Conclui-se que o conjunto de ações desenvolvidas fortaleceu a coesão e a governança social, proporcionou um ambiente propício à melhoria da renda dos produtores familiares.  

De acordo com Deusa Nobre, engenheira florestas e uma das autoras da pesquisa, os principais impactos positivos foram a geração de renda, a construção e manutenção de estradas para escoar a produção e o estabelecimento da comercialização de produtos florestais madeireiros e não madeireiros. Parte da produção é destinada ao consumo e a outra é vendida na própria residência do produtor, ou no caso de produtos florestais não madeireiros, são entregues para a cooperativa, como por exemplo, o artesanato produzido a partir do látex da seringueira. A experiência desenvolvida apresenta impacto ambiental e social positivo relacionado à redução do desmatamento.

“Durante a pesquisa de natureza qualitativa foram realizadas visitas e entrevistas com produtores e técnicos da rede sociotécnica, buscando entender quais são as ações adotadas pela cooperativa, isoladas ou em rede de cooperação que promovem impactos positivos no desenvolvimento rural local das comunidades, além de verificar como ocorre a interação entre atores locais e a construção de estratégias coletivas, explica Nobre.

De acordo com a pesquisadora da Embrapa Meio Ambiente, Lucimar Santiago de Abreu, atualmente, ainda são poucos os estudos que tratam da questão da emergência de novas configurações de redes sociais ou coletivos, denominadas redes alimentares alternativas ou simplesmente redes sociotécnicas, orientadas para a segurança alimentar e nutricional, bem como para o fortalecimento da sustentabilidade em distintos biomas, promovendo ações de resiliência social do grupo. 

A área de estudo está no âmbito da Floresta Nacional do Tapajós, no município de Belterra, na região Oeste do Estado do Pará. A Flona Tapajós possui uma área de 527 mil hectares, com aproximadamente 1100 famílias distribuídas em 24 comunidades. Criada pelo Decreto nº. 73.684 de 19/02/1974, o nome da Floresta Nacional é decorrência do Rio Tapajós. Este, por sua vez, faz referência ao povo indígena que ali existiu, denominado Tapajós. A Floresta é definida pelo Sistema Nacional de Unidade de Conservação (SNUC) como categoria de uso sustentável, tem por objetivo compatibilizar a conservação da natureza com o uso sustentável dos recursos naturais, portanto, permite a presença de população tradicional em seu interior. 

A pesquisadora da Embrapa explica que o sistema de produção é baseado no extrativismo – retira-se da floresta a matéria prima para a produção de artesanato, alimentos e para fins medicinais. “Para a produção de alimentos, a pesquisa mostrou que todos os participantes aprenderam com seus pais a manejar a terra, explica a pesquisadora. Eles desmatam o tamanho da área que é liberada pelo órgão gestor, em seguida queimam e por último fazem o plantio da cultura desejada, que geralmente é a mandioca para a produção da farinha, enfatiza ela”. 

A busca pela autonomia, autogestão e o empoderamento dos grupos, através de cooperativa e da rede sociotécnica, estimula a participação da população local na gestão de unidades de conservação, além de ser forte aliada na fiscalização dessas áreas. Dentro dos grupos sociais ou comunidades, o cooperativismo emerge como estratégia de desenvolvimento socioeconômico para os habitantes da Flona Tapajós. A articulação dos grupos tem demonstrado aliada na busca da inclusão socioeconômica e na preservação ambiental de unidades de conservação, diz Abreu. 

Os cooperados das comunidades de São domingos, Maguari e Jamaraquá são em sua maioria produtores familiares, outros, além de agricultores, são artesãos, extraem da floresta látex da seringueira que é utilizado para a produção de artesanato (bolsas, sandálias, colares, entre outros), com relação à produção de alimentos produzem a farinha de mandioca, polpa de tapereba, caju e cupuaçu.

O estudo também mostrou que o principal produto florestal é o látex da seringueira, utilizado para a produção de artesanato. Parte dessa produção é entregue para a cooperativa e a outra fica nas comunidades para ser vendida para turistas ou grupos de indivíduos que visitam a região. Para expandir a comercialização na época das chuvas, uma sugestão seria a venda pela internet. 

Com relação aos impactos ambientais relacionados ao manejo florestal, segundo os entrevistados, ele é reduzido, pois seguem todas as regras previstas na legislação. São regras impostas pelos órgãos competentes, as quais se não forem respeitadas correm o risco de não conseguirem mais autorização para trabalhar no manejo florestal. 

A Coomflona é uma cooperativa de produção florestal sustentável, localizada na Floresta Nacional do Tapajós, no Pará. Conta com mais de 260 cooperados, que atuam na extração de madeira, látex, óleos vegetais e outros produtos florestais não madeireiros. Os produtos da cooperativa são comercializados diretamente para o mercado, sem a intermediação de atravessadores. Adota práticas de manejo florestal sustentável, que contribuem para a conservação ambiental da região. A cooperativa tem demonstrado que é possível conciliar a conservação ambiental com a geração de renda para a população local. Atua na extração de madeira, látex, óleos vegetais e outros produtos florestais não madeireiros. Os produtos são comercializados diretamente para o mercado, sem a intermediação de atravessadores, o que garante uma renda mais justa aos produtores. Em março de 2017, a cooperativa inaugurou a movelaria “Anambé” que fabrica móveis com madeiras obtidas do aproveitamento dos resíduos da colheita florestal. 

A experiência tem como parceiros a Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa), Instituto de Floresta Tropical (IFT), Embrapa, Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater), Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMbio), Ministério do Meio Ambiente (MMA), Instituto Internacional de Educação do Brasil (IEB), Amazon Alternative , Federação Flona Tapajós, Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora), e o Serviço Florestal Brasileiro (SFB).

O estudo foi apresentado no 10º Encontro da Rede de Estudos Rurais, em agosto de 2023, na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), com o tema: “Terra, fome e poder: desafios para o rural contemporâneo”. 

Cristina Tordin (MTB 28499/SP)
Embrapa Meio Ambiente

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Fonte: Embrapa